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segunda-feira, 27 de abril de 2020

“Censura e má administração, é por isso que o coronavírus é um novo Chernobyl”. Francis Fukuyama em debate com outros dois especialistas'

Todas as semelhanças entre o desastre nuclear e a pandemia. No 34º aniversário do acidente na usina soviética, debate via Zoom entre o cientista político dos EUA, o historiador Plokhii, o ativista Borisovich e a eurodeputada Harms. "Existem muitas semelhanças entre a pandemia de coronavírus e o desastre nuclear de Chernobyl.
Entre as diferentes respostas nacionais à disseminação de Covid-19, uma das maiores diferenças que está despontando é entre os governos que tentam esconder o que está acontecendo, reprimindo informações e olhando para seus interesses de curto prazo e os governos transparentes e abertos que estão moldando suas respostas à crise depois de ouvir conselhos de especialistas. Nesse sentido, estamos vendo um bis de Chernobyl". Foi a intervenção do historiador e cientista político Francis Fukuyama que abriu o debate intitulado A lição de Chernobyl em tempo de pandemia, realizada via Zoom no 34º aniversário do acidente na usina nuclear soviética no lugar da Conferência Zero Corruption, adiada para o segundo semestre, por causa do coronavírus.
Junto com Fukuyama, o historiador estadunidense Serhii Plokhii, autor de Chernobyl: História de uma tragédia, o ativista anticorrupção Roman Borisovich e a eurodeputada alemã dos Verdes Rebecca Harms participaram da mesa-redonda, respondendo a perguntas da plateia virtual, incluindo La Repubblica.
Eis a entrevista.
Existem precedentes históricos para esta pandemia?
Francis Fukuyama: Não creio que seja uma crise sem precedentes na história, mas é sem precedentes na vida de qualquer um de nós. Uma crise de escala global, que se desenvolveu tão rapidamente e que provavelmente terá profundas consequências econômicas para quase qualquer pessoa no mundo. Eu acho que é apropriado falar sobre isso no aniversário do desastre nuclear de Chernobyl, porque existem muitas semelhanças. Em certos termos, ambas foram causadas pelas modernas tecnologias. É claro que o vírus não é moderno, mas sua transmissão em um sistema de transporte e comércio globalizado foi possível graças às condições tecnológicas de nossa era. A ameaça que isso representa para as nações é semelhante à de Chernobyl e houve respostas semelhantes de governos de diferentes tipos: governos que procuram esconder o que está acontecendo e governos transparentes. Estamos descobrindo quais governos são capazes e quais não são.
Serhii Plokhii: A comparação com Chernobyl é óbvia. Nestes últimos dias tive o mesmo pensamento que tive em 1986: o vírus, como então a nuvem radioativa, é um inimigo invisível. Você não pode percebê-lo, não pode sentir o cheiro. E quando precisa lidar com uma ameaça que não é facilmente identificável, é fácil para um governo fingir que não existe como aconteceu na URSS em 1986 e como está acontecendo hoje com os governos que jogam com as estatísticas. Os paralelos são surpreendentes.
Rebecca Harms: Entre as semelhanças, há sobretudo a falta de informação. Em 1986, o Ocidente foi alertado por cientistas que haviam detectado altos níveis de radioatividade, mas algum tempo se passou antes que a URSS informasse o mundo sobre o desastre. O mesmo aconteceu na China. Também estou surpresa com a resposta tardia dos países da UE. Por um longo tempo, pensaram que a Covid-19 fosse apenas um problema da China.
Os governos autocráticos estão respondendo de maneira mais eficaz à pandemia do que as democracias?
FF: Não existe uma resposta binária. Não é possível fazer distinção entre democracias e autoritarismos. Não há estreita correlação entre respostas eficazes e democracia ou regimes. Existem bons e maus exemplos em ambos os casos. Democracias como a Coreia do Sul e a Alemanha responderam com eficácia, no Reino Unido, nos Estados Unidos, no Brasil, mas também na Espanha e na Itália, vemos resultados decepcionantes. A democracia é importante. Sem liberdade de imprensa e expressão, você não sabe o que está acontecendo. Mas existem dois elementos que fazem a diferença. Primeiro: as boas capacidades. A Coreia do Sul respondeu à disseminação do vírus em janeiro com testes amplos, rastreamento das infecções. Segundo: a liderança.
Infelizmente, nos EUA, temos o pior presidente que poderíamos ter: passou dois meses negando a pandemia. As respostas mais eficazes nascem da combinação desses dois elementos: boas capacidades e líderes que ouvem os especialistas.
É possível esconder algo em 2020?
SP: É difícil distinguir a verdade das mentiras. Os regimes autoritários foram bons em suprimir as informações nas duas crises: aconteceu na URSS em 1986 e na China com a Covid-19. E também em controlar a narrativa: trata-se de habilidades que os regimes adquiriram recentemente. As democracias não sabem muito bem como reagir e como distinguir o verdadeiro do falso.
