Após flertes com PSD e MDB para uma possível fusão ou incorporação, presidente nacional agora defende a continuidade da existência do partido. O PSDB "não vai desaparecer", afirmou Perillo. O presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, recuou das negociações para incorporação do partido ao PSD ou ao MDB. Nesta quarta-feira, 12, Perillo defendeu que a sigla continue a existir em respeito ao legado construído. "A partir de hoje, vou defender a continuidade do PSDB”, afirmou ao jornal mineiro O Tempo. "Vamos continuar dialogando, mas a prioridade é preservar a história e o legado do partido que muito contribuiu para melhorar nosso país", acrescentou.
Houve reações internas no partido à ideia de incorporação a PSD e o MDB. O caráter visto como fisiológico de ambos e disputas regionais eram obstáculos às negociações, com oposição inclusive no Ceará.
Figuras importantes do partido rejeitavam a ideia, apesar da pressão de uma ala de parlamentares preocupados com suas reeleições em 2026. Recentemente o partido contou com a filiação dos senadores Styvenson Valentim (PSDB-RN) e Oriovisto Guimarães (PSDB-PA), aumentando a bancada na Casa de um para três parlamentares.Plínio Valério (PSDB-AM) era até então o único senador do partido. Com p ingresso dos dois novos senadores, o PSDB volta a ter direito ao gabinete de liderança para a bancada, podendo concorrer e ocupar comissões e cargos de prestígio no Senado.
Conversas para incorporação
As negociações para a incorporação do partido tiveram impulso com as declarações de Perillo, que admitiu em janeiro o possível fim da trajetória política do PSDB como partido independente.
As perspectivas eram de incorporação por outro partido ou fusão. Perillo considerou que o partido passou por processo de encolhimento, e avaliou como erro não lançar candidato próprio a presidente na eleição de 2022.Para o presidente nacional da sigla, a polarização política, centralizada no PT do presidente Lula e no PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, engoliu o PSDB.
Agora, ele afirmou que as negociações esfriaram, e avaliou ser preciso interrompê-las. Embora não descarte a possibilidade de retomada das conversas no futuro, no momento o partido tem planos solo para a eleição de 2026, com candidato a presidente. Em nota, afirmou que o PSDB "não vai desaparecer".
Para não ficar refém da cláusula de barreira, o partido estuda agregar o Podemos à federação que atualmente conta também com o Cidadania. Nas disputas estaduais o partido pode ter candidatos em Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraíba e Santa Catarina .
Problemas na incorporação
A professora do curso de Ciência Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres, analisa que é difícil a incorporação do PSDB ao PSD ser bem sucedida.
“O PSDB integrar o PSD é difícil. Eu digo isso considerando que o PSD hoje é uma máquina partidária. Se o MDB ocupou esse lugar de fiel da balança em outros momentos, hoje o PSD ocupa esse lugar. (Gilberto) Kassab é antes de tudo governista, embora o partido tenha um perfil mais conservador ele é governista. Então ele consegue transitar ali. ele consegue estar com o governo federal do PT, mas também no governo do Tarcísio (de Freitas, em São Paulo) apoiado pelo PL. O PSDB ser incorporado, se fundir com o PSD, faz com que suas liderança percam espaço e o partido de fato evapore”, analisa a pesquisadora.
Entretanto, ela aponta que, com a fragilidade atual, talvez o PSDB não consiga se reestruturar: "Ele precisa compor com outras forças. No campo da esquerda, a gente está vendo estratégia semelhante, com partidos menores de esquerda conversando e dialogando para ver uma composição ou uma federação para garantir uma sobrevivência sem estar à sombra de uma legenda maior que possa engoli los.
Por isso algumas legendas de esquerda são resistentes a fazer uma federação com o PT”, destaca. Em entrevista à Globonews na última terça-feira, Perillo afirmou que a cúpula tucana foi procurada por varias legendas, e deu a entender que o partido ainda tem esperanças em ser alternativa ao PT e PL.
"Nós fomos procurados por todos, à exceção do PT e do PL. Exatamente os dois extremos. Até porque nós não vamos compor com um projeto de extrema-direita e nem de extrema-esquerda. Queremos um projeto ao centro", disse o presidente. Eduardo Leite defende que diálogo respeite "princípios" Após reunião com Hugo Motta (Republicanos PB), presidente da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira, 12, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite disse que o PSDB vai manter diálogo com siglas que sejam "alternativas" à polarização entre PT e PL.Para o político, o partido precisa manter "princípios" apesar de defender a mudança.
