![Brasilien Manaus Coronakrise Friedhof (AFP/M. Dantas)](https://www.dw.com/image/53227321_303.jpg)
"É sabido que existe uma grande subnotificação de casos no Brasil todo, pois só se estão sendo testados os casos graves, de quem vai para os hospitais. Mas de quanto é essa distorção da realidade? A motivação deste estudo é, de alguma forma, contribuir para o planejamento da epidemia, pois com essa subnotificação tremenda só estamos vendo a ponta do iceberg”, diz Domingos Alves, integrante do grupo COVID-19 Brasil, formado por cientistas de mais de dez universidades brasileiras para monitorar a pandemia.
O pesquisador, que também atua como coordenador do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, ligada à Universidade de São Paulo (USP), aponta ainda que uma estimativa mais realista do número de casos de coronavírus no país permitiria que governos e população tivessem maior capacidade de planejar medidas de combate à pandemia.
"Para ter uma noção real da dimensão, o ideal seria testagem em massa. Como não temos testes disponíveis para todos, as estimativas podem servir de base para o gerenciamento de medidas de confinamento, necessidade de novos leitos e da abertura de hospitais de campanha”, afirma Alves.
Para chegar ao número superior ao registro oficial, os pesquisadores se basearam em dados epidemiológicos da Coreia do Sul e ajustaram fatores como pirâmide etária, porcentual de comorbidades e fatores de risco para covid-19 na população brasileira.
"Aparentemente, o número de óbitos é um preditor para o número de casos. Já se sabe que a taxa de letalidade em diferentes países é mais ou menos fixa: 5,8% do total de casos”, diz.
Alves apontou ainda que existe também grande subnotificação dos casos de morte. "Há uma discrepância. Em meio a uma epidemia, pessoas morrem com sintomas de COVID-19, mas permanecem como casos suspeitos, pois não foram e nem serão testados. Em muitas cidades já está acontecendo de as pessoas morrerem em casa, sem receberem nenhum atendimento. É a subnotificação das mortes. Trabalhamos com base apenas nas mortes confirmadas”, completa.
Como há subnotificação até mesmo em relação às mortes, o pesquisador adverte que realidade deve ser ainda mais grave que a estimativa do estudo. "É muito possível que seja 20 vezes pior do que os dados oficiais estão mostrando”, finaliza.
JPS/fapesp/ots/cp
Nenhum comentário:
Postar um comentário