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segunda-feira, 28 de outubro de 2019

"'É importante ter coragem', diz italiano Domenico De Masi sobre o momento"

Em entrevista exclusiva ao Correio, o pensador italiano se diz otimista diante do futuro próximo, mas alerta sobre a necessidade de um olhar humanista diante da tecnologia. Como compreender o mundo tão cheio de desorientações? Esta e outras questões contemporâneas, como o avanço predatório das notícias falsas, o medo, o ódio e a busca pela felicidade foram analisadas pelo pensador italiano Domenico De Masi. Professor emérito de sociologia do trabalho na Università “La Sapienza” di Roma, De Masi falou com exclusividade ao Correio sobre seu mais recente trabalho, O mundo ainda é jovem.
O livro é resultado de conversas com a jornalista Maria Serena Palieri, que foca o futuro próximo e a importância de se ter coragem para enfrentá-lo.“Para se opor à arrogância, é necessária uma coragem inflexível; para educar a ignorância, é necessária coragem missionária; para erradicar a burocracia, precisamos de uma coragem irônica; administrar a democracia requer coragem organizada”, destaca.
Por que estamos tão desorientados em plena era tecnológica? Somos reféns de um vazio existencial absurdo... Qual a saída do homem moderno?
Disse Sêneca, antigo filósofo romano: “Nenhum vento é favorável para o marinheiro que não sabe para onde quer ir”. A tecnologia pode nos levar longe, mas não sabemos em que direção e para qual objetivo direcioná-la. Todas as sociedades anteriores — o Sacro Império Romano, estados islâmicos, estados liberais, sociedade industrial, estados comunistas — surgiram com base em um modelo conceitual preexistente, como o Evangelho, o Alcorão, as teorias liberais ou marxistas. Somente a sociedade pós-industrial atual é derivada da sociedade industrial sem ter um modelo teórico para se conformar. Na ausência desse modelo, é impossível distinguir o que é bom do que é mau, o que é belo do que é feio, o que é verdadeiro do que é falso, o que é vivo e o que está morto. É aqui que nossa desorientação surge.
Afinal, o que significa a pós-ideologia?
Significa, precisamente, a falta de um modelo filosófico, sociológico e político, um padrão cultural de referência. Sem ideologia, fingimos ser mais livres, mas, na realidade, estamos mais desorientados.
Esse mundo tecnológico está padronizando o ser humano, transformando-o em manada. Em seu novo livro, o senhor dá o exemplo de como a tevê impactou os costumes e o linguajar de sua aldeia no século 20. Estamos vivendo isso agora com a tecnologia em escala mundial?
A tecnologia muda nosso senso de tempo e espaço. Se, com 18 séculos de diferença, Augusto e Napoleão quisessem cobrir a rota entre Roma e Paris, ambos teriam levado uma semana, pelo menos. Para nós, hoje, sem os privilégios dos imperadores, leva apenas algumas horas. Anos atrás, ninguém imaginaria que alguém poderia ir do centro do Rio para o centro de São Paulo em minutos; hoje, graças ao avião, isso é possível. Mas não há apenas o avião: há a ciência da computação com a qual o mundo inteiro está se transformando em uma única ágora, um único quadrado em que tele-aprendemos, tele-trabalhamos, tele-amamos, tele-divertimos. Além disso, o século 21 será marcado pela engenharia genética com a qual superaremos muitas doenças, pela inteligência artificial com a qual substituiremos muito trabalho intelectual, pelas nanotecnologias com as quais os objetos se relacionarão entre si e conosco, a partir das impressoras 3D, com as quais construiremos casa, objetos. Em breve, seremos capazes de produzir carne de frango e de porco sem matar animais, a partir de suas células. Duas empresas monopolizarão todas as sementes necessárias para a agricultura mundial.
Um dos efeitos positivos dos tempos modernos é o prolongamento da vida... Bisavós, avós, pais e filhos convivendo num mesmo espaço de tempo. Mas como fica esse conflito de gerações?