Roman Borisovich: Os regimes autoritários podem esconder as informações e fazer desinformação melhor do que as democracias. Como a URSS mentiu sobre Chernobyl nos dias seguintes ao desastre, o governo chinês reteve informações sobre a extensão da propagação do vírus em Wuhan. Mas não há nenhuma evidência de que os regimes saibam gerir melhor a pandemia. Muito pelo contrário. De fato, geralmente em países autocráticos, os recursos do sistema de saúde foram saqueados. Pergunto-me se os regimes não deveriam ser punidos e sancionados por suas mentiras.
FF: Não acho viável. Nem que a culpa recaía apenas em um país. A Itália também não respondeu com rapidez suficiente à pandemia. Mas é importante que haja transparência sobre o que aconteceu. Há evidências de que a China tenha encoberto informações e ainda o esteja fazendo. Nossos esforços devem ter como objetivo tornar a China mais transparente, para que possamos preparar uma resposta adequada.
SP: Todos os países tentam se salvar do vírus levantando muros, fechando fronteiras. Temos que nos perguntar como iremos em frente. Chernobyl é um exemplo interessante. Produziu leis de compartilhamento de informações. A URSS abriu indústrias supersecretas para inspeções internacionais.
É possível gerir essa crise sem apoiar a corrupção, mas de maneira eficaz?
FF: A capacidade do estado é, no final das contas, um problema de pessoas: é preciso ter pessoas altamente instruídas e altamente qualificadas na liderança dos governos. Mas há certamente outro problema político: não apenas a falta de capacidade, mas de pessoas que tirem benefício da fraqueza do estado e da falta de transparência. Tomemos, por exemplo, o sistema de saúde ucraniano, que foi saqueado ao longo dos anos. A única solução para esse tipo de problema é política. Porque geralmente os atores são poderosos: administradores, políticos, etc. E, a menos que você gere um poder político adequado para removê-los do poder, não poderá eliminar a corrupção. A solução a longo prazo para eliminar os corruptos que se aproveitam do sistema exige uma sociedade civil que forneça informações que mobilizem a população, exige uma coalizão de forças políticas que no final faça uma revolução política, que é a única solução a longo prazo para a corrupção.
Como a Rússia está gerindo a pandemia?
RB: As informações provenientes de Moscou não são confiáveis. Com apenas 2% da população infectada ou o país é milagrosamente imune ao vírus ou as estatísticas são falseadas. Deveria haver centenas de milhares de casos, não dezenas de milhares. Está claro que o governo está escondendo os números reais. Concordo com Francis Fukuyama. Deve haver uma mobilização do povo. Caso contrário, é impossível que a situação mude.
A Covid 19 terá repercussões na Federação?
FF: Se você quer ver um lado positivo da pandemia, pode encontrá-lo justamente na Rússia. Vladimir Putin deveria ter mantido o voto popular sobre a reforma constitucional que lhe permitirá permanecer no poder praticamente para sempre e uma grande cerimônia em 9 de maio para Dia da vitória, mas a pandemia obrigou-o a cancelar os dois eventos. A situação na Rússia é muito ruim e não pode ocultá-la da população. Essa crise pode potencialmente minar sua legitimidade e ter consequências a longo prazo em sua sobrevivência no poder.
SP: A má gestão das catástrofes e das informações relacionadas pode custar muito para regimes autoritários. Chernobyl foi um dos fatores que levaram ao colapso da URSS. Mas a sobrevivência de um regime depende não apenas da vastidão do desastre, mas também de sua força. Não prevejo mudanças na Rússia porque é fácil esconder o que está acontecendo na área cinzenta dos mortos e dos contágios não diagnosticados.
E quanto a Donald Trump? vai sobreviver ao vírus?
FF: A democracia nos EUA está em crise. Pela primeira vez, está no governo um líder que não entende o estado de direito, causando danos à política nacional e internacional. As eleições a serem realizadas em novembro próximo são as mais importantes, não apenas para os Estados Unidos, mas para o mundo. Todo mundo pensa que a China geriu mal a pandemia, mas são os EUA que somam um quarto de todas as vítimas mundiais. É difícil imaginar as consequências. A popularidade de Trump está diminuindo. Mas errei no passado em julgar o sentimento das pessoas, então não faço previsões. Mas espero o melhor.
A pandemia está tendo pesadas consequências econômicas. A luta climática sofrerá por isso?
FF: A mudança climática pode ser um assassino ainda mais letal do que a pandemia. No entanto, com as pessoas que ficam doentes e morrem, é fácil mobilizá-las para que respeitem, por exemplo, o bloqueio. O problema da mudança climática é que os efeitos não são imediatos. É difícil transmitir a urgência do problema, fazer entender que os nossos filhos sofrerão como nós com a pandemia. A mobilização dos jovens estava sendo bem-sucedida. Pelo menos a pandemia está tornando visível o impacto da economia em pleno funcionamento sobre o meio ambiente: agora que tudo está parado, os céus e os mares ficaram azuis novamente. Mas é difícil passar de uma crise para outra.
A entrevista é publicada por La Repubblica e Caminho Político . A tradução é de Luisa Rabolini.Edição: Régis Oliveira.Foto: Ilustração.

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