
Menos se sabe sobre as 17 vítimas do último fim de semana. Cinco estavam nos arredores do departamento de Arauca, não muito longe da fronteira com a Venezuela; seis, na comunidade de El Tambo, no departamento de Cauca; e mais seis, numa cidade perto de Tumaco, em Nariño, na fronteira com o Equador.
O que liga as 33 vítimas é a inexplicabilidade das suas mortes, a total falta de sentido no que aconteceu e o fato de a sua juventude e a proximidade temporal dos acontecimentos desencadearem mais discussões do que os atos "habituais" de violência aos quais a Colômbia se acostumou nas últimas décadas. A ONU contabilizou 36 massacres no ano passado, ou seja, uma média de três por mês. Este ano, o número já é maior.
Na maioria dos casos, não está claro quem foram os responsáveis pelas mortes. Os suspeitos habituais são membros do último grupo guerrilheiro remanescente, o ELN, dissidentes das Farc que escaparam do desarmamento e o tráfico organizado de drogas, que é agora largamente controlado por cartéis mexicanos.
Grupos paramilitares, que também se acredita serem responsáveis por crimes, não são geralmente mencionados pelo atual governo. Diz-se que o ex-presidente Álvaro Uribe tem ligações com esses grupos e, nesse contexto, encontra-se atualmente em prisão domiciliar por decisão do Supremo Tribunal. E Uribe é o mentor do atual presidente Iván Duque.
Independentemente de qual dos diferentes grupos armados é responsável por qual crime, o comportamento e a escolha das palavras do governo, assim como da oposição, mostram como o debate sobre violência e segurança no país é altamente politizado. A postura em relação ao processo de paz com as Farc é decisiva para os respectivos posicionamentos.
O anterior governo, do vencedor do Prêmio Nobel da Paz Juan Manuel Santos, assistiu passivamente enquanto os vários grupos armados aproveitavam o vácuo de poder deixado pelas Farc. O lema parecia ser: é melhor manter o silêncio do que deixar surgirem críticas ao processo de paz. E assim ganhar as próximas eleições. Mas com Duque, o vencedor do pleito foi um aluno do homem que como nenhum outro defendeu uma política de força militar intransigente contra a guerrilha e lutou contra o processo de paz. Até hoje, ele não analisou as causas sociais por detrás da ascensão da guerrilha.
Agora Duque é responsável pelo destino de seu país. Um presidente para quem, após o assassinato de 33 jovens, a primeira coisa que vem à mente é dizer que esses atos não devem ser qualificados como massacres, mas sim como "homicídios coletivos". E que, em segundo lugar, enfatiza as estatísticas de homicídio quase igualmente ruins dos tempos de seu antecessor. De que forma isso ajuda as mães e os pais dos mortos? E os pais cujos filhos estão planejando uma festa no próximo fim de semana? Isso irá melhorar a infraestrutura e as economias das muitas regiões que foram abandonadas pelo governo?
Na Colômbia, o problema não é apenas a falta de segurança. Mas uma paz de papel por si só não é suficiente. Um futuro verdadeiramente pacífico requer um governo capaz de agir, que enfrente a grande desigualdade social e que invista nas regiões esquecidas. Duque tem apenas dois anos para se emancipar, o que dificilmente será suficiente. A comunidade internacional deve dizer adeus à ilusão de que o acordo de paz irá resolver o problema da Colômbia.
Uta Thofern é chefe do departamento América Latina da DW.
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