
Bolsonaro, que durante a semana havia desaconselhado a realização dos protestos de 15 de março após a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Planalto, mudou de postura neste domingo, estimulou os atos com postagens em redes sociais e até mesmo participou da manifestação em Brasília, rompendo assim o isolamento ao qual estava submetido.
O presidente deixou o Palácio da Alvorada de carro pouco depois do meio-dia, se dirigiu primeiro à Esplanada dos Ministérios, onde um ato era realizado, e depois percorreu outros pontos da capital federal. No Eixo Monumental, uma das principais vias da cidade, a comitiva de carros de Bolsonaro chegou a ser acompanhada pelos veículos que participavam de uma carreata.
Em seguida, o presidente foi até o Palácio do Planalto. Do alto da rampa, ele seguiu acompanhando a manifestação, com pessoas se aglomerando em frente ao prédio.Sem máscara, Bolsonaro então desceu para ficar mais próximo do público. Separado por grades, o presidente conversou, cumprimentou com toque e apertos de mão e tirou fotos com simpatizantes por pouco mais de uma hora.
"Não tem preço o que esse povo está fazendo. Apesar de eu ter sugerido [o adiamento por causa do coronavírus], não posso mandar, a manifestação não é minha", disse o presidente durante uma transmissão ao vivo pelo Facebook.
Na última quinta-feira, porém, em breve pronunciamento em rede nacional, o presidente voltou atrás, reconheceu a gravidade do coronavírus e pediu que as pessoas não saíssem às ruas – embora tenha defendido os movimentos como "legítimos" e a favor dos "interesses da nação".Na contramão de chefes de Estado e de governo de várias nações que recomendam à população que fique em casa, Bolsonaro passou a estimular os atos na manhã deste domingo, ao compartilhar diversos vídeos e fotos das manifestações pelo país, em capitais como Belém, Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro e Maceió, além de cidades do interior.Em Brasília, apoiadores do presidente foram aos protestos mesmo após um decreto do governo do Distrito Federal ter proibido eventos que reunissem público superior a 100 pessoas.
Com roupas e bandeiras verdes e amarelas, além de cartazes com frases contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), os manifestantes marcharam pela Esplanada dos Ministérios até o gramado em frente ao Congresso Nacional. Eles foram seguidos por uma carreata. A Polícia Militar do Distrito Federal não estimou o número de participantes.
Na cidade do Rio, o protesto ocorreu na Orla de Copacabana e reuniu milhares de pessoas, segundo a imprensa brasileira. Faixas traziam frases de apoio a Bolsonaro e ao ministro da Justiça, Sergio Moro, bem como contrárias ao Congresso e ao STF. "Fora Rodrigo Maia e companhia", dizia um dos cartazes, mencionando o presidente da Câmara.
Outro alvo dos manifestantes foi o governador do Rio, Wilson Witzel, que durante a semana também publicou um decreto proibindo eventos com grandes aglomerações no estado.

Polêmicas em torno dos protestos
As manifestações deste 15 de março geraram uma crise entre os Poderes em fevereiro, quando a imprensa brasileira revelou que Bolsonaro compartilhou no Whatsapp um vídeo que convocava a população a participar dos atos.
Como o movimento faz críticas ao Legislativo e ao Judiciário, o caso gerou uma onda de condenações por parte de líderes políticos de várias correntes e partidos, bem como de ministros do STF.
Os atos foram convocados por defensores do governo – inicialmente em apoio aos militares e contra o Congresso – após declarações do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que em fevereiro fez graves críticas aos parlamentares, chamando-os de "chantagistas".
Quando a imprensa revelou que Bolsonaro teria compartilhado mensagens chamando para as manifestações, o presidente tentou minimizar a polêmica, afirmando que, no Whatsapp, ele possui "algumas dezenas de amigos" com os quais troca "mensagens de cunho pessoal".
Não bastou para impedir a série de declarações de indignação que se sucedeu. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirmou à época que "criar tensão institucional não ajuda o país a evoluir". Celso de Mello, do STF, disse que Bolsonaro não estaria "à altura do altíssimo cargo".
Especialistas declararam que a atitude de convocar para um ato contrário ao Congresso poderia constituir crime de responsabilidade, passível de impeachment.
Desde que o Sars-Cov-2 surgiu pela primeira vez em dezembro, mas de 156 mil casos foram registrados em mais de 130 países e territórios, com o número de mortos superando 5.800. Vários países estão tomando medidas restritivas, como quarentenas, cancelamento de eventos e fechamento de fronteiras e comércio para tentar conter o surto.
No Brasil, o Ministério da Saúde confirmou 176 casos até este domingo, em 15 estados. A maioria está em São Paulo, onde há 112 infecções confirmadas. Em São Paulo e no Rio, há registro de transmissão comunitária, ou seja, quando pessoas contraem o vírus sem ter viajado a zonas de risco ou ter vínculo com outro caso confirmado.
Na última quinta-feira, foi confirmado que o secretário de Comunicação do governo federal, Fabio Wajngarten, contraiu o vírus. Ele esteve com Bolsonaro durante uma viagem aos Estados Unidos na semana passada. Outros integrantes da comitiva e autoridades que se encontraram com o presidente na Flórida também testaram positivo.
Bolsonaro realizou exames e, na sexta-feira, afirmou que seu resultado deu negativo, culminando num episódio de informações desencontradas – momentos antes, a emissora americana Fox News havia divulgado que o brasileiro estaria contaminado, afirmando que recebera a informação de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente.
Neste sábado, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, informou à TV Globo que recomendou ao presidente que faça um novo exame. Segundo o protocolo, um segundo teste deve ser realizado em sete dias, mas pode ser adiantado se houver sintomas.
EK/abr/ots/cp
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