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segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Quem foi José do Patrocínio, proclamador civil da República

Precursor do movimento negro, o intelectual e ativista destacou-se como um dos mais importantes personagens do abolicionismo brasileiro. "Senhores representantes do Exército e da Armada Nacional, o povo, reunido em massa na Câmara Municipal, fez proclamar, na forma da lei ainda vigente […] o governo republicano."
Por volta das 18h do 15 de novembro de 1889, a declaração histórica foi lida por um homem negro, então o vereador mais jovem daquela composição, José do Patrocínio (1853-1905). Ele tinha 36 anos. Apenas horas mais tarde, o chamado governo provisório comandado pelo marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892) publicou um manifesto, assinado pelo próprio, anunciando que o Exército e a Marinha tinham decretado o fim da monarquia, com a deposição da família imperial.
Por isso, alguns pesquisadores ressaltam que foi Patrocínio, e não Deodoro da Fonseca, quem primeiro proclamou a república. "Essa proclamação o fez ser considerado o ‘proclamador civil' da república", comenta o jornalista, escritor e biógrafo Tom Farias, autor do livro José do Patrocínio: A Pena da Abolição.
Curiosamente, Patrocínio era monarquista até pouquíssimo antes do histórico dia.
"Até as vésperas de 15 de novembro, declarava-se um fiel súdito e aliado da princesa Isabel. Atribui-se a ele o título de ‘A Redentora' dado à princesa após a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Entusiasmado com a abolição, que tanto defendera, Patrocínio também ajudou a criar uma "guarda negra", composta de escravos libertos, mulatos e capoeiras, com o objetivo de defender os direitos da princesa e assegurar o Terceiro Reinado após a morte do imperador Pedro II", enumera o jornalista Laurentino Gomes no livro 1889: Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil.
"Essas convicções monarquistas, porém, desapareceram todas na tarde de 15 de novembro, quando Patrocínio decidiu assumir a glória efêmera que Deodoro parecia recusar. Seria ele um dos muitos republicanos de última hora que o Brasil haveria de conhecer naqueles tumultuados dias", conclui Gomes.
Abolicionista e monarquista
Filho bastardo de um padre com uma jovem escravizada de 15 anos, Patrocínio nasceu em Campos dos Goytacazes. Seu pai jamais o reconheceu oficialmente, mas garantiu que o garoto não fosse escravizado e que tivesse acesso à educação.
"O menino Zeca, como era conhecido na região, não fora reconhecido em cartório pelo pai, o cônego João Carlos Monteiro. Entretanto, tinha um tratamento como tal", diz o jornalista e ativista Orlando Guilhom, no livro A Vida dos Grandes Brasileiros - José do Patrocínio. "Era criado com regalias, de filho, chegando mesmo a sentar-se à mesa para as refeições."
Aos 14 anos, Patrocínio mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como servente de pedreiro na Santa Casa de Misericórdia. Encantado com aquele universo, decidiu cursar farmácia -- graduou-se pela Faculdade de Medicina, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1874.
Desde muito jovem, como lembra o biógrafo Farias, ele "transitou bem […] entre a elite branca da época.
Pouco tempo após a formatura, passou a atuar como jornalista. Publicou um quinzenário satírico, chamado Os Ferrões e foi contratado como redator do jornal Gazeta de Notícias. Neste jornal iniciou sua militância abolicionista — logo, integrava ele também a Associação Central Emancipadora, um grupo que defendia o fim da escravidão no Brasil.
Patrocínio não se limitava à militância pelas letras. Também ajudava a organizar fuga de escravizados, coordenava comícios para difundir a causa e fazia campanhas para arrecadar dinheiro a fim de comprar alforrias.
Em 1880 foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Três anos mais tarde, criou a Confederação Abolicionista, uma articulação que congregou os principais clubes abolicionistas do país.
"A essa altura Patrocínio já era considerado em todo o Brasil o verdadeiro comandante da monumental campanha abolicionista que estava em curso […]", diz Guilhom, citando que, em viagem a Fortaleza, no Ceará, ele foi chamado de "o Marechal Negro".
