Pandemia, guerra na Ucrânia e no Oriente Médio, migração: em mensagem de Ano Novo, chanceler federal alemão diz que crises e conflitos múltiplos pedem mais união e disposição para fazer diferente e assumir compromissos. Os piores prognósticos para a Alemanha não se concretizaram e o país, que atravessa uma fase difícil desde 2020, tem perseverado e prosperado apesar disso. A avaliação é do chanceler federal alemão e social-democrata Olaf Scholz em sua mensagem televisionada de Ano Novo.
O chefe de governo lembrou que o país mal começava a se reerguer de uma pandemia quando teve início a "guerra implacável" da Rússia na Ucrânia, em 2022, com consequências devastadoras para uma Alemanha altamente dependente do gás vindo de Moscou e uma virada histórica na política de defesa do país, com reflexos no Orçamento. Para piorar, a eclosão do conflito no Oriente Médio, desencadeado pelo "brutal ataque terrorista do Hamas contra Israel" em 7 de outubro de 2023, adicionou ainda mais instabilidade ao cenário internacional.
"Tanto sofrimento, tanto sangue derramado. Nosso mundo se tornou mais áspero e intranquilo; ele está mudando muito rapidamente", constatou.
"Também nós precisamos mudar por causa disso – algo que preocupa a muitos de nós. Para alguns, isso é motivo até de insatisfação. Eu levo isso a sério", prosseguiu, em um aceno aos críticos do governo de coalizão – uma aliança entre sociais-democratas, verdes e liberais com interesses por vezes contraditórios e de difícil conciliação, e que nunca foi tão impopular quanto agora.
"Ao mesmo tempo sei: Nós, na Alemanha, vamos superar isso", emendou, em um apelo motivacional que lembra o famoso bordão "nós vamos conseguir" de sua antecessora, a longeva Angela Merkel, do partido rival e conservador CDU.
"Também nos saímos bem diante das adversidades", argumentou Scholz, citando os índices recordes de emprego no país, a queda da inflação, o aumento dos salários e das aposentadorias – em razão da própria pressão inflacionária que, em alguns pontos, como na habitação, ainda não dá sinais de arrefecimento – e os "reservatórios de gás cheios até a borda para este inverno", aliviando o temor dos alemães quanto à falta de calefação adequada e aos reflexos na economia de uma indústria mau-humorada com os altos custos de produção.
O social-democrata admitiu, porém, que a coalizão terá dificuldades para enfrentar todos os desafios do país, como investimentos nas redes viárias e ferroviárias, na transição energética, na proteção do clima e na economia. A Alemanha passa por dificuldades orçamentárias, e um julgamento recente do Tribunal Constitucional impôs limites à capacidade de endividamento da República, forçando o governo a redefinir suas prioridades.
Apelo à união e à conciliação
Para o chanceler federal alemão, é a democracia e o entendimento de que cada um é útil à Alemanha que faz a força do país. "Tanto a pesquisadora de alto nível quanto o cuidador de idosos, tanto a policial quanto o entregador, a aposentada tanto quanto o jovem aprendiz."
Lembrando a queda da antiga Alemanha Oriental e a reunificação alemã, Scholz ressaltou o valor da democracia. Poder participar dos debates nacionais e da tomada de decisões é um "bem precioso", e discussões sobre o caminho correto a ser percorrido fazem parte, disse, antes de fazer um apelo contra a polarização e o clima de entrincheiramento que tem pairado mundo afora e também sobre a Alemanha: "Nada vai melhorar se só falarmos um por cima do outro, em vez de um com o outro. O que nos fortalece é a nossa disposição ao compromisso, nossa ação uns pelos outros."
Também no contexto das guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, da crise migratória, da ascensão do autoritarismo e de uma ordem geopolítica cada vez mais organizada em torno de Estados Unidos e China, Scholz defendeu o fortalecimento da União Europeia (UE).
"Quando a UE age conjuntamente, o faz em nome de mais de 400 milhões de cidadãs e cidadãos. Em um mundo com 8 bilhões de pessoas, futuramente talvez até 10 bilhões, isso é um verdadeiro trunfo", explicou, antes de alertar para as "amplas consequências também para nós aqui na Europa" da eleição presidencial americana, agendada para 2024.
Em outro aceno a um país que tem se mostrado cada vez mais sobrecarregado e exasperado com a migração, o chanceler celebrou ainda o novo pacto de migração europeu. "Já nas últimas semanas diminuiu nitidamente o número daqueles que chegam por essas fronteiras."
Rayanne Azevedo/Caminho político
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