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segunda-feira, 10 de junho de 2019

"Francisco está tratando a ''doença'' interna da Igreja. Editorial do National Catholic Reporter"

“Francisco pode não agradar a todos os grupos de interesse na comunidade eclesial. Ele pode cometer erros. No entanto, ele não tem nenhuma intenção de se encolher diante da difícil tarefa de mudar uma cultura profundamente entrincheirada.” Segundo o editorial, "A doença, adquirida ao longo dos séculos, não é facilmente curada. É encorajador ver Francisco começar o trabalho e convidar o restante de nós para participar".Eis o texto.: Com o Papa Francisco, a comunidade católica está reaprendendo tanto os limites do poder papal quanto o alcance persuasivo do imaginário e do simbolismo papais. Já vimos este último antes, especialmente durante o reinado do Papa João Paulo II. Ele não tinha nenhum mandato global de nenhum órgão mundial, mas sua presença e suas ações no cenário mundial contribuíram para mudanças históricas tanto no âmbito civil quanto religioso. Ele enfrentou o comunismo de uma maneira única e sempre encarnou as palavras da Nostra aetate, o documento que reforma a relação da Igreja com as religiões não cristãs, em uma realidade inconfundível com gestos ousados de cooperação com outras religiões mundiais.
Esse exemplo teria sido impossível sem o trabalho pioneiro do Vaticano II, o Concílio plurianual do início dos anos 1960 que lançou as bases para a reforma em curso. A sabedoria atual muitas vezes sustenta que os jovens católicos não têm nenhuma memória desse Concílio, que estão além de seus argumentos e tensões, e que estão acostumados a se mover em uma realidade católica mais plácida. Eles podem não ter os mesmos “problemas” que seus pais e avós, mas não se enganem, eles estão vivendo os frutos desse Concílio de um modo que seus antepassados só poderiam imaginar.
Embora João Paulo II tenha estabelecido a Igreja como uma força global de uma nova maneira, ele deixou a instituição dividida e em desacordo consigo mesma. Como revela o desmascaramento da cultura hierárquica, ele também deixou uma Igreja profundamente corrupta e comprometida em seus níveis mais altos.
Francisco carrega o fardo de efetuar uma mudança interior, de chegar às reformas dos tecidos moles que exigem os instintos de um pastor instruído nas questões do coração humano. É, de longe, a tarefa mais difícil, porque requer repensar, no seu nível mais fundamental, o que significa ser um clérigo ordenado na Igreja Católica Romana e o que significa ser católico.
Se, no cenário global, João Paulo II foi para onde os papas não haviam ido anteriormente, Francisco está se aproximando da reforma da vida interior da Igreja de um modo que está abalando o sistema. Basta ler sobre uma nova proposta de constituição apostólica sobre a reforma da Cúria. Ela enfatiza o serviço e a necessidade de incluir os leigos, especialmente as mulheres, no governo da Igreja.
Em uma análise, o eclesiologista Richard Gaillardetz escreve: “No prólogo da constituição, já encontramos aquele que será o tema geral do documento, sua reconcepção do trabalho da Cúria como um exercício não de dominação e controle, mas sim um serviço cristão inspirado no ministério do lava-pés de Jesus”.
O que resta saber é como os bispos no mundo inteiro estão reagindo à constituição, ao receberem cópias da proposta. Mas a linguagem é a do reformador que, diz-se, na semana antes de ser eleito papa, selou seu destino com uma conversa com seus colegas cardeais que diagnosticou a “doença” da Igreja enraizada em uma preocupação com a autopreservação.
“Os males que, ao longo do tempo, se dão nas instituições eclesiais têm raiz na autorreferencialidade, uma espécie de narcisismo teológico”, disse ele. “No Apocalipse, Jesus diz que está à porta e chama. Evidentemente o texto se refere ao fato de que ele bate do lado de fora da porta para entrar. Mas penso nas vezes em que Jesus bate a partir de dentro para que o deixemos sair. A Igreja autorreferencial quer Jesus dentro de si e não o deixa sair.”