“O mais importante é que qualquer fusão, federação ou incorporação do PSDB, encaminhe a ideia de guardar aderência às nossas ideias e possibilitar às nossas lideranças a efetiva participação na governança que venha a ser constituída”, disse ele, lembrando que a legenda defende a visão liberal para economia, bem estar-social, combate a violência e ao crime organizado.
História e polarização com o PTO Partido da Social Democracia Brasileira, PSDB, foi fundado em 25 de julho de 1988 por um grupo de dissidentes do atual Movimento Democrático Brasileiro (MDB), na época PMDB.
O objetivo dos fundadores do partido era uma alternativa de centro-esquerda, inspirada na social-democracia europeia. Entre os políticos fundadores do partido estavam Mário Covas, José Serra, Franco Montoro e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A plataforma da sigla defendia estabilidade econômica, reformas institucionais e fortalecimento das instituições democráticas.
O partido se tornou uma dos principais partidos do Brasil.
Em 1994, chegou à Presidência da República, com Fernando Henrique Cardoso, reeleito em 1998.Polarização PSDB x PT e ascensão do bolsonarismo. A rivalidade entre PT e PSDB marcou a política nacional de 1994 a 2014. Teve início com a disputa entre Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 1994, e perdurou até 2014.
Antes, os dois partidos chegaram a cogitar uma aliança, com uma chapa de Lula para presidente e Tasso Jereissati para vice. A disputa se intensificou nos anos 2000, com as vitórias de Lula em 2002 e 2006, seguidas pela eleição de Dilma Rousseff (PT) em 2010 e 2014, quando o PSDB foi o principal antagonista do PT. Na era pós-FHC o partido foi representado por candidatos como José Serra (2002 e 2010), Geraldo Alckmin (2006) — hoje no PSB e vice-presidente de Lula — e Aécio Neves (2014).
A polarização atingiu o auge na eleição de 2014, quando Dilma Rousseff (PT), foi reeleita por uma margem apertada. O contexto pós-eleitoral foi marcado por disputas judiciais, protestos contra o governo petista e o crescimento de forças políticas alternativas, como Jair Bolsonaro, que acabou rompendo essa dualidade na eleição de 2018.
É o que explica a professora Monalisa Torres: “O PSDB já foi uma máquina eleitoral gigante, que elegeu governadores e prefeitos até 2016. E em São Paulo até pouco tempo o PSDB era uma máquina de eleger”. A pesquisadora destaca que o próprio partido se prejudicou com a "ânsia" de voltar ao Palácio do Planalto. "Nessa ânsia de virar o pêndulo, naquele momento em 2014 o PSDB começa a tensionar mais.
A recusa de aceitar a vitória de Dilma, a insistência de politizar e de judicializar a eleição tentando uma espécie de terceiro turno, questionando a legitimidade da vitória de Dilma, procurando opções para derrubá la, as declarações de Aécio dizendo que não queria impeachment, queria fazer o governo sangrar, desgastar o PT”, pontuou ela.
A professora completa lembrando dos escândalos de corrupção que envolveram figuras importantes do partido, como o ex-governador Aécio Neves. “Naquele cenário, o que a gente viu foi que o PSDB, que criticava o sistema na figura do PT, os escândalos de corrupção, se ver envolto de escândalos tão semelhantes quanto o PT.
Então, ele perde credibilidade. É nesse bolo de insuflar a população, questionar a legitimidade das urnas, de abrir a trincheira nesse processo de tencionar a instituições, de judicializar o processo eleitoral que o PSDB vai abrindo a trincheira para um campo mais radical, que foi o bolsonarismo”.Torres destaca que, no governo de Jair Bolsonaro, o PSDB se moveu um pouco mais à direita, apoiando ações da administração e não vocalizando contra Bolsonaro da mesma forma que fazia contra Dilma.
“O PSDB apoiou o governo Bolsonaro em algumas medidas, votava com o governo em algumas medidas, talvez imaginando que pudesse retomar esse espaço, mas é difícil quando a guarda do campo da direita muda. O que a gente viu foi exatamente isso”, concluiu Monalisa Torres. O PT sobreviveu e retornou à Presidência da República, enquanto o antigo rival definhou e tenta voltar ao protagonismo da disputa nacional.
Wilnan Custódio/Agência Estado/Caminho Político
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