domingo, 10 de agosto de 2025

Thundercats: série de animação precisou de psicólogo para acalmar os pais, mas se transformou em negócio milionário

Os anos 1980 foram um momento de ouro para a animação nos Estados Unidos. Todas as tardes, as crianças da época podiam desfrutar de um cardápio variado que incluía títulos tão distintos como Os Ursinhos Carinhosos, Jem, Os Smurfs, O Inspetor Bugiganga ou Rainbow Brite.
Mas o gênero de aventuras, nesse período, foi especialmente popular, com personagens icônicos como He-Man ou She-Ra. E, nessa linha, houve um desenho animado de aventura e ficção científica que se tornou um dos favoritos do público da época: Thundercats.
Os pais da criatura
Diante do sucesso de He-Man, G.I. Joe e Transformers, muitos produtores buscavam um projeto que pudesse replicar (ou superar) esses fenômenos. As séries de animação protagonizadas por um grupo de valentes guerreiros haviam se consolidado como as preferidas das crianças, e as possibilidades comerciais proporcionadas pelas vendas de brinquedos faziam desse um negócio perfeito.
Stanley Weston, empresário ligado ao mundo das séries e dos desenhos animados, pioneiro no negócio de venda de brinquedos baseados em licenças televisivas, juntou-se ao animador Tobin Wolf, e juntos idealizaram uma linha de personagens humanos com traços felinos.
Com os designs finalizados, o roteirista Leonard Starr trabalhou na história desses felinos cósmicos: de onde vinham, para onde iam, quem eram seus vilões e qual era o status quo do mundo onde se desenrolariam suas batalhas.
Sob o olhar atento de Weston, Thundercats começou a tomar forma. Inicialmente, foi produzida uma temporada com um investimento de nada menos que 15 milhões de dólares — uma soma notavelmente alta, que a coloca no pódio dos cinco desenhos animados mais caros dos anos 80. Embora, em 1983, os primeiros episódios já estivessem prontos, para desgosto de Weston, a exibição de Thundercats só aconteceu em 1985.
'Lições de vida'
O negócio demorava a engrenar, não havia certeza sobre o interesse que o programa despertaria nas crianças, e nada garantia que Lion-O e seu grupo seriam um sucesso. Antes mesmo de ir ao ar, os Thundercats tiveram que enfrentar uma ameaça pior que Mumm-Ra: associações de pais e mães que criticavam muitos desses desenhos animados por considerá-los violentos demais para o público infantil. Inúmeras séries enfrentaram rumores de cancelamento fomentados apenas por adultos que afirmavam que “ficar batendo e atirando” não era uma forma saudável de entretenimento para as crianças. Ciente desse risco, a produção de Thundercats decidiu agir.
Poucas semanas antes de o programa estrear, um comunicado oficial adiantava: “Thundercats tem toda a ação e aventura que as crianças amam, mas também algo mais: lições sobre vida, amizade, verdade, honestidade e justiça”. Longe de ser apenas um slogan, o interesse em conquistar o coração dos pais foi tão grande que a produção decidiu contratar um especialista para analisar os roteiros de todos os episódios. O psicólogo infantil Robert Kuisis foi contratado pela produtora com o objetivo de garantir que as histórias sempre terminassem com algum tipo de moral.
Por isso, a cena final dos capítulos mostrava algum dos Thundercats falando diretamente com o público e compartilhando a lição aprendida ao longo da aventura — recurso semelhante ao de outros programas da época, como Os Falcões Galácticos. A série precisava se sustentar por si só, cativar os telespectadores e criar um vínculo de fascínio com as crianças. Afinal, como se sabia, o verdadeiro negócio estava na venda dos bonecos, seus veículos e toda a parafernália de brinquedos.
Nos anos 80, havia muito lobby contra desenhos animados cujo único objetivo aparente era vender brinquedos. O modelo de He-Man, por exemplo — cuja série foi pensada como plataforma para impulsionar as vendas de bonecos — provocou uma onda de críticas que chegou a ser analisada pela Comissão Federal de Comunicações dos EUA.
Linha de brinquedos
Embora uma decisão judicial tenha autorizado as empresas a produzir brinquedos baseados em séries infantis, anos depois esse parecer foi revisto, e concluiu-se que os comerciais dos brinquedos de uma série não poderiam ser exibidos nos intervalos da própria série. No caso de Thundercats, isso não representou um obstáculo, embora o conteúdo dos episódios frequentemente estivesse atrelado à futura venda de brinquedos.
Os roteiristas de Thundercats muitas vezes precisavam seguir orientações da fabricante de brinquedos quando esta apresentava uma figura que pretendia lançar e que deveria estrear na animação para estimular a demanda pelo novo personagem. Assim, os escritores eram obrigados a criar uma história que servisse como introdução do boneco.
Embora essa dinâmica incomodasse muitos roteiristas, para Kimberly Morris, responsável por vários episódios de Thundercats, ela era um incentivo: “Muitos elementos surgiam do desejo de expandir a linha de brinquedos. Para mim, isso representava mais um desafio criativo do que um conflito. Pedirem para eu introduzir um novo personagem era uma oportunidade narrativa fantástica”.
Como era de se esperar, a linha de brinquedos de Thundercats foi um sucesso descomunal em todo o mundo. Até hoje, continuam sendo lançadas novas figuras, e os bonecos originais em bom estado têm altíssimo valor de revenda. A peça mais rara da coleção é um personagem chamado Mad Bubbler, que nunca apareceu na série, mas cujos protótipos chegaram a ser vendidos em sites de leilão por mais de 25 mil dólares.
Fãs até hoje
Quarenta anos após sua estreia na TV, toda uma geração de homens e mulheres lembra de assistir a Thundercats na infância. A série teve uma vida televisiva sólida, de 1985 a 1989, com 130 episódios divididos em quatro temporadas. Naqueles anos, o programa foi um verdadeiro fenômeno, a ponto de serem registradas, nos EUA, 81 meninas batizadas como Cheetara, em homenagem à heroína do grupo — um recorde insólito que evidencia o boom dos felinos cósmicos.
Thundercats ainda hoje conta com milhões de fãs ao redor do mundo, que celebram e reassistem aos episódios clássicos com entusiasmo intacto. Menos lembrado, porém, é o show musical ao vivo que percorreu várias cidades dos EUA: chamado Thundercats Live!, trazia um grupo de dançarinos vestidos com trajes de borracha, em um espetáculo que parecia mais uma cópia ruim de Cats do que algo inspirado no desenho animado.
Com o passar das décadas, houve duas novas versões de Thundercats (em 2011 e 2012), mas ambas ficaram muito aquém da popularidade da série original. Afinal, como muitos dos grandes desenhos animados dos anos 80, seu encanto e sua mística deixaram uma marca impossível de reproduzir.
Assessoria/ Martín Fernández Cruz do La Nación/OGlobo/Caminho Político
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