Tornou-se político em 1886, quando foi eleito vereador. No ano seguinte, fundou um novo jornal, ‘A Cidade do Rio'.
Quando em 1888 a Lei Áurea foi assinada pela princesa Isabel (1846-1921), Patrocínio, assim como outros abolicionistas, se tornou apoiador da então herdeira do trono imperial brasileiro — foi então rotulado de "isabelista". "[Ele] se aproximou e defendeu em laudatórios e verborrágicos artigos em seu jornal a princesa Isabel, a quem cunhou [o epíteto] de ‘A Redentora'", aponta o biógrafo Farias. Para Guilhom, Isabel foi a "musa" de Patrocínio "no curto período entre a abolição e a Proclamação da República".
Ele é apontado como um dos idealizadores da Guarda Negra, um grupo de ex-escravizados que passou a combater republicanos, inclusive interrompendo comícios que pediam o fim da monarquia.
"O papel de Patrocínio, no caso da Guarda Negra, foi de suporte, de colocar o escritório da redação do seu jornal à disposição do movimento, divulgando suas ideias e propagando-o por todo o país, como acabou acontecendo. Nesse sentido, a Guarda Negra vai ser um movimento, no pós-abolição, que vai se disseminar por todo o império", contextualiza Farias.
Por isso, no episódio da Proclamação da República, ele foi um dos chamados "republicanos de última hora". "Esse namoro [com o isabelismo e a monarquia] durou até o dia da Proclamação da República, que ele acompanhou bem de perto, como algo sem volta", confirma o biógrafo. "Então, capitulou com o movimento republicano, de última hora."
Em 1892, ele entrou em conflito com o governo de marechal Floriano Peixoto (1839-1895) e acabou detido e deportado para o Amazonas. Retornaria à então capital do país apenas no ano seguinte.
Primeiro carro
E então passou a ter uma participação política irrelevante. Mas não deixou de estar em evidência social. Em 1894, depois de uma temporada em Paris, voltou ao Rio com aquele que seria o primeiro automóvel a circular pela cidade: um triciclo Serpollet, com motor a vapor — o primeiro carro a ser importado pelo Brasil foi trazido pela família Santos Dumont a São Paulo em 1891, um Peugeot Type 3.
Poucos dias depois, quando a novidade era conduzida pelo amigo de Patrocínio, o poeta Olavo Bilac (1865-1918), foi registrado o primeiro acidente automobilístico em solo nacional. Ele e outros amigos estavam a bordo.
"O primeiro [carro do Rio], de Patrocínio, foi motivo de escandalosa atenção. Gente de guarda-chuva debaixo do braço parava estarrecida, como se tivesse visto um bicho de Marte ou um aparelho de morte imediata", escreveu, anos mais tarde, o jornalista João do Rio (1881-1921). "Oito dias depois, o jornalista [José do Patrocínio] e alguns amigos, acreditando voar com três quilômetros por hora, rebentavam a máquina de encontro às árvores da rua da Passagem [em Botafogo]."
Patrocínio foi um dos membros-fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL), criada em 1897. Morreu de tuberculose aos 51 anos.
Vanguarda do movimento negro
Muitos avaliam que sua trajetória é a de um precursor do movimento negro no Brasil. "De alguma forma, podemos dizer que é um movimento do negro, no sentido de que você tem um homem negro, à frente do processo", afirma Farias.
"José do Patrocínio era um empresário, sobretudo da comunicação […], um homem da elite, chegou a ser muito rico, mas depois empobreceu. Sua vida é bastante polêmica, em todos os aspectos, profissional e pessoal. Mas é o grande nome do movimento abolicionista, articulador e polêmico. Gastou fortunas pelo movimento, endividou-se, foi ameaçado, processo. Sua vida, sua participação no movimento, por tudo o que fez e escreveu, faz dele uma das pessoas mais importantes para o 13 de maio de 1888", argumenta.
Edison Veiga/Caminho Político
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