
A
cada 100 alunos que entram no ensino fundamental, apenas 44 continuam
nos bancos escolares até o ensino médio. Desses 44, metade abandona as
salas de aula e somente 12 chegam à universidade, conforme dados
coletados no ano passado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Um dos principais motivos para
esses índices, segundo o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), é a
inadequação do ensino médio à realidade dos jovens. Uma comissão
especial da Câmara pretende ajudar a resolver o problema.
Instalada no dia 23 de maio, a Comissão Especial da Reformulação do
Ensino Médio reúne até o momento 24 deputados de 13 partidos para
encontrar um modelo melhor para a última fase da educação básica no
País. “O problema é que o modelo atual é uma etapa meramente
intermediária para que aluno possa chegar à universidade. Por isso, não
responde às demandas da economia brasileira nem às expectativas de
nossos jovens”, argumenta Lopes, que preside o grupo.
.
O relator, deputado Wilson Filho (PMDB-PB), explica que o colegiado
deve realizar, a partir de agosto, reuniões com o ministro da Educação,
Aloizio Mercadante, com técnicos da pasta, secretários de educação,
gestores de centros de ensino, pesquisadores nacionais e estrangeiros,
além de representantes de entidades que atuam na área. Um relatório
preliminar, a ser elaborado até novembro, deverá nortear discussões a
respeito do tema em diversos estados. A ideia é que o grupo chegue a uma
proposta de alteração da legislação atual sobre o ensino médio até o
final do próximo ano.
Conteúdos obrigatórios
Amanda Feitoza é aluna de uma grande escola em Brasília, o Setor Leste. A
menina, que pretende estudar medicina, reclama das aulas de física:
“Não vou usar essa disciplina para nada, tenho certeza de que isso não
fará parte do meu futuro profissional”. Para Roger Vila Nova, colega de
Amanda, o problema está nas aulas de química: “Além de não entender todo
o conteúdo, sei que nunca irei usá-lo”.

As queixas não são isoladas e boa parte dos estudantes não entende o
porquê de determinados conteúdos escolares serem obrigatórios. O
problema é que nem todos os alunos pretendem frequentar um curso
superior e, além disso, muitas matérias são imediatamente esquecidas
após a entrada na universidade."
O conflito aumenta a cada dia: a carga
horária é intensa e a maior parte do conteúdo vira uma grande decoreba.
Consequência disso é o desinteresse cada vez maior pelo ensino médio”,
avalia o doutor em Educação e professor da Universidade de Brasília
(UnB) Remi Castioni.
Uma saída possível é a estruturação das aulas a partir de áreas de
conhecimento, como ciências, cultura, tecnologia e esporte. Cada
estudante deveria, portanto, escolher a sua área de interesse, que seria
priorizada na grade horária, sem deixar de lado os outros conteúdos. A
medida já é implementada, com particularidades, em outros países, como a
França, e recebe elogios de alguns alunos, como a Amanda: “A partir do
momento em que escolhemos o que vamos estudar, damos valor para aquilo”.
A opção, no entanto, não é unânime. O professor de história Luiz
Guilherme Batista acredita que a segmentação do ensino médio pode
diminuir a qualidade do aprendizado e, pior, limitar as escolhas
profissionais dos estudantes. “Um adolescente não pode definir com 15
anos o que será para o resto da vida. O atual ensino, apesar de seus
defeitos, permite que o aluno tenha a chance de fazer uma opção mais
ampla. Se ele não tiver acesso a informações gerais em boas aulas, que
chance terá de gostar de filosofia, por exemplo?”, questiona.
Reportagem – Carolina Pompeu
Edição – Marcelo Oliveira
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