Após vencer eleições, populista de direita Geert Wilders abre mão de chefiar governo, mas conversas para coalizão com seu partido continuam. Atual primeiro-ministro, Mark Rutte, fica provisoriamente no cargo.O ultradireitista Geert Wilders, cujo partido venceu as eleições legislativas de novembro passado na Holanda, anunciou nesta quarta-feira (13/03) que não será o primeiro-ministro do país devido à falta de apoio ao seu nome dos partidos com os quais tenta formar uma coalizão de governo. "Só posso me tornar primeiro-ministro se todos os partidos da coligação me apoiarem. Não foi este o caso", afirmou Wilders em postagem na rede social X, após quase quatro meses de negociações em busca de uma solução.
Ele afirmou que, com sua renúncia a ocupar o cargo, ele abre caminho para um governo de direita com uma política voltada para menos imigração e asilo.
Em 23 de novembro, o Partido da Liberdade (PVV), liderado por Wilders, venceu as eleições legislativas com um discurso abertamente antieuropeu e islamofóbico. A sigla obteve 37 assentos no Parlamento de 150 cadeiras, vencendo confortavelmente o pleito, à frente da aliança de esquerda de Frans Timmermans, com 25 assentos.
Os quatro partidos de direita atualmente em conversas para formar uma coalizão, incluindo o PVV de Wilders, continuam em diálogo para uma aliança governamental, tendo concordado em buscar um acordo nos últimos dias. Os detalhes devem ser anunciados nesta quinta-feira. O Parlamento deve discutir o assunto na próxima semana e decidir sobre as próximas etapas.
Mensagem anti-imigração repercutiu no eleitorado
A mensagem anti-imigraçãode Wilders que inclui o fechamento de fronteiras e a deportação de imigrantes ilegais, parece ter repercutido profundamente entre os eleitores holandeses, embora o PVV tenha ficado aquém de uma maioria que lhe permitiria governar sozinho.
No altamente fragmentado sistema político holandês, onde nenhum partido é suficientemente forte para governar sozinho, o anúncio dos resultados eleitorais marcou o início de meses de negociações.
Nos últimos dias, o jornal holandês Algemeen Dagblad descreveu as conversações como uma "catástrofe à espera de acontecer", repleta de "veneno, críticas mútuas e fofocas".
Com o impasse, o atual primeiro-ministro, Mark Rutte, permanece no cargo enquanto o país aguarda a formação de um novo governo. Ele, no entanto, é o favorito se tornar o próximo secretário-geral da Otan.
Discurso suavizado
Wilders, de 60 anos, e seu cabelo oxigenado fazem parte do cenário político holandês há décadas, onde construiu a sua carreira numa cruzada contra o que chama de "invasão islâmica” do Ocidente.
Nem os seus desentendimentos com a Justiça holandesa, que o considerou culpado de insultar os marroquinos – a quem chamou de "escória" – nem as ameaças de morte, que o mantiveram sob proteção policial desde 2004, o desencorajaram.
Durante a campanha, o ultradireitista procurou polir sua imagem, suavizando algumas das suas posições mais polêmicas. Em particular, afirmou que existem "problemas mais sérios” do que a redução do número de requerentes de refúgio e que poderia deixar de lado algumas das suas posições anti-Islã, prometendo concentrar-se mais na "segurança e saúde”.
No dia da votação, ele chegou a afirmar que iria ser um primeiro-ministro para "todos na Holanda, independentemente de religião, origem ou sexo”.
Analistas políticos apontam que a desistência de Wilders não significa um grande sacrifício para o ultradireitista. Ele poderá ter um papel importante como líder de sua bancada no Parlamento, sem estar sujeito às críticas e responsabilidades do cargo de primeiro-ministro.
rc (Lusa, DPA)/Caminho Político
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