
“Confundimos grupos de WhatsApp de família com milícias profissionais. Com isso a própria mídia profissional acabava divulgando e dando amplitude para notícias que eles inventavam. Não tenho nenhuma dúvida que as redes e as milícias estão sendo utilizadas para uma grande lavagem de dinheiro que volta via doações eleitorais. É muito mais grave do que as pessoas achavam e continuam achando”.
Moraes afirma que uma das finalidades do inquérito é o mapeamento desses grupos para que a Justiça Eleitoral possa coibir as práticas nas eleições futuras.
Responsabilidades das plataformas
O ministro comentou sobre a responsabilização das empresas de tecnologia, como Google e Facebook.
“As plataformas não têm o mínimo compromisso com o que se divulga. Elas deveriam ser classificadas da mesma forma como as empresas de mídia. O que precisaria é uma responsabilização destas plataformas. Desta forma, fica difícil coibir o que vem ocorrendo”.
O ministro também comentou sobre os casos recentes de ataques contra jornalistas.

Desinformação e estudo de caso do BuzzFeed
A abertura do congresso contou ainda com a palestra sobre a desinformação e os desafios para o jornalismo com a presença de Craig Silverman do BuzzFeed.
Craig compartilhou com o público um estudo de caso que resultou de uma investigação para o BuzzFeed.
“O meu estudo de caso foi um anúncio no Facebook que vendia máscaras. Logo percebi que existiam muitas informações falsas sobre a eficiência do produto e comecei a investigar quem vende e quem compra este objeto. Procurei no Google pelo site e vi uma discussão de pessoas falando sobre as máscaras. Percebi que a empresa tinha nomes e origens diferentes, o que cria uma certa confusão. Parece que eles estão nos EUA, mas eles estão na Malásia e as pessoas que cuidam do site ficam na Espanha, mas a empresa é registrada em Hong Kong”, relatou.
Craig ensina que o olhar do jornalista deve ir além da superfície da rede digital.
“As informações falsas precisam motivar uma investigação. Você não precisa ser um repórter especializado em desinformação para isso. É preciso entender que o ambiente digital é facilmente manipulado e que as coisas que parecem ser autênticas e popularizadas podem ser falsificadas”.
Após a publicação da investigação, o Facebook baniu o anúncio da plataforma.
“O trabalho levou muito tempo e foi técnico e chato. Porém qualquer jornalista pode e deve fazer para combater a desinformação”. Craig listou algumas características típicas daqueles que produzem desinformação: “apelam para a emoção e as crenças das pessoas. Algo que deixa muito feliz ou com muita raiva. Usam ferramentas de rede para recrutar e convencer as pessoas para que as informações circulem. Usam uma linguagem muito visual”.
O jornalista também discutiu sobre o projeto de lei sobre as fake news que está sendo analisado no Brasil.
“Você pode ter legisladores com boas intenções, mas há risco de aumentar o estado de vigilância e de atrapalhar a liberdade de expressão e risco de tentar legislar em cima das plataformas. Há uma tensão muito clara entre liberdade e liberdade de expressão e vigilância. Precisamos ser cautelosos, mas o governo deveria pensar em um programa educacional para ajudar a população a julgar a informação que recebe neste novo ambiente confuso da desinformação”.
Além disso, complementa Craig, “fico preocupado quando vejo o projeto de lei sobre fake news porque é uma área muito tecnológica e os governos tendem a não ser muito bons em legislar sobre assuntos tecnológicos”.
Kassia Nobre/Caminho Político
Foto:Reprodução Congresso Abraji
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