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sexta-feira, 24 de abril de 2020

"“Por que essa pandemia pode nos levar de volta aos anos 1930”

A pandemia é o quarto cavaleiro do Apocalipse. Mas, segundo Walter Scheidel, professor de História em Stanford, nos grandes eventos traumáticos como guerras, fracasso de estados, revoluções e precisamente epidemias, há um efeito inesperado: as desigualdades entre os seres humanos são reduzidas. A teoria apresentada em seu livro La grande livellatrice (A grande niveladora, em tradução livre, Il Mulino, 2019) parece oferecer consolo: mesmo uma tragédia histórica como Covid-19 poderia ter a consequência de reduzir as disparidades sociais.
Eis a entrevista.: Professor, você pode explicar brevemente o mecanismo pelo qual as epidemias funcionam como um fator de equidade?
É um fenômeno que temos vestígios mesmo no passado distante. No final da era antiga, quando a peste bubônica chegou à Europa, matou tantas pessoas que era difícil encontrar trabalhadores. Então os sobreviventes tiveram a oportunidade de obter melhores salários, enquanto, ao mesmo tempo, a terra perdia valor. Em certo sentido, os ricos ficaram menos ricos, porque não podiam cobrar muito pelo aluguel da terra, e os pobres, menos pobres, porque seu trabalho foi pago melhor. É um simples mecanismo da demografia. Isso aconteceu novamente na Idade Média, no século XIV, com o retorno da peste. As epidemias dos séculos mais recentes, no entanto, não tiveram efeitos comparáveis.
O que aconteceu com a gripe espanhola?
A gripe espanhola foi um caso muito especial. Chegou imediatamente após a Guerra Mundial, e os efeitos econômicos do conflito ofuscaram aqueles da praga. No final, a epidemia não levou à morte de muitas pessoas, especialmente nos países ocidentais. Foi terrível, mas não foi tão terrível quanto outras epidemias do passado.
Você acha que esse mecanismo se repetirá ainda hoje, em um contexto social e de saúde tão diferente?
Existem duas diferenças e uma semelhança. As diferenças são que a mortalidade será muito menor e que a economia mundial é muito diferente. Portanto, não podemos esperar que os efeitos da pandemia sejam os mesmos das economias agrícolas do passado. A semelhança é que hoje, como no passado, as respostas políticas são decisivas sobre o que acontece, quanto às mudanças e em que direção, para reduzir ou não as desigualdades. A questão hoje é quanto a epidemia influenciará as decisões eleitorais ou as escolhas políticas.
Que cenários você imagina?
Vejo dois cenários. O primeiro: que essa seja uma versão ampliada do que aconteceu doze anos atrás, que exista uma rápida recuperação e a ciência derrote o vírus, até que possamos retornar à vida habitual. Isso não permitiria correções para as desigualdades aliás, poderia torná-las mais fortes. Os ricos poderiam se recuperar rapidamente, enquanto muitas pessoas pobres perderiam seus empregos e deveriam aceitar um pior, pelo menos por um tempo. É a evolução mais provável. O menos provável prevê que a crise seja pior do que parece agora, que resulte mais difícil curar o vírus, ou encontrar uma vacina, e se acaba em uma depressão global. Nesse caso, a população seria levada a atitudes mais radicais, o que isso levaria a mudanças mais significativas, como nos anos 1930.
Na sociedade de hoje, como funciona o mecanismo que você identifica?
Em comparação com o passado, hoje os políticos estão mais ligados às demandas da população. Mesmo que a mortalidade seja menor, a resposta política será mais significativa. Talvez não haja necessidade de que muitas pessoas morram para ter efeitos políticos.
Em seu livro, você fala sobre pandemias não relacionadas com a pressão demográfica. Na realidade, a chegada do vírus parece estar ligada precisamente ao contato com ambientes que antes não eram tocados pelo homem. O que você acha?
Obviamente, a chegada de vírus como AIDS, Ebola ou esta pandemia está ligada à modernidade, ao fato de o homem entrar em contato com ambientes silvestres. Com a globalização, espero que isso continue, que ocorram outras epidemias, inclusive piores do que essa. Além disso, terá o efeito de desviar a atenção de outras emergências, como as mudanças climáticas. E isso significa que a pressão sobre o meio ambiente corre o risco de se tornar ainda maior.
Você não parece otimista. Você acha que haverá novas crises em breve?
Tenho certeza. Só que não sei se serão aquelas crises que identifiquei em meu livro, terríveis como efeitos, mas também capazes de reduzir as desigualdades. Não vejo revoluções ou colapsos do Estado no prazo imediato, a menos que as mudanças climáticas piorarem e os tragam consigo. Fora isso, espero uma relativa estabilidade.
Esses efeitos podem ocorrer mesmo em um único país ou a globalização o impede?
Acho que haverá diferenças entre os países. Um país escandinavo, por exemplo, poderia lidar razoavelmente bem com a pandemia e as desigualdades não aumentarão. Nos Estados Unidos, as desigualdades podem aumentar. Na Europa, já vemos a crise da União, a os cidadãos consideram os estados nacionais como entidade capaz de fornecer medidas de emergência.
Olhando para trás na história, você consegue identificar quem terá vantagens e desvantagens dessa epidemia?
Por enquanto, vejo vantagens a favor do establishment, até mesmo o sistema bancário trabalha em apoio ao status quo, e vejo o mesmo no mercado financeiro, com as ações que já estão subindo. Mas, por enquanto, é apenas uma ideia. É isso que sempre aconteceu na história, a menos que a crise se torne tão grave que impossibilite aos ricos manterem os privilégios. Mas não acho que seja esse o caso.
A entrevista é de Giampaolo Cadalanu, publicada por La Repubblica e Caminho Político. A tradução é de Luisa Rabolini.Edição: Régis Oliveira.Foto: Ilustração.

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