
Tal cena seria impensável antes da eleição presidencial de 9 de agosto, que fez eclodir uma onda de protestos no país do Leste Europeu e, pela primeira vez em 26 anos, ameaçou o poder de Lukashenko, conhecido como "o último ditador da Europa".
O pleito garantiu oficialmente um sexto mandato consecutivo para o autoritário presidente, mas o resultado – divulgado pela comissão eleitoral do país, controlada por seu governo – é contestado pela oposição, segundo a qual a eleição foi fraudulenta.
Apesar de dura repressão policial aos protestos que se seguiram, deixando centenas de feridos, pelo menos dois mortos e quase 7 mil detidos, os atos têm crescido e se tornaram o maior movimento antigoverno desde que Lukashenko assumiu o poder, há mais de um quarto de século.
"Vocês estão falando de eleições injustas e querem eleições justas?", perguntou a uma multidão de trabalhadores, que, sem titubear, gritaram "Sim!" em resposta. "Estou respondendo a sua pergunta: já tivemos eleições. Até que vocês me matem, não haverá outras eleições", rebateu.
Segundo transcrição publicada pela imprensa local, ele igualmente enfatizou que nunca cederá à pressão pública: "Ninguém deve jamais esperar me pressionar a fazer qualquer coisa."Lukashenko admitiu, porém, que estaria disposto a abrir mão de parte de seu poder se houver mudanças na Constituição, "mas isso não acontecerá sob pressão ou por meio de protestos na rua". Ele sugeriu que tais emendas à lei poderiam ser submetidas a um referendo com contribuição da oposição política.
O líder bielorrusso acabou encerrando abruptamente seu discurso, enquanto os trabalhadores insistiam em gritos de "Fora!", como mostram vídeos da cena. O slogan, um apelo à renúncia de Lukashenko, tornou-se um grito de guerra para os manifestante em todo o país.
Com a fala abafada pelos opositores na fábrica, o presidente disse, antes de deixar o palco: "Obrigado, eu já disse tudo. Agora vocês podem gritar 'Fora'." Mais tarde, quando respondia a perguntas individuais dos trabalhadores, Lukashenko recuou um pouco mais e disse que uma nova eleição até seria possível, desde que o mencionado referendo constitucional seja conduzido primeiro.
"Nos termos da nova Constituição, podemos realizar eleições se vocês quiserem, para o Parlamento, para presidente, para prefeitos", sugeriu, em pé no meio à multidão e cercado por seguranças, como mostra o vídeo divulgado pela televisão estatal.

O caso também gerou preocupação internacional. A União Europeia (UE) condenou a repressão policial contra manifestantes como "inaceitável" e deu luz verde à imposição de sanções contra autoridades bielorrussas
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, convidou os chefes de governo e de Estado dos 27 países-membros da UE a uma reunião extraordinária por vídeo na próxima quarta-feira, para debater a situação do país.
"O povo de Belarus tem o direito de decidir sobre seu futuro e eleger livremente seu líder", escreveu Michel no Twitter nesta segunda-feira, reiterando que a eleição de 9 de agosto não foi "nem livre nem justa".
Intervenção russa
A República Tcheca, por sua vez, expressou temores de uma intervenção russa no país vizinho. O ministro tcheco do Exterior, Tomás Petricek, instou a União Europeia a mandar um sinal claro ao governo em Moscou de que qualquer envolvimento militar na antiga república soviética não será tolerado.
No domingo, em meio à revolta popular em Belarus, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, manifestou a intenção de fornecer à nação vizinha a "assistência necessária" em segurança. A oferta de ajuda foi feita por Putin ao próprio presidente bielorrusso em conversa por telefone, informou o Kremlin em comunicado.
"A Rússia confirmou sua prontidão em fornecer a assistência necessária para resolver os problemas com base nos princípios do tratado da União de Estados e também, se necessário, através da Organização do Tratado de Segurança Coletiva."
No telefonema, os dois líderes teriam debatido a situação política em Belarus após as eleições presidenciais, "incluindo a pressão exercida sobre o país a partir do exterior", diz a nota, sem especificar a qual país ou entidade estaria se referindo.
Também no domingo, Lukashenko se disse preocupado com exercícios militares da Otan nas vizinhas Polônia e Lituânia, lançando acusações de que a aliança militar estaria enviando tanques e aviões para a fronteira oeste de Belarus, o que a organização negou.
EK/dpa/afp/ap/rtr/ots/cp
Caminho Politico
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