Na próxima década, a população mundial chegará a oito bilhões: não apenas oito bilhões de bocas para alimentar, mas também oito bilhões de cérebros com os quais vamos resolver problemas e inventar novos mundos, novas empresas, novas necessidades, novos produtos e novos serviços. Cinco bilhões de pessoas, ou 63% da população mundial, viverão na cidade. Poderemos viver até 788.000 horas, em comparação com os atuais 727.000. Viverão mais as pessoas mais escolarizadas e com relações sociais mais intensas. Os idosos com mais de 65 anos serão 910 milhões em comparação com os atuais 420 milhões. Os conceitos de paternidade, maternidade, parentesco e filiação serão mais incertos.
Atualmente, os avós e os pais são “analógicos”, enquanto os filhos e netos são “digitais”. Nas empresas, nas escolas, no exército, na igreja, os vértices são compostos de análogos e as bases são compostas de digital.
Por analógico, quero dizer predominantemente indivíduos e adultos mais velhos, empregados, não acostumados à ciência da computação, virtualidade e mídia social, que rejeitam diversidade, multirracialidade e interculturalidade, que defendem a desigualdade de gênero e o machismo. Eles temem os efeitos do progresso, dão ao trabalho uma importância crucial, têm uma atitude diferente em relação à liberdade sexual.

Por digital, quero dizer predominantemente jovens, muitas vezes desempregados ou precários, que tendem a ser menos pessimistas que os análogos, não acreditam em um crescimento infinito da economia, estão familiarizados com a tecnologia da informação e a virtualidade, assumem a globalização como certa, aceitam a diversidade, a multirracialidade e a interculturalidade, defendem a igualdade de oportunidades, são sensíveis à ecologia e à sustentabilidade, tendem a criar comunidades sociais pela Internet, têm uma atitude casual em relação à sexualidade.
Aos 81 anos de idade, o que o senhor destacaria de avanço da humanidade entre os séculos 20 e 21; e o que seria retrocesso?
O século 21 é melhor que o século 20 para o maior poder da tecnologia e a maior liberdade das mulheres. É pior em termos de comunicação devido a notícias falsas.
O senhor é uma pessoa nostálgica? A nostalgia é um mal moderno?
A nostalgia não é um mal individual, mas um sentimento universal e perene. Todos temos momentos de saudade. Isso é humano.
E a depressão? Há pessoas deprimidas em todos os níveis sociais. Por quê?
A depressão é uma doença que não depende do nível social, mas de experiências decepcionantes e da dificuldade de esquecê-las ou transformá-las em estímulos vitais.
No livro, o senhor fala também de desorientação sexual (“o homem passou milhares de anos acostumado a ser o caçador, com a mulher forçada a agir como presa”). E agora? Chegaremos a igualdade gênero?
Em 2030, as mulheres viverão três anos a mais que os homens. Nos EUA, elas controlarão dois terços de toda a riqueza. Sessenta por cento dos estudantes universitários, 60% dos graduados e 60% dos titulares de mestrado serão mulheres. Muitas mulheres se casarão com um homem mais novo que elas. Muitas terão um filho sem ter marido. Por tudo isso, as mulheres estarão no centro do sistema social e serão tentadas a administrar seu poder com a dureza que deriva dos erros sofridos nos 10 mil anos anteriores. Os valores “femininos” (estética, subjetividade, emoção, flexibilidade) também colonizarão os homens. Nos estilos de vida, a “fluidez sexual”, a pansexualidade e o andrógino se espalharão.
Cada vez mais empresas digitais trabalham em “manipulações” de habilidades cognitivas, de socialização e de consumo. Como seria a contra onda desse poder?
Para combater o poder manipulador das empresas digitais, elas devem ser submetidas a uma autoridade mundial eleita democraticamente.
O senhor defende a importância do ócio como uma ideologia humanista, mas vivemos um mundo cada vez mais competitivo e de bolhas egocêntricas. É possível reverter tudo isso?
