A pesquisa integra o livro State-Sponsored Disinformation Around the Globe que inclui estudos que analisam casos de desinformação patrocinados pelo Estado em 14 países de diferentes regiões. Um estudo recente destaca como a desinformação, coordenada por autoridades, foi amplamente utilizada para influenciar as eleições no Brasil, especialmente nas disputas de 2018 e 2022. A análise faz parte do livro State-Sponsored Disinformation Around the Globe, que explora casos de desinformação patrocinada por governos em 14 países ao redor do mundo.
De acordo com a pesquisa liderada pelas professoras Raquel Recuero (UFPel), Liziane Guazina (UnB) e o professor Bruno Araújo (UFMT), autoridades ligadas à direita e extrema-direita se valeram das redes sociais para questionar a legitimidade do sistema eleitoral brasileiro, principalmente através do Facebook. O estudo revela que perfis oficiais, muitos deles com milhões de seguidores, desempenharam um papel essencial na disseminação de teorias da conspiração sobre fraudes nas urnas eletrônicas, especialmente por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A pesquisa também aponta que desde a adoção das urnas eletrônicas, em 1996, as eleições no Brasil vinham sendo vistas com confiança. Contudo, em 2018, começaram a surgir narrativas contrárias à segurança do processo eleitoral, intensificadas nas eleições seguintes. Essas narrativas, segundo os autores, foram amplamente compartilhadas por autoridades que, com sua credibilidade, amplificaram a disseminação de desinformação.
Um dos destaques do estudo é a forma como essas estratégias de desinformação, além de questionarem a integridade do sistema eleitoral, foram utilizadas para mobilizar e engajar eleitores de Bolsonaro, criando uma onda de polarização política. Segundo os pesquisadores, os grupos bolsonaristas demonstraram maior organização e engajamento na propagação de fake news, comparados aos grupos de apoio a Luiz Inácio Lula da Silva.
O relatório destaca ainda a dificuldade das plataformas de mídia social em conter a disseminação de conteúdos falsos, especialmente quando apresentados como opinião. Esse fenômeno não só prejudica a confiança nas instituições democráticas, mas também fortalece a divisão ideológica no país.
Os autores concluem que a desinformação promovida por autoridades estatais teve um impacto significativo na democracia brasileira, culminando em eventos como os ataques de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram os prédios do Congresso Nacional, do STF e do Palácio do Planalto. “Esse estudo nos ajuda a entender como a desinformação estatal contribui para a degradação do debate público e alimenta narrativas populistas perigosas para a política nacional”, afirmam os pesquisadores.
Assessoria/Caminho Político
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