O grupo chefiado por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tem
características mafiosas de uma quadrilha montada para crimes graves,
segundo a procuradora da República Léa Batista de Oliveira. Ontem ela e o
colega Daniel de Resende Salgado falaram por mais de quatro horas à CPI
que investiga as relações do contraventor com políticos e empresários.
Ambos participaram das investigações relacionadas às operações Vegas e
Monte Carlo, da Polícia Federal.
Salgado disse que as investigações se restringiram à cooptação de
agentes públicos e admitiu que o caminho do dinheiro ainda precisa ser
investigado.
Para Léa, o “silêncio orquestrado” pelos integrantes do grupo diante
da Justiça Federal e diante da própria CPI revela o grau de organização
da quadrilha, classificada por ela de “sofisticada, armada, complexa e
ousada”.
Segundo a procuradora, se o grupo não for sufocado financeiramente, continuará atuando, esteja o líder preso ou não.
Ficou clara a estrutura hierárquica com distribuição de renda entre
os membros e a lealdade ao chefe, que cooptou agentes do Estado,
responsáveis por eliminar a concorrência num claro controle territorial —
disse.
Os procuradores informaram que as investigações não aprofundaram as
relações da construtora Delta com o esquema de Cachoeira. Eles
identificaram “sinais de aproximação” entre o contraventor e Cláudio
Abreu, representante da Delta no Centro-Oeste, e também suspeitas de
envolvimento da Delta com empresas de fachada.
Intimidação
A procuradora também relatou as formas de intimidação utilizadas
contra ela pelo grupo, como dois e-mails com ameaças, ambos
identificados com origem em Anápolis (GO), cidade usada como base por
Cachoeira. Contou ainda que uma mulher tentou invadir sua residência, em
Goiânia.
Léa traçou um histórico da atuação recente do Ministério Público no
combate aos jogos de azar e informou que a Operação Monte Carlo foi
iniciada efetivamente em novembro de 2010, quando a Polícia Federal
começou monitoramento telefônico, identificou envolvidos e aparelhos
Nextel habilitados no exterior. Em março de 2011, o caso foi transferido
para a Justiça Federal, devido a envolvimento de um policial
rodoviário
federal.
.
Hoje depõem na CPI Jayme Rincón, ex-tesoureiro da campanha do
governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e Aredes Correia Pires,
ex-corregedor da Polícia Civil de Goiás.
No Supremo Tribunal Federal, o ministro Marco Aurélio analisa um
pedido para que a CPI não convoque, nem obrigue a comparecer, nem mesmo
investigue ou indicie Marconi.
O mandado de segurança (MS 31.574) foi
impetrado pelo presidente da Assembleia Legislativa de Goiás, o deputado
estadual Jardel Sebba (PSDB). Ele sustenta que nova convocação do
governador — já proposta pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e por
dois deputados — afronta o princípio federativo, uma vez que a
competência originária de processar e julgar supostos crimes de
governadores seria do Superior Tribunal de Justiça, após autorização da
assembleia legislativa.
Jornal do Senado
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