Ainda estamos longe de entender o
supremo e mais profundo segredo da vida, o princípio da origem dos
organismos. Quem sabe se um dia iremos realmente descobrir? Tudo o
que sabemos hoje é que, quando os organismos são formados, algo que até então não
existia passa a existir em decorrência da ação de indivíduos. Organismos
vegetais e animais são mais do que um conglomerado de células únicas, e a
sociedade é mais do que a soma dos indivíduos que a compõem. Ainda não
entendemos por completo toda a significância deste fato. Nossos
pensamentos ainda estão limitados pela teoria mecânica da conservação da
energia e da matéria, a qual não é capaz de nos dizer como um pode virar
dois. Aqui, novamente, se quisermos ampliar nosso conhecimento acerca da
natureza da vida, compreender como funciona a organização social terá de
preceder o entendimento da organização biológica.
Historicamente, a divisão do trabalho
se originou em dois fatores da natureza: a desigualdade das capacidades e
habilidades humanas, e a variedade das condições externas da vida humana na
terra. Estes dois fatos são, na realidade, um só: a diversidade da
natureza, a qual não se repete mas cria o universo em variedade infinita e
inexaurível. O critério especial de nossa investigação, no entanto, a
qual é dirigida para o conhecimento sociológico, nos permite tratar estes dois
aspectos separadamente.
É óbvio que, tão logo a ação humana
se tornou consciente e lógica, ela certamente foi influenciada por estes dois
fatores. Eles, com efeito, se combinaram quase que como para forçar a
divisão do trabalho sobre a espécie humana. Jovens e velhos, homens e
mulheres, crianças e adultos, todos cooperam entre si ao fazerem os melhores
usos possíveis de suas várias habilidades. Aqui está também o germe da
divisão geográfica do trabalho: o homem vai à caça e a mulher vai à fonte para
buscar água. Fossem as habilidades e a força de todos os indivíduos, bem
como as condições externas de produção, idênticas em todos os lugares, a ideia
da divisão do trabalho jamais poderia ter surgido. Sob essas condições, o
homem, por si só, jamais teria tido a ideia de fazer com que sua luta diária
pela sobrevivência fosse facilitada pela cooperação gerada pela divisão do
trabalho. Nenhuma vida social poderia ter surgido entre homens de iguais
capacidades e habilidades em um mundo que fosse geograficamente uniforme.
Talvez os homens iriam se agrupar
para assim conseguir lidar com aquelas tarefas que estivessem além de suas
forças individuais; porém, tal tipo de aliança não forma uma sociedade.
As relações que ela cria são transientes, e duram somente enquanto durar a
ocasião criada por ela. Sua única importância na origem da vida social é
que ela cria uma reaproximação, uma reconciliação, entre homens, o que traz
consigo o reconhecimento mútuo da diferença que existe entre as capacidades
naturais de cada indivíduo, propiciando assim o surgimento da divisão do
trabalho.
Uma vez que o trabalho foi dividido,
a própria divisão exerce uma influência diferenciadora. O fato de o
trabalho ser dividido possibilita um maior aperfeiçoamento do talento
individual, o que por si só já faz com que a cooperação seja ainda mais
produtiva. Por meio da cooperação, os homens são capazes de alcançar
aquilo que estaria além de suas capacidades enquanto indivíduos, e até mesmo o
trabalho que um indivíduo é capaz de realizar sozinho se torna mais
produtivo. Porém, tudo isto só pode ser entendido em toda a sua
complexidade quando as condições que governam o aumento da produtividade sob a
cooperação são especificadas com precisão analítica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário