
Na sociedade só é possível um líder. Mais de um vai criar divisão interna, pontos de vista diferentes e pode levar a comunidade ao caos. Por isso o líder mais velho não pode de forma alguma admitir a existência de um concorrente. Nem que seja preciso matá-lo. Por isso a abelha rainha vigia o tempo todo se uma nova rainha não está para nascer. Todas as operárias podem se tornar rainhas, basta que sejam alimentadas com uma boa quantidade de alimento rico em vitamina E, como a geleia real, que é produzida pela operária e não pela rainha como se imagina. Assim ao despontar uma nova rainha, a velha não perde tempo, usa o seu ferrão, que mais parece um sabre, e mata a futura rival. Não tem para ninguém. Quando um criador de abelhas precisa trocar uma velha rainha por uma nova, ele tira a primeira e aguarda alguns dias antes de depositar a nova. Se fizer isso imediatamente, as operárias se agrupam e matam a nova líder da colmeia. É necessário que a comunidade sinta a falta de uma liderança para aceitar uma estrangeira ainda que jovem. Nesse período, dizem os apicultores, ouve-se um choro das operárias na colmeia.
De volta ao mundo corporativo. Demitir um líder que tem o controle da máquina e do time e imediatamente substituí-lo por outro recém-contratado é um risco. Os liderados, ainda que queiram manter os empregos, vão estranhar. É inevitável uma comparação do novo com o velho líder. Na maioria das vezes o que saiu é melhor do que o que chegou. Críticas disfarçadas são trocadas entre os liderados e os erros do novo líder são amplificados. Não seria o caso da empresa imitar as abelhas e deixar um espaço entre a saída do velho líder e a introdução do recente? Os líderes não querem perder os cargos, remunerações extras, regalias e acima de tudo a obediência de todo o seu time. É cioso disso tudo e até confunde sua própria existência neste planeta com a posição que ocupa. Muitos não são capazes de viver sem o cargo, por isso, ao serem trocados, entram em profunda depressão e buscam o apoio de renomados coaches ou head hunters. Por isso o líder encastelado no poder vive todo o tempo possível vigiando os liderados para tentar identificar se entre eles existe algum que possa ocupar a sua função. O manual de gestão reza que todo líder deve treinar alguém para substituí-lo. Será que isso acontece na maioria das corporações ou lança-se mão do exemplo da velha abelha rainha?
Heródoto Barbeiro é editor chefe e âncora do Jornal da Record em multiplataforma.
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