Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso

Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso
Av. André Maggi nº 6, Centro Político Administrativo

PROGRAMA ADILSON COSTA com RÉGIS OLIVEIRA

PROGRAMA ADILSON COSTA com RÉGIS OLIVEIRA
na Rádio Cuiabana FM 106.5 de Segunda a Sexta das 16hs ás 17hs e nas plataformas digitais.

Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso

Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso
Av. André Maggi nº 6, Centro Político Administrativo

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

DIRETAS JÁ: Tancredo, O sonho de Tancredo de assumir a Presidência era uma questão de princípios: unir o país e não deixar que o medo de represálias fosse o combustível da continuidade do autoritarismo

Na semana que passou, escrevi sobre a sacralidade da democracia dizendo que ela devia ser um dogma na consciência de cada um. O tema tinha a imposição da data de 15 de janeiro, quando o Brasil, há 40 anos, via surgir a volta da democracia. Nessa data, fomos eleitos, Tancredo Neves e eu, presidente e vice-presidente, na forma da Constituição.
Tenho, ao longo desses 40 anos, preservado a memória de Tancredo Neves para manter a minha obrigação moral de lembrá-lo como um dos heróis do sentimento democrático do país. A história o tinha preparado para essa tarefa. Ele era um homem que conhecia a política nacional e o Brasil profundamente. Essas qualidades o levaram a comandar o processo de derrubada do regime autoritário. Tancredo foi escolhido candidato justamente porque inspirava confiança ao país, pelo seu passado e pelos atos que marcaram sua coragem e sua determinação.
Na sua biografia como ministro de Getúlio Vargas, fora leal até o fim, acompanhando-o até a tragédia do seu suicídio. Nós o encontramos chorando, comovido, no enterro de Vargas, fazendo uma apaixonada oração fúnebre, na qual não pregava a revolta pelo que tinha acontecido, mas a conciliação, sua marca. A vingança não tinha lugar em seus lábios e, ao contrário do que os outros oradores pregavam, ele abandonava o sentimento de revolta para assumir a bandeira da conciliação nacional, pedindo que o Brasil não se dividisse no sangue e no gesto de Vargas.
Com Juscelino Kubitschek na crise da maioria absoluta, é Tancredo quem costura a solução, concretizada na posse do presidente. Juscelino sai brilhantemente da ameaça de não assumir a presidência para o sucesso do seu governo e a construção de Brasília, que o levou a um lugar grandioso em nossa história.
Tancredo foi preparado para desempenhar esse papel de conciliador, na ultrapassagem do regime militar em 1985, no ponto mais alto de sua carreira, comandando a engenharia política que nos levaria ao 15 de janeiro de 1985, que hoje lembramos e comemoramos: 40 anos de democracia.
No martírio da sua posse, surpreendido pela doença que finalmente o levaria à morte, sua preocupação em não se deixar operar para tomar posse não era uma vaidade pessoal, mas o ideal muito mais alto de concluir a transição democrática. Ele receava a volta dos militares diante da resistência do presidente Figueiredo de transmitir o poder ao vice-presidente, invocando uma inimizade pessoal comigo. Ouvi do ministro Leitão de Abreu — logo depois da retirada de uma comissão composta por Ulysses Guimarães, Leônidas Pires Gonçalves e Fernando Henrique — que, quando lhe comunicaram a decisão da minha posse, o general Walter Pires, ministro do Exército, lhe visitou e afirmou que iria imediatamente voltar ao ministério e dirigir-se aos comandos do país inteiro para juntos pedir a continuidade do governo do presidente Figueiredo e abortar a transição para a democracia.
O ministro Leitão conta ainda que, nesse instante, o dissuadiu com o argumento de que ele já não era mais ministro do Exército, uma vez que o Diário Oficial publicara a sua exoneração do ministério. Assim, a democracia não morreu naquela noite. E Tancredo, quase agonizante, resistia à sua operação, que todos os médicos julgavam salvadora. Para demovê-lo dessa resistência, o seu sobrinho Dornelles contou-lhe uma inverdade: a de que havia estado com o presidente Figueiredo e este assegurara que transmitiria o governo à minha pessoa. A preocupação de Tancredo era a conclusão do processo democrático e, com essa comunicação do Dornelles, ele julgava que sua missão estava concluída e a transição democrática, realizada. Disse aos médicos: "Agora podem me operar. Nossa luta está vitoriosa".
É justamente por isso que Afonso Arinos disse que muitos brasileiros deram a vida pelo Brasil e Tancredo deu a morte. Sua grande virtude e ação como político era o que Honório Hermeto Carneiro Leão, Marquês do Paraná, encarnou no Império: a conciliação. Seu sonho de assumir a Presidência não era oportunismo, nem uma opção pragmática e circunstancial, e, sim, uma questão de princípios: unir o país e não deixar que o medo de represálias fosse o combustível da continuidade do autoritarismo.
No momento, assistimos à maior nação do mundo, os Estados Unidos, vacilar no exemplo dos ideais dos pais fundadores da democracia americana e no sonho de Jefferson da busca da felicidade. Trump nega esse destino dos Estados Unidos de solidariedade, de luta pela democracia liberal e liberdade de mercado com ameaça de uso de sanções, na tese de que uns são condenados à salvação, e outros, à perdição.
Tancredo é o estadista conciliador e Trump, o espalha-brasas, um político menor. Que o exemplo do nosso estadista, de união e convergência, seja símbolo para todos os políticos e inspiração para as gerações futuras.
José Sarney — Ex-presidente da República, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras

Nenhum comentário:

Postar um comentário