
Ele, porém, disse que não se trata de "dar um filé mignon" a Eduardo, mas sim de "aprofundar um relacionamento com um país que é a maior potência econômica e militar do mundo". Esta foi a terceira vez que o presidente se manifestou publicamente sobre a intenção de indicar o filho para o posto em Washington.
O presidente rebateu o que chamou de "crítica pela crítica" e disse ainda que não tem o receio de perder eleitores por causa dessa decisão. "Quem diz que não vai votar mais em mim, paciência! Em algumas coisas, vou desagradar vocês", disse.
Bolsonaro disse que não vê a nomeação para o cargo como um prêmio, além de considerar Eduardo preparado para a função. Ele afirmou que, se fosse uma pessoa "sem princípios", nomearia o filho para um ministério com grande orçamento.
No mesmo dia, durante uma cerimônia no Palácio do Planalto que marcou os 200 dias de seu governo, o presidente também falou sobre a questão, inclusive sugerindo que se a indicação de Eduardo não for aprovada no Senado, ele poderia nomear o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para a embaixada dos EUA e colocar Eduardo no Ministério.
O presidente disse que a função do embaixador é ser um "cartão de visitas" do país e ressaltou a proximidade de Eduardo com a família do presidente dos EUA, Donald Trump.
"Imagina se o [presidente da Argentina, Mauricio] Macri tivesse um filho embaixador aqui", exemplificou. "Eu atenderia agora ou pediria ao ajudante de ordem para marcar uma data futura? Atenderia agora", disse Bolsonaro.
Especialistas criticam indicação
A indicação de Eduardo Bolsonaro foi contestada por veteranos e especialistas em diplomacia, como Paulo Roberto de Almeida, que atuou como ministro-conselheiro na embaixada em Washington entre 1999 e 2003. "É uma quebra de padrão diplomático jamais vista na diplomacia brasileira e possivelmente nos anais da diplomacia mundial", disse.
"Um presidente confiar a seu filho uma função importante – e o Brasil não tem nenhum embaixador mais importante do que o de Washington – seria impensável num Estado europeu. Aqui, não se falaria de uma relação especial de lealdade e confiança, mas sim de falta de transparência e nepotismo", afirmou o cientista político Thomas Jäger, da Universidade de Colônia, à DW Brasil.
Alexander Schmotz, da Universidade Humboldt, em Berlim, considera a indicação "estranha". Para ele, o mais problemático nem é o suposto nepotismo, ou seja, o beneficiar-se do cargo do pai de forma pessoal e lucrativa.
"O que chama a atenção é que conhecemos um procedimento desses antes em autocracias. O motivo por que isso ocorre com tanta frequência em não democracias, contudo, não é a multiplicação da fortuna familiar, mas o fato de os líderes autocráticos serem – e terem que ser – naturalmente desconfiados." Assim, laços familiares seriam uma certa garantia prévia de confiança.
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), avalia que o caso configura nepotismo porque, segundo ele, a Constituição descarta a possibilidade de o presidente nomear o próprio filho.
RC/ots/dw/cp
Nenhum comentário:
Postar um comentário