Um dos primeiros porta-vozes do combate à aids e à covid-19 no Brasil, David Uip, 73, comanda há pouco mais de um ano a área de infectologia da Rede D’Or. Candidato a uma cadeira na Academia de Medicina de São Paulo, com resultado previsto para julho, ele mantém uma rotina intensa de trabalho entre universidade, hospitais e sua clínica particular, instalada nos Jardins há 46 anos. Em seu consultório, o médico recebeu a Vejinha e refletiu sobre a repercussão da nova fase profissional, os avanços e atrasos epidemiológicos no país e as lições vividas na pandemia. Confira a entrevista a seguir.
Como é sua rotina hoje?
Estou no sexto ano como reitor da Faculdade de Medicina do ABC e todas as manhãs vou para lá. Passo antes na Rede D’Or, depois no Sírio e eventualmente no Einstein. Depois, venho para o consultório, começo às 4 e vou até umas 11 da noite. Dá uma olhada (mostra a longa lista de consultas). Eu durmo pouco, da 1h às 6h30. Foi assim a vida inteira.
O que o senhor faz para desopilar?
Faço fisioterapia. E me divirto. Se tem festa, vou, adoro a noite. Ainda bem que sou médico, e não boêmio (risos). Sempre fui esportista, mas aos 40 anos machuquei feio o joelho. Dizem que a idade é boa, mas não sei pra quem.
Como foi a transição para a Rede D’Or?
A rede teve a generosidade de não me pedir exclusividade, então interno meus pacientes onde quiser. Escolhi por ser um grande projeto. Mas criou um mal-estar.
Brigas com os outros hospitais?
Briga não. Mas mágoa acho que sim. As pessoas ficaram meio magoadas porque não entenderam direito a minha decisão. Como eu poderia abrir mão de coordenar uma rede com 79 hospitais?
Qual é a importância de comandar tudo isso aos 73 anos?
Para a especialidade, dá um destaque imenso, coloca a infectologia no patamar da cardiologia e da oncologia. E foi bom para a minha geração. Aos 70 anos, ou te põem para fora ou você sai. E eu comecei. Encontrei vários médicos mais novos dizendo que isso foi alentador.
Qual o maior desafio nesse trabalho?
São dois. As bactérias estão ficando resistentes a todos os antimicrobianos e é importante diminuir esse nível de resistência. Em pesquisas, há poucas novidades para o futuro. Se nada for feito, até 2050 morrerão 38 milhões de pessoas por infecção de bactérias e fungos multirresistentes. Usa-se muito antibiótico e as pessoas tentam se automedicar. Isso vai criando resistência.
Outro desafio é a sustentabilidade dos hospitais. O custo da medicina hoje é muito alto e surgem novas gerações de produtos e tratamentos. Como fazer tudo da melhor forma e custando menos? Lições não faltam, sou um indivíduo que viu o primeiro caso de aids e de covid no Brasil.
No Brasil, a contaminação por HIV aumentou e o número de morte por aids diminuiu (segundo boletim do programa Unaids). Como avalia esse cenário?
O que mudou a história do HIV foram os medicamentos, como o PrEP (Profilaxia PréExposição). Além de ter melhorado a qualidade de vida, diminuiu a transmissão. Tive um paciente jovem de 22 anos que acabou de se contaminar. Aqui não se julga ninguém, mas era um cara preparado, com conhecimento para se prevenir. O que aconteceu? A mistura de álcool e drogas é um fator.
Humberto Abdo/Caminho Político
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