
"Sou da geração Oslo, e nos foi feita a promessa de um Estado que nunca recebemos", comenta Barahmeh, que é diretor da ONG Instituto Palestino de Diplomacia Pública.
"Estamos extremamente frustrados e enfurecidos, mas também decepcionados porque o mundo não nos ouve. Nosso país já é, há muito tempo, colonizado na prática e ninguém fez nada contra isso."
Nesta quarta-feira (01/07), o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, poderia ter começado com a anexação de até 30% da Cisjordânia ocupada, com base no plano para o Oriente Médio apresentado pelo presidente Donald Trump. Mas, até o momento, há apenas especulações sobre quando essa anexação vai começar e o que ela englobará.

Fim da solução de dois Estados
"Estamos num momento que pode trazer consequências históricas para a região", avalia o coordenador da ONU para o processo de paz no Oriente Médio, Nickolay Mladenov. Ele alertou que esse passo unilateral fere o direito internacional e resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Além disso, a solução de dois Estados é posta em xeque.
Há anos que os palestinos perdem a esperança na solução de dois Estados. Para 45,3% dos consultados numa pesquisa feita pela Fundação Friedrich Ebert, a anexação por Israel praticamente enterra essa solução.
Barahmeh diz que essa ideia já está morta há muito tempo: a Autoridade Nacional Palestina só controla, na prática, cerca de 18% da Cisjordânia ocupada. Em todos os pontos importantes, o poder de decisão está com Israel.
"Israel controla a liberdade de ir e vir, os recursos hídricos, os serviços. Unidades israelenses vão todas as noites às cidades e aldeias para deter pessoas. Vivemos numa realidade de um Estado, na qual Israel controla todos os que vivem na área entre o rio Jordão e o mar", acrescenta.
Indiferença em Israel
A questão da anexação não desempenha um grande papel no cotidiano de muitos israelenses. Eles estão muito mais preocupados com a pandemia de coronavírus e a situação da economia do país, segundo uma pesquisa da Iniciativa de Genebra pelo fim do conflito.
Apenas uma pequena parte das pessoas ouvidas espera que o governo coloque a questão da anexação como prioridade máxima. Outras pesquisas revelaram resultados em parte contraditórios.

Os jovens israelenses Adar Keish e Tair Rosenblat estão a caminho de uma manifestação em Tel Aviv. Ambos são ativistas do Darkenu, um dos grupos que organizam protestos contra a planejada anexação.
Com o slogan "não à anexação, sim à economia e segurança", a ideia do protesto é falar para o centro político. A principal preocupação dos dois ativistas é com o futuro da economia de Israel.
Tair Rosenblat e Adar Keish são ativistas do Darkenu, um dos grupos que organizam protestos contra a anexação
"Não estamos com dinheiro sobrando para nos ocuparmos com quaisquer planos de anexação", comenta Rosenblat, que perdeu o emprego de garçonete durante a crise do coronavírus. "E queremos também que as pessoas do outro lado também tomem parte no processo."
Para ela, o governo deveria se preocupar mais com a geração de empregos do que com uma anexação unilateral e polêmica. Keish acrescenta que muitas pessoas nem mesmo têm ideia do que a anexação de fato significaria. Ele diz que o conflito já dura tanto tempo que muitas pessoas em Israel se tornaram indiferentes a ele.
Incerteza sobre a reação internacional
Como reação ao plano de anexação, a Autoridade Palestina encerrou todos os acordos de cooperação com Israel, incluindo a coordenação conjunta em questões civis e de segurança.
Na semana passada falava-se também, em círculos do governo palestino, numa dissolução da Autoridade Nacional Palestina, que surgiu depois do processo de paz de Oslo, em 1994.
Mas o primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, afirmou que vai priorizar a paz e a ordem. O governo dele enfrenta enormes dificuldades financeiras: a Autoridade Nacional Palestina não está conseguindo pagar os salários integrais por causa de desavenças sobre impostos e taxas aduaneiras que, normalmente, são transferidas mensalmente por Israel aos palestinos.
Na Faixa de Gaza, que é governada pelo Hamas, o braço militante deste grupo qualificou qualquer forma de anexação como declaração de guerra. Nos últimos meses, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, reiterou que qualquer anexação na Cisjordânia ocupada desrespeita o direito internacional.
Enquanto as conversações de alto nível entre os governos dos EUA e de Israel continuam, a União Europeia parece continuar aguardando os detalhes da planejada anexação para só então se posicionar.
Círculos europeus em Israel afirmam que provavelmente não haverá uma resolução conjunta na questão. A portas fechadas, a UE teria debatido o banimento de produtos de colônias israelenses e a exclusão de Israel de programas científicos.
Alguns países da UE avaliam reconhecer o Estado palestino – mas mesmo isso seria um passo apenas simbólico.
Tania Krämer (de Jerusalém)Caminho Político
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