Ele descreveu duas imagens da Igreja, uma Igreja que “sai de si mesma” e outra, “a Igreja mundana, que vive em si, de si, para si”. A saída – evangelização –, em sua construção, significava “ir às periferias, não só as geográficas, mas também às periferias existenciais: as do mistério do pecado, as da dor, as da injustiça, as da ignorância e indiferença religiosa, as do pensamento, as de toda a miséria”.
A ironia, é claro, é que o requisito para tal saída – não se trata da evangelização de acumular almas recém-conquistadas – seria uma mudança profunda não apenas das estruturas dominantes na Igreja, mas também e mais importante uma mudança de coração daqueles que habitam tais estruturas.
Meio século depois, estamos trabalhando nos níveis mais profundos da reforma do Vaticano II. Então, um papa em um avião é capaz de dizer o que antes seria impensável: “A tradição da Igreja está sempre em movimento. A tradição não protege as cinzas”. Francisco pronunciou essas palavras recentemente em uma pungente repreensão dos “fundamentalistas” católicos que anseiam “salvaguardar as cinzas”. A tradição, ao contrário, disse ele, “é a garantia do futuro”.
Ele está se voltando contra a ideia que se desenvolveu (e em um grau absurdo nos Estados Unidos) e que iguala a tradição a uma estranha lista de ortodoxias que se tornaram determinantes para alguns segmentos da Igreja para saber se um indivíduo pode ser contado dentro ou fora da comunidade.
Francisco mudou a imagem de comunidade, abandonando aquela que tem fronteiras rígidas e bispos que patrulham as fronteiras e indo rumo a uma comunidade em movimento e acompanhamento. Ele está nos movendo para longe de um Deus das transações rumo a um Deus da transformação.
A necessidade foi entendida há muito tempo. Em um estranho exemplo em que a arte precede a vida, o romancista Morris West, em “O milagre de Lázaro”, um de seus romances papais, retrata um cardeal que chegou a uma avaliação pessoal da sua carreira, tendo uma conversa franca com um papa recém-aberto ao diálogo, enquanto este está prestes a passar por uma grande cirurgia do coração, com quem fala sobre a fracassada abordagem hierárquica.
“Você e eu, todos nós, a Cúria e a hierarquia, somos os produtos quase perfeitos do nosso sistema romano”, diz o cardeal ao papa. “Nós nunca lutamos contra isso. Nós marchamos com isso em cada passo do caminho. Cauterizamos as nossas emoções, endurecemos os nossos corações, tornamo-nos eunucos por amor a Deus! (...) e em algum lugar ao longo do caminho, muito cedo eu acho, perdemos a simples arte de amar.”
As pessoas, disse ele, “querem cuidado, compaixão, amor e uma mão para guiá-las para fora do labirinto. Você faz isso? Eu faço isso? Eu acho que não”.
A ameaça existencial contra a qual West define o seu personagem principal nesse romance de 1990 era um grupo islâmico radical. A ameaça existencial mais iminente para a Igreja hoje é a evidente corrupção nas culturas clericais/hierárquicas.
Francisco pode não agradar a todos os grupos de interesse nessa comunidade estridente e dividida. Ele pode cometer erros. No entanto, é claro que ele não tem nenhuma intenção de se encolher diante da difícil tarefa de mudar uma cultura profundamente entrincheirada. Ele permitiu que a comunidade se entretivesse com questões perturbadoras, mesmo que fundamentais. O que é a tradição legítima? O que da tradição alimenta? Quais são as cinzas que devemos deixar para trás? A ficção, talvez, antecipou as grandes questões. Mas ela não contém as respostas.
A doença, adquirida ao longo dos séculos, não é facilmente curada. É encorajador ver Francisco começar o trabalho e convidar o restante de nós para participar.
Publicamos aqui o editorial do jornal National Catholic Reporter e no Site Caminho Político. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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