A recente controvérsia sobre o uso de slogans em uniformes escolares em Várzea Grande revela muito mais do que uma simples disputa estética. Trata-se de um sintoma de uma prática antiga e persistente na política brasileira: a apropriação de políticas públicas como vitrines pessoais de gestores. O caso, que envolve as gestões de Lucimar Campos, Kalil Baracat e agora Flávia Moretti, expõe a dificuldade de separar o interesse público da autopromoção política. Uniformes escolares deveriam simbolizar igualdade, pertencimento e compromisso com a educação. No entanto, quando estampados com frases que remetem a lemas de governo, transformam-se em instrumentos de propaganda. O que deveria ser um símbolo de cidadania passa a carregar a marca de uma gestão, como se o direito à educação fosse um favor concedido por um político e não uma obrigação do Estado.
A defesa de que os slogans representam “identidade administrativa” soa frágil diante do contexto. Identidade institucional se constrói com políticas consistentes, transparência e resultados, não com frases impressas em tecidos pagos com dinheiro público. O uso de slogans em uniformes é, na prática, uma forma sutil de perpetuar a imagem de quem governa, especialmente em períodos pré-eleitorais.
O mais preocupante é a naturalização dessa prática. Em vez de questionar o desvio ético, parte da população e até gestores públicos tratam o tema como algo banal, um detalhe sem importância. Mas é justamente nesses “detalhes” que se escondem os mecanismos de manipulação simbólica que corroem a impessoalidade da administração pública.
Enquanto o debate gira em torno de slogans, escolas enfrentam problemas estruturais, falta de recursos e desafios pedagógicos urgentes. A energia gasta para justificar frases em uniformes poderia ser direcionada à melhoria da qualidade do ensino e à valorização dos profissionais da educação.
A crise dos slogans em Várzea Grande é, portanto, mais do que uma disputa política local. É um espelho de como o marketing político ainda se infiltra nas políticas públicas, transformando o que deveria ser serviço em espetáculo. E enquanto a política continuar sendo tratada como marca, o cidadão continuará sendo tratado como consumidor — e não como sujeito de direitos.
Régis Oliveira/Caminho Político
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