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quarta-feira, 31 de julho de 2024

Líder do Hamas é morto no Irã

Grupo radical islâmico anunciou que Ismail Haniyeh morreu em "ataque ao seu quartel-general" em Teerã. Guarda Revolucionária Iraniana disse que morte está sendo investigada. TV estatal iraniana atribui ataque a Israel.
O Hamas e a Guarda Revolucionária Iraniana confirmaram na manhã desta quarta-feira (31/07) que Ismail Haniyeh, um dos líderes do grupo radical islâmico no exílio, foi morto na capital iraniana, Teerã.
"A residência de Ismail Haniyeh, chefe do escritório político da Resistência Islâmica do Hamas, foi atingida em Teerã", afirmou um comunicado do site de notícias Sepah, da Guarda Revolucionária Iraniana, que acrescentou que a morte "está sendo investigada". No ataque, um dos guarda-costas de Haniyeh também foi morto, confirmou a organização.
Em outro comunicado, o Hamas disse que Haniyeh foi morto depois de participar da posse do novo presidente iraniano.
"Irmão, líder, Ismail Haniyeh, o chefe do movimento, morreu em um ataque sionista em seu quartel-general em Teerã depois de participar da posse do novo presidente [iraniano]", afirmou o Hamas.
Até a manhã desta quarta-feira, o ataque não havia sido reivindicado. No entanto, o Hamas, assim como a televisão estatal iraniana, acusam Israel de perpetrar o ataque, uma vez que o país havia "prometido" matar Haniyeh e outros líderes do Hamas, na sequência do ataque do grupo radical em 7 de outubro.
Quem foi Ismail Haniyeh?
Ismail Haniyeh, geralmente considerado o líder supremo da organização, nasceu em um campo de refugiados em Gaza e entrou para o Hamas em 1987, durante a fundação do grupo e em meio a um cenário de grande revolta contra Israel.
Estudou em uma escola das Nações Unidas e na Universidade Islâmica de Gaza, onde teria entrado em contato com movimentos radicais de independência. Foi nomeado diretor do departamento de Filosofia em 1993 e, em 1997, tornou-se secretário pessoal do líder espiritual do Hamas, Sheikh Ahmed Yassin.
Em 2006, Haniyeh foi nomeado primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina pelo presidente Mahmoud Abbas depois que o Hamas conquistou a maioria dos assentos nas eleições legislativas. No entanto, foi demitido do cargo apenas um ano depois, quando o Hamas desencadeou uma onda de violência mortal para expulsar o partido Fatah, de Abbas, da Faixa de Gaza.
Haniyeh se recusou a renunciar, e o Hamas continua governando a Faixa de Gaza até hoje, enquanto o Fatah permanece responsável pela Cisjordânia ocupada. Em 2017, Haniyeh foi eleito chefe do escritório político do Hamas, sucedendo Khaled Mashal.
Quando jovem, Haniyeh foi um ativista estudantil na Universidade Islâmica na Cidade de Gaza. Haniyeh tornou-se um protegido do fundador do Hamas, Ahmad Yassin, que, assim como a família de Haniyeh, era um refugiado da aldeia de Al Jura, perto de Ashkelon.
Um muçulmano sunita, Haniyeh teve uma participação importante na construção da capacidade de combate do Hamas, em parte por meio da construção de um sistema de controle de guerra, em parte por nutrir laços com o Irã. Durante a década em que oi o principal líder do Hamas em Gaza, Israel acusou sua equipe de liderança de ajudar a desviar ajuda humanitária para a ala militar do grupo. O Hamas negou o fato.
Desde 2016, vivia em exílio, tendo passado pelo Catar e pela Turquia, de onde mantinha relações próximas com várias facções palestinas. Nos últimos meses, Haniyeh se reuniu com líderes políticos do Irã e da Turquia em missões diplomáticas.
Haniyeh era o rosto da diplomacia internacional do grupo radical. Mantinha uma retórica dura, mas era visto por muitos diplomatas como um moderado em comparação com outros membros do Hamas.
Em abril, um ataque aéreo israelense em Gaza matou três dos filhos de Haniyeh e quatro de seus netos. Em uma entrevista à Al Jazeera na época, Haniyeh disse que as mortes não pressionariam o Hamas a suavizar suas posições nas negociações de cessar-fogo em andamento com Israel. Na ocasião, o líder do Hamas negou as afirmações israelenses de que seus filhos eram combatentes do grupo.
