Ministério Público do Estado de Mato Grosso

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segunda-feira, 7 de julho de 2025

Como será a escolha do sucessor do Dalai Lama

Prestes a completar 90 anos e vivendo no exílio, atual dalai-lama é um dos líderes religiosos mais influentes do mundo. Sucessão é assunto delicado acompanhado de perto pela China, Índia e EUA.
A escolha do sucessor do atual Dalai Lama, líder espiritual do budismo tibetano que completa 90 anos neste domingo (06/07), é acompanhada com atenção não só por sua comunidade religiosa, mas também pela China, Índia e Estados Unidos, por razões geopolíticas. Ele é considerado um dos líderes mais influentes do mundo, atraindo seguidores muito além do budismo.
O nome Dalai Lama é, na verdade, um título reservado ao líder espiritual supremo da escola Gelug (Chapéu Amarelo) do budismo tibetano. Por muitos anos, esse foi também o título do líder político do Tibete, região autônoma da China que vê suas tentativas de emancipação serem reprimidas desde a década de 1950, fato que levou o monge budista a se exilar na Índia ainda em 1959, após um fracassado levante contra os comunistas de Mao Tsé-Tung.
Em 1989, o atual dalai-lama foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 1989 por sua campanha pacífica de mais de 40 anos para acabar com o domínio chinês sobre o Tibete. Em 2011, ele abdicou de sua autoridade política, repassando-a a uma autoridade eleita no exílio, mas manteve o título de líder espiritual.
A China o considera um separatista perigoso, e por isso proíbe quaisquer demonstrações públicas de devoção a ele, bem como exibições de imagens do líder religioso.
Não à toa, sua sucessão é um assunto de grande interesse geopolítico.
Como o atual Dalai Lama foi escolhido?
O homem que o mundo atualmente conhece como Dalai Lama nasceu como Lhamo Dhondup em 6 de julho de 1935 no vilarejo de Taktser, onde hoje é a província chinesa de Qinghai.
Seguindo a tradição, ele recebeu o título de 14º dalai-lama após uma missão do governo tibetano identificá-lo, aos dois anos de vida, como a reencarnação do espírito de seu precursor, Thubten Gyatso. A decisão teria se baseado em diversos sinais, como uma visão de um monge experiente e a identificação pela criança de objetos que pertenceram a Gyatso. "É meu, é meu", teria dito o pequeno, segundo biografia publicada no site oficial de Dalai Lama.
Lhamo Dhondup foi entronado no inverno de 1940 no Palácio de Potala, em Lhasa, capital do Tibete, e oficialmente declarado líder espiritual dos tibetanos, adotando o nome Tenzin Gyatso.
Como o sucessor de Dalai Lama será escolhido?
A tradição dita que a busca começa após a morte de um dalai-lama. A responsabilidade de encontrar sua reencarnação recai sobre os lamas (mestres) mais elevados, que seguem um mapa de pistas místicas, guiados por visões e profecias, mas também por instruções deixadas pelo antecessor.
Munida dessas pistas iniciais, a busca começa, levada a cabo por uma equipe disfarçada. Os lamas procuram sinais físicos particulares no corpo do candidato, como orelhas grandes ou marcas auspiciosas.
Ao encontrá-lo, os monges confrontam o candidato com objetos do dalai-lama em sua vida anterior, como terços ou bastões, para que ele os identifique, sem hesitar. Outros elementos de prova de reencarnação são a capacidade de reconhecer pessoas próximas do dalai-lama em sua vida anterior ou de lembrar de sua vida passada.
Uma figura importante consultada nesse processo é o panchen lama, segundo na hierarquia espiritual. Mas o paradeiro dele é incerto desde 1995.
O título havia sido concedido naquele ano ao garoto Gedhun Choekyi Nyima, de seis anos. Mas ele desapareceu com a família poucos dias depois de ser reconhecido por Dalai Lama.
Organizações de direitos humanos denunciaram o episódio, classificando-o de sequestro de motivação política. No lugar da criança, a China instalou seu próprio candidato e aprovou leis que dão ao Partido Comunista o poder de autorizar todas as reencarnações.
