A Unimed Cuiabá enfrenta uma crise multifacetada, apesar de inaugurar um novo hospital de R$ 400 milhões. A cooperativa está sob direção fiscal da ANS devido a um rombo financeiro de R$ 400 milhões, que levou ex-gestores a serem alvos da Operação Bilanz da Polícia Federal. onsequentemente, a empresa enfrenta uma explosão de ações judiciais por negativas de cobertura e uma queda drástica em sua reputação junto aos consumidores, com milhares de reclamações em órgãos como Procon e Reclame Aqui. Enquanto inaugura estrutura de ponta, cooperativa enfrenta intervenção federal, racha interno e uma avalanche de processos judiciais de clientes insatisfeitos.
Infraestrutura de ponta contra uma explosão de queixas. Em maio deste ano, a Unimed Cuiabá cortou a fita de um novo e moderno hospital, um investimento de R$ 400 milhões que prometia elevar o padrão de atendimento na capital mato-grossense. Contudo, enquanto os holofotes celebravam os 85 leitos e a tecnologia de ponta, os corredores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) contavam outra história: um aumento de 47% nas ações judiciais contra a cooperativa só no primeiro semestre de 2025. Este paradoxo expõe uma crise profunda, que vai muito além dos muros do novo complexo hospitalar.
A fachada de excelência, erguida para comemorar os 50 anos da cooperativa, mal consegue disfarçar as rachaduras em sua fundação. Por trás da promessa de “mais qualidade e estrutura”, a Unimed Cuiabá navega em águas turbulentas, marcadas por uma intervenção federal, uma guerra interna entre médicos e uma crescente desconfiança por parte de seus milhares de beneficiários.
Um rombo de R$ 400 milhões
O estopim da crise veio à tona em 2023. Diante de “anormalidades econômico-financeiras e administrativas graves”, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) não teve alternativa a não ser instaurar um regime de direção fiscal na operadora. O diagnóstico era alarmante: um prejuízo contábil que beirava os R$ 400 milhões, supostamente resultado de uma gestão anterior que teria maquiado balanços para esconder o rombo financeiro.
A medida, oficializada pela Resolução Operacional n° 2.838, colocou um diretor fiscal da ANS dentro da cooperativa, com a missão de monitorar as contas e garantir a continuidade do serviço para os 220 mil clientes. “Não se trata de liquidação, mas de monitoramento intensivo”, esclareceu a agência na época. A intervenção, que impôs um plano de saneamento e um aporte emergencial por parte dos cooperados, foi renovada em setembro de 2024 e segue vigente, um sinal claro de que os problemas persistem.
Guerra interna e caso de polícia
A crise financeira abriu uma ferida profunda no corpo clínico da Unimed. De um lado, a nova gestão busca responsabilizar os antigos dirigentes; do outro, os acusados se defendem e denunciam uma caça às bruxas. A tensão culminou em maio de 2024, com a expulsão do ex-presidente Rubens Carlos de Oliveira Júnior do quadro de cooperados, sob a acusação de ser o principal responsável pelo “rombo milionário”.
O conflito, no entanto, extrapolou os muros da cooperativa e virou caso de polícia. Em outubro de 2024, a Operação Bilanz, deflagrada pela Polícia Federal, prendeu seis ex-gestores, incluindo Rubens, acusados de fraudes contábeis. A disputa chegou a um ponto em que a cooperativa passou a litigar não apenas contra clientes, mas também contra seus próprios médicos, que recorreram à Justiça para não terem que arcar coletivamente com o prejuízo.
A conta chega para o cliente
No fim das contas, a turbulência administrativa respingou de forma avassaladora em quem mais depende do serviço: o cliente. Os números da judicialização são um retrato contundente do colapso no atendimento. Um levantamento no Tribunal de Justiça de Mato Grosso mostra que 14.845 processos mencionam a Unimed Cuiabá, e o motivo é claro: 62% dessas ações são relativas a negativas de cobertura, a principal queixa dos beneficiários.
As recusas em autorizar cirurgias, terapias ou medicamentos prescritos se tornaram tão comuns que os tribunais têm proferido decisões liminares em série para garantir tratamentos, além de indenizações por dano moral — como a que condenou a cooperativa a pagar R$ 10 mil a um paciente por negar material cirúrgico. A segunda maior fonte de litígios são os reajustes considerados abusivos, com sentenças determinando a anulação de aumentos e, novamente, compensações financeiras aos clientes lesados.
O ritmo do descontentamento é alarmante. Apenas nos últimos 60 dias, a cooperativa foi alvo de 79 novos processos. A gravidade da situação atraiu também a atenção do Ministério Público de Mato Grosso, que já atua em 42 ações contra a operadora, todas elas investigando práticas abusivas.
Fora dos tribunais, o cenário é ainda mais desolador. No site Reclame Aqui, a reputação da Unimed Cuiabá despencou para uma nota de 2,1 de 10 em 2025. A plataforma registrou 1.240 reclamações apenas no primeiro trimestre deste ano, um salto de 89% em relação ao mesmo período de 2024. A situação levou o Procon-MT a aplicar uma multa de R$ 4,65 milhões à cooperativa em março de 2023, por cobranças abusivas de coparticipação.
Entre a excelência e o colapso
A Unimed Cuiabá vive hoje uma dualidade gritante. De um lado, um hospital que é um verdadeiro cartão-postal da medicina moderna. Do outro, uma montanha de processos, reclamações e disputas internas que ameaçam sua credibilidade. A cooperativa, líder de mercado na capital, se encontra numa encruzilhada.
Para alinhar a imagem de excelência com a realidade do atendimento, será preciso mais do que paredes novas e equipamentos de última geração. Será necessário reconstruir a confiança, pilar essencial de qualquer serviço de saúde. Por enquanto, a balança entre a promessa de um futuro brilhante e os fantasmas de um passado recente conturbado pende, perigosamente, para o lado da crise.
O outro lado
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Rogério Florentino/conexaomt/Caminho Político
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