Repercussão Internacional
A morte de Haniyeh pode agravar o conflito entre Israel e Gaza, apesar dos esforços dos Estados Unidos e outras nações para evitar uma guerra regional generalizada no Oriente Médio. Israel e Irã trocaram ataques abril, depois que Israel atingiu a embaixada do Irã em Damasco, mas os esforços internacionais conseguiram conter as retaliações. Um influente comitê parlamentar iraniano de segurança nacional e política externa do Irã realizará uma reunião de emergência sobre o ataque contra o líder do Hamas ainda nesta quarta-feira.
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, prometeu “defender seu território” e fazer com que os agressores “se arrependam de sua ação covarde”. Já o líder político e religioso do Irã, aiatolá Ali Khamenei, prometeu vingança contra Israel pelo assassinato do chefe político do Hamas. Khamenei disse que Israel buscou uma punição severa para si mesmo e que considera a vingança como um dever iraniano. O líder do Hamas morto era considerado “um convidado querido” pelo iraniano.
Há um receio de que, diante da morte, o Hamas se retire das negociações para um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns, detidos há 10 meses em Gaza. O assassinato pode inflamar também as tensões já crescentes entre Israel e o poderoso aliado libanês do Irã, o Hezbollah
Horas antes do ataque em Teerã, Israel realizou um raro ataque na capital libanesa, Beirute, na terça-feira. Segundo o país, a ação matou um importante comandante do Hezbollah, Fouad Shukur, supostamente responsável por outro ataque ocorrido em Golã - uma região síria controlada por Israel. O Hezbollah negou qualquer papel no ataque em Golã e disse que ainda procura o corpo de Shukur nos escombros do prédio atingido.
Não houve reação imediata da Casa Branca ao assassinato de Haniyeh. Questionado por repórteres sobre o ataque a Teerã, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, disse que não tinha “informações adicionais a fornecer”. Mas ele expressou esperança em uma solução diplomática para a fronteira entre Israel e o Líbano. “Não acho que a guerra seja inevitável”, disse.
A Rússia, por sua vez, condenou os ataques. “É um assassinato político completamente inaceitável, e isso levará a uma nova escalada de tensões”, disse o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Mikhail Bogdanov, à agência de notícias estatal RIA Novosti. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, recebeu Haniyeh em Moscou em setembro de 2022 para discussões sobre o conflito israelense-palestino.
Um porta-voz militar israelense não quis comentar o ocorrido. Israel geralmente não comenta assassinatos realizados por sua agência de inteligência ou ataques a outros países. O governo israelense prometeu eliminar os líderes do Hamas, onde quer que estejam, por causa do ataque de 7 de outubro, no qual militantes liderados pelo Hamas mataram 1.200 pessoas e fizeram 250 outras pessoas como reféns.
Sami Abu Zuhri, porta-voz do Hamas, disse que a morte de Haniyeh não terá impacto sobre o grupo, e que Israel estava “espalhando o caos e o mal” na região. “A ocupação não conseguirá atingir seus objetivos”, disse ele à agência Associated Press. O principal líder do Hamas em Gaza é Yehya Sinwar, que planejou o ataque de 7 de outubro.
Na Cisjordânia, o presidente palestino apoiado internacionalmente Mahmoud Abbas condenou o assassinato de Haniyeh, chamando-o de “ato covarde”. As facções políticas no território ocupado convocaram greves em protesto contra o assassinato.
China, Turquia e Paquistão também condenaram a ação contra Haniyeh.
O Hamas liderou os ataques terroristas contra Israel em 7 de outubro, nos quais 1.200 pessoas, a maioria civis, foram mortas e cerca de 250 reféns foram levados para Gaza.
O grupo radical islâmico é considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e Alemanha, entre outros. Em resposta, Israel iniciou uma operação militar em Gaza que já matou mais de 39.000 pessoas, de acordo com o Minsitério da Saúde local, controlado pelo Hamas, além de deixar mortos em ataques no Líbano e no Iêmen.
Em maio, o Tribunal Penal Internacional solicitou mandados de prisão para três líderes do Hamas, incluindo Haniyeh, bem como o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu por supostos crimes de guerra. Israel e os líderes palestinos rejeitaram as alegações.
af/le (AP, AFP, Reuters, dpa)Caminho Político
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