Sucessor não virá da China, avisa líder budista
No livro Voice for the Voiceless: Over Seven Decades of Struggle With China for My Land and My People ("Uma voz para os sem voz: mais de sete décadas de luta contra a China por meu país e meu povo", em tradução livre), lançado em março deste ano, Dalai Lama afirma que seu sucessor vai nascer fora da China, no "mundo livre".
Essa mensagem não foi repetida ao pé da letra no pronunciamento em vídeo feito por Dalai Lama na última quarta-feira. O líder do budismo tibetano, porém, confirmou sua intenção de manter o título até a morte, e frisou que somente seus auxiliares terão a autoridade para localizar sua reencarnação.
"Ninguém mais tem autoridade para interferir nessa questão", disse Dalai Lama a seus monges.
A tarefa caberá à Gaden Phodrang Foundation. A entidade, fundada por Dalai Lama em 2015, tem a missão de "manter e apoiar a tradição e instituição do Dalai Lama" no que diz respeito aos seus deveres espirituais e religiosos, segundo seu site oficial.
No passado, o líder chegou a cogitar a possibilidade de eleger um sucessor ainda em vida ou até mesmo encerrar a linhagem com a sua morte, para evitar que a figura do dalai-lama seja instrumentalizada por Pequim. Dalai Lama também sugeriu que poderia reencarnar como mulher.
O parlamento tibetano no exílio – que, assim como Dalai Lama, atua em Dharamsala, cidade indiana na região dos Himalaias – afirma que foi estabelecido um sistema para o governo no exílio continuar seu trabalho até que seu sucessor seja localizado.
O que diz a China?
A China diz que seus líderes têm o direito de aprovar o sucessor do dalai-lama, aludindo a uma tradição dos tempos do império datada do final do século 18.
Representantes do governo chinês insistem que a reencarnação do dalai-lama deveria ser decidida de acordo com leis nacionais que estabelecem, entre outras coisas, que o líder precisa ter nascido dentro da China e que a reencarnação precisa ser reconhecida por Pequim.
A China teme a influência crescente de grupos radicais tibetanos no exílio e quer, por isso, evitar o surgimento de uma nova liderança carismática como o 14º dalai-lama ou até mesmo a existência de dois detentores do título – um aprovado por Pequim e outro reconhecido pelos exilados.
Já os tibetanos, por sua vez, desconfiam que a China esteja querendo instrumentalizar a sucessão para influenciar a comunidade.
O próprio Dalai Lama já afirmou ser inapropriado que os comunistas chineses, que rejeitam religião, queiram "interferir no sistema de reencarnação de lamas, quanto mais do Dalai Lama".
Em seu último livro, o monge budista pediu aos tibetanos que não aceitem "um candidato escolhido por ninguém para fins políticos, incluindo os da República Popular da China".
A diplomacia chinesa insiste que Dalai Lama é um exilado político "sem nenhum direito de representar o povo tibetano".
Pequim nega reprimir os direitos do povo tibetano, e afirma que pôs fim a um regime de servidão e trouxe prosperidade a uma região antes atrasada.
Por que sucessão interessa aos EUA e à Índia?
Estima-se que a Índia abrigue mais de 100 mil tibetanos budistas que vivem e trabalham no país. Dalai Lama também é reverenciado por muitos indianos, e especialistas em relações internacionais afirmam que a presença dele na Índia é útil do ponto de vista geopolítico.
Já os Estados Unidos competem de forma cada vez mais acirrada com a China e têm repetidamente afirmado seu compromisso com os direitos humanos dos tibetanos.
Congressistas americanos já avisaram que não permitirão que a China influencie a escolha do sucessor de Dalai Lama.
Em 2024, o presidente americano Joe Biden assinou uma lei que pressiona a China a resolver uma disputa sobre as demandas do Tibete por maior autonomia.
ra (Reuters, EFE, ots)Caminho Político
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