Casa Branca lança página para listar jornalistas e veículos da imprensa acusados de serem "mentirosos" pelo governo. Para especialistas, , trata-se de uma nova campanha difamatória contra a imprensa. Não é segredo que o atual governo dos Estados Unidos é hostil em relação ao jornalismo. Mas, agora, o presidente Donald Trump anunciou uma nova investida contra a imprensa ao criar um chamado "Hall da Vergonha" e uma relação de "infratores da mídia", na qual são listados veículos e jornalistas que, segundo o governo, publicam reportagens falsas, tendenciosas ou enganosas.
Em comunicado, a Casa Branca caracterizou a iniciativa como "um lança-chamas" contra a "mídia das fake news". Já especialistas se preocupam sobre o efeito das medidas, mirando alguns dos maiores de comunicação dos EUA e do mundo, sobre a liberdade de imprensa no país.
"As fake news que vemos sendo despejadas deste prédio diariamente... é sinceramente esmagador tentar acompanhar tudo isso," disse, na semana passada, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, durante uma coletiva com os correspondentes que cobrem a Presidência.
"Infratores da mídia"
A pagina "infratores da mídia" (Media Offenders, em inglês), que está inserida dentro do website da Casa Branca, coloca em destaque chamados "infratores da semana" que o governo acusa de mentir.
O escolhido desta semana foi o The Washington Post, um dos maiores jornais dos Estados Unidos, ao lado de uma tarja em vermelho, que faz lembrar um carimbo policial, na qual se lê "exposto". Dois repórteres citados nominalmente são acusados de publicar uma "mentira sem provas para minar as operações antiterrorismo do Departamento de Guerra".
Os veículos citados vão, então, para o inventário chamado de "Hall da Vergonha" (Hall of Shame), que por ora tem 39 entradas. Os nomes já incluem o jornal The New York Times, as agências The Associated Press e Reuters, o site Político, o diário Wall Street Journal e outros dos maiores canais de notícias dos EUA e do mundo.
As acusações contra os veículos incluem parcialidade, mentira, alegação falsa, má conduta, omissão de contexto, deturpação, reportagem circular, falha em reportar e "loucura da esquerda".
Ameaça à liberdade de imprensa
Para Katherine Jacobsen, coordenadora regional do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, trata-se de uma campanha difamatória contra a imprensa. "Não posso reforçar o bastante quão preocupante isso é ", afirma a especialista. Para ela, o próprio governo, ao criar um site com uma linguagem agressiva contra jornalistas, passa uma mensagem de permissão para ataques contra repórteres e veículos, seja em canais virtuais ou no mundo real.
Jonathan Katz, pesquisador em estudos de governança no think tank Brookings Institution, concorda que o site equivale a uma ameaça aos veículos de mídia: "Pode ter um efeito inibidor sobre a liberdade de expressão e a mídia independente", disse à DW. "Estamos observando atentamente para ver como isso afeta a liberdade de imprensa nos Estados Unidos."
A Primeira Emenda da Constituição dos EUA protege a liberdade de expressão e de imprensa. Trata-se de um princípio que os americanos consideram no DNA da sua sociedade.
Já em 1776, legisladores da Virgínia colonial aprovaram uma declaração de direitos que destacava a importância de uma imprensa livre: "A liberdade de imprensa é uma das maiores fortalezas da liberdade e nunca pode ser restringida, exceto por governos despóticos.”
Pilar da democracia
Para outros especialistas, o site "Infratores da mídia" marca uma hostilidade sem precedentes nas relações entre governo e imprensa. "Todo presidente, em algum momento, teve problemas com a mídia e a sua cobertura. Mas nunca vimos um presidente atacar a mídia da forma como Trump fez", disse Tom Jones, escritor sênior do Instituto Poynter à DW.
Leavitt acusa os jornalistas de serem o problema, não o presidente: "O padrão do jornalismo caiu para um nível historicamente baixo neste país."
Segundo uma pesquisa conduzida pelo Pew Research Center em setembro de 2024, 60% dos eleitores ou simpatizantes republicanos disseram que a mídia estava indo "não muito bem" ou "nada bem" na cobertura da campanha eleitoral daquele ano. Já entre os democratas e seus simpatizantes, 77% disseram que a mídia estava fazendo um trabalho "razoavelmente bom" ou "muito bom" na cobertura da eleição.
Jones, do Instituto Poynter, afirma que os repórteres políticos nos EUA estão fazendo o trabalho crucial de manter o público informado, mesmo quando parte da população — e o governo — não gosta do que eles produzem. "É trabalho da mídia responsabilizar o poder. Embora nem sempre seja perfeito, sua cobertura é baseada em investigação profunda e fatos."
Já Katz argumenta que uma mídia livre e independente é um dos sete pilares sobre os quais a democracia dos EUA se sustenta. "Neste momento, esse pilar está sendo erodido", diz.
Os outros seis pilares listados pelo Instituto Brookings, uma organização sem fins lucrativos, incluem a proteção às eleições, a defesa do Estado de direito, a luta contra a corrupção, a proteção da governança plural, o combate à desinformação e a efetiva aplicação da democracia.
Assessoria/Carla Bleiker/Caminho Político
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