Não acredito que o egocentrismo e a competitividade aumentem no mundo. Milhões de jovens manifestam-se pela salvação ecológica do planeta, contra o consumismo e as injustiças. Quanto ao lazer, graças à tecnologia e à globalização, podemos produzir cada vez mais bens e serviços com menos e menos mão de obra humana. Isso envolve um aumento contínuo do tempo livre que um número crescente de pessoas poderão dedicar-se à introspecção, à brincadeira, à beleza e ao convívio.
Vivemos um momento histórico em que o medo e o ódio são ferramentas políticas e ideológicas. Quais as consequências desse discurso e como enfrentá-las com leveza e sensibilidade?
O medo e o ódio têm sido ferramentas políticas e ideológicas em todos os períodos históricos. Pense no medo de epidemias e desastres ecológicos na sociedade rural. A novidade atual consiste na possibilidade de expandir o medo e o ódio através da mídia e da mídia social. Portanto é necessário usar a mídia e a mídia social de maneira igual e contrária, a fim de neutralizar o medo e o ódio.
Por favor, defina a palavra “coragem”?
Coragem é um conceito que reflete (reage ao) o medo. É a força necessária para acolher o diferente, domesticar o difícil, desvendar o complexo, decifrar o desconhecido. Para evitar astúcia, é necessária uma coragem sutil; para se opor à arrogância, é necessária uma coragem inflexível; para educar a ignorância, é necessária coragem missionária; seguir o líder requer coragem dedicada; para neutralizar a trivialidade, é necessária uma coragem refinada; para erradicar a burocracia, precisamos de uma coragem irônica; administrar a democracia requer coragem organizada; para ignorar a ofensa, precisamos de coragem magnânima.
Existe uma coragem que exige respeito: a nobreza do herói, o talento do artista, a grandeza do gênio, a segurança do cirurgião, o valor do profissional, a iniciativa empreendedora do empreendedor, a magnanimidade de quem perdoa.
Há uma coragem que desperta surpresa: a ousadia de Don Giovanni, a bravura do espadachim, a imprudência do andador na corda bamba, a segurança do dançarino, o sangue frio do ladrão, a abnegação do socorrista, a visão do conhecedor, a extravagância do dândi, a negociação imprudente do comerciante, o blefe calculado do jogador de pôquer.
Há uma coragem que exige prudência: a resolutividade do irresponsável, a engenhosidade dos autodidatas, a indiscrição do pedante, a indiscrição do temerário, a irreverência dos indisciplinados, a arrogância dos eruditos, o orgulho dos primeiros da classe.
Há uma coragem que merece desprezo: a arrogância do padrinho, a presunção do incompetente, a arrogância dos mais fortes, a imprudência dos ignorantes, o insulto dos ímpios, a face do adulador, a grosseria dos rudes, a insolência do belo, a arrogância dos que chegaram, a arrogância dos eruditos.
Por que a distopia tomou lugar da utopia? O homem será feliz?
Não creio que a distopia tenha tomado o lugar da utopia. Não sei se o homem será feliz; eu sei que o homem sempre buscará a felicidade e que somente aqueles que farão os outros felizes a encontrarão. Como Karl Marx disse: “A experiência define o homem que fez o maior número de outros homens felizes. Se escolhemos na vida uma posição na qual podemos trabalhar melhor para a humanidade, nenhum peso pode nos dobrar, porque sacrifícios são para o benefício de todos; então não sentiremos uma alegria mesquinha, limitada e egoísta, mas nossa felicidade pertencerá a milhões de pessoas, nossas ações viverão silenciosamente, mas para sempre”.
O mundo ainda é jovem — Conversas sobre o futuro próximo com Maria Serena Palieri
De Domenico De Masi. Editora Autêntica. Número de páginas: 288. Preço sugerido: R$ 49,80.
José Carlos Vieira/Caminho Político

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