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terça-feira, 31 de março de 2020

"A preciosa definição de fortaleza de Erich Fromm"

A revolução da esperança é uma obra do psicólogo e filósofo humanista Erich Fromm, escrita em plena febre de fins dos anos 1960, os anos da Primavera de Praga, do Maio Francês e o início do movimento hippie nos Estados Unidos, entre outros movimentos sociais, marcadamente juvenis, que suscitaram o entusiasmo de muitas outras pessoas em todo o mundo por seu espírito renovador. Nessa efervescência, Fromm escreveu este ensaio extenso, tentando localizar o lugar que a esperança tinha naquela época. Uma palavra especialmente significativa que, no entanto, em poucos anos acabou um pouco desgastada. Com efeito, o livro foi publicado originalmente nos Estados Unidos, em 1968, pouco depois que a população daquele país elegeu Richard Nixon como presidente da nação, candidato do Partido Republicano que, entre outras decisões de aspecto conservador ou francamente reacionário, determinou a continuidade da Guerra do Vietnã. Naquele processo eleitoral, Fromm apoiou Eugene McCarthy, político e poeta que buscou a candidatura do Partido Democrata e cuja agenda era essencialmente pacifista e humanista (daí a colaboração convencida de Fromm).
Com o triunfo de Nixon, Fromm se sentiu bastante decepcionado com o desenvolvimento da sociedade estadunidense, em particular pelo medo da liberdade que parecia dominá-la (uma ideia, por certo, também muito própria do filósofo). Diante da possibilidade de assumir uma mudança de paradigma importante, parece que os estadunidenses da época se intimidaram e preferiram apostar no já conhecido (mesmo que isso não fosse totalmente satisfatório).
Seja como for, em A revolução da esperança, Fromm desenvolveu algumas das ideias e temas a respeito da “condição humana” que mais o inquietaram ao longo de sua vida intelectual. Sempre preocupado com o pleno desenvolvimento do ser humano, Fromm abordou em sua obra a maneira como a esperança contribui ou detém tal desenvolvimento.
No que diz respeito ao elemento que nos ocupa neste espaço, a fortaleza, Fromm a dedicou uma das análises mais pontuais e claras, não apenas deste livro, como também do pensamento humanista em geral.
Como se sabe, a fortaleza possui uma importante linhagem na história das correntes e tradições filosóficas, espirituais e de cultivo do ser humano. No cristianismo, por exemplo, foi considerada uma das quatro virtudes cardeais, e na filosofia, de Aristóteles aos estoicos, foi qualificada como uma das atitudes mais desejáveis no ser humano, necessária para enfrentar os desafios próprios da existência.
Fromm, por sua parte, alinha a fortaleza à esperança e a fé e sobre ela diz que é um dos elementos que dão estrutura à vida. Nem mais, nem menos. E embora inicialmente o psicólogo tenha preferido falar em coragem (no sentido de “valentia”), ao final, em seu texto, optou por utilizar o termo fortaleza, que tomou de Spinoza, para se referir àquilo na forma de ser de uma pessoa que a leva a ter valor para viver. Acima de tudo, como se diz, é mais necessária intrepidez para responder à vida do que para enfrentar a morte.
E é justamente nesse sentido que Fromm distingue três formas de fortaleza. Nas duas primeiras, uma pessoa parece forte para encarar certos desafios, mas só porque não tem amor à sua vida ou, em segundo lugar, teme tanto a um ídolo que adora (o “Senhor” a respeito do qual falaram Hegel, Kojève e Lacan), que se atreve a qualquer coisa para não o desobedecer.
Nesses dois casos, a fortaleza é muito mais ilusória, pois não se trata de uma qualidade inerente à pessoa, que lhe seja autêntica ou que seja resultado de seu desenvolvimento, mas, ao contrário, é uma reação circunstancial de medo à vida em si (e os desafios que esta apresenta): medo de caminhar por si mesmo, medo de desafiar o ‘Senhor’, medo de colocar em jogo os recursos próprios, medo de se arriscar... Que tipo de ‘valentia’ pode ser essa?
A essas formas um tanto duvidosas de fortaleza, Fromm opõe uma terceira que, como em outros dos conceitos que desenvolve, tanto nesta como em outras obras, está em relação direta com o pleno desenvolvimento do ser humano. Escreve Fromm:
“Encontramos a terceira espécie de intrepidez na pessoa totalmente desenvolvida, que descansa em si mesma e ama a vida. Quem se sobrepôs à avidez não adere a nenhum ídolo ou coisa e, pelo mesmo, não tem nada a perder: é rico porque nada possui, é forte porque não é escravo de seus desejos. Tal tipo de pessoa pode prescindir de ídolos, desejos irracionais e fantasias, porque está em pleno contato com a realidade, tanto interna como externa. E quando chegou a uma plena ‘iluminação’, então é de todo intrépida. Contudo, se avançou para sua meta sem a ter alcançado, sua intrepidez não será completa. Não obstante, seja quem for que busque avançar para o estado de ser ele mesmo plenamente, sabe que ocorre uma inconfundível sensação de força e de alegria, seja onde for que se dê um novo passo para a ousadia. Sente como se tivesse começado uma nova fase da vida. E desta sorte poderá experimentar a verdade da frase de Goethe: Ich babe mein Haus auf nichts gestellt, deshalb gehört mir die ganze Welt ['Coloquei a minha casa sobre o nada, tendo em vista que o mundo inteiro me pertence'].
Como dizíamos, a ideia de “pessoa totalmente desenvolvida”, mencionada por Fromm neste parágrafo, atravessa praticamente todas as suas obras (notavelmente em O medo à liberdade, Ter ou ser? e A arte de amar) e, nesse sentido, é possível dizer que se trata de uma noção capital no pensamento do autor. Fromm se refere a um momento da existência ao qual uma pessoa pode chegar após um trabalho consciente e constante sobre si mesma, por meio do qual descubra suas limitações e suas possibilidades, a história de vida que deu resultado ao que é, seus sonhos, seu desejo, seus temores... enfim, tudo aquilo que conforma a condição humana.
Fromm - que nesta aproximação ao ser humano segue a ampla tradição ocidental do autoconhecimento que vai de Sócrates a Sigmund Freud - defendeu em sua obra que somente quando uma pessoa conhece a si mesma alcança um grau importante de autonomia, pois se dá conta que possui os recursos suficientes como ser humano para viver, em toda a extensão da palavra, sem depender de outro, sem explorar os outros, sem esperar nada de ninguém, com plena consciência de sua finitude, sem temor da morte, nem da dor, etc.
Este, é claro, é um estado da existência que não apenas poucas pessoas alcançam, como também, além disso, menos ainda se interessam a buscar. Pelas próprias condições de nossa espécie (em particular, a ampla duração da infância do ser humano), o mais comum é que as pessoas repitam os padrões de dependência, irracionalidade e angústia em que se formaram, sem se preocupar em rompê-los e mudá-los.
No entanto, como podemos advertir do fragmento citado, a única maneira de rifar os desafios da existência e sair fortalecidos deles é sendo uma “pessoa totalmente desenvolvida”. De outro modo, as mudanças, as crises, os imprevistos e, em geral, tudo aquilo que dá sustento à vida, se experimenta com sofrimento, preocupação e inclusive, é possível dizer, com torpeza e ignorância, tudo o que nos faz padecer as experiências que vivemos, sendo que, ao contrário, estas poderiam ser sempre oportunidades de aprendizagem e crescimento.
A reportagem é publicada por PijamaSurf e Caminho Político. A tradução é do Cepat. Edição: Régis Oliveira

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