Com
as greves dos servidores se avolumando e ganhando ímpeto, Dilma
Rousseff fez o que costuma fazer quando o calo aperta: chamou seu tutor.
Às voltas com mais de 300 mil funcionários parados, caos em rodovias e
aeroportos e uma incipiente ameaça de desabastecimento de alguns
produtos, a presidente da República não parece ter claro como agir, a
não ser gritar por socorro. Mais uma vez, ela apelou a Lula.
Ontem
foi mais um dia de agruras para quem tem que lidar com serviços
prestados por alguma das 30 categorias de servidores em greve no país.
As imagens mais eloquentes do dia foram as das quilométricas filas no
embarque internacional do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Uma
operação-padrão da Polícia Federal travou o terminal por cerca de quatro
horas e atrasou um terço dos voos internacionais.
O
que os viajantes sofrem nos aeroportos já vem se repetindo há dias nos
portos, onde, ao protesto dos policiais federais, junta-se a paralisação
dos servidores da Receita Federal, que já vem desde 18 de junho, da
Vigilância Sanitária, em greve há 23 dias, e dos fiscais agropecuários. A
consequência é um paradão assustador.
O
valor dos produtos que aguardam liberação nas alfândegas do país já
chega a US$ 2,5 bilhões. "Em dez dias começaremos a ter problemas
sérios", resumiu
um industrial do setor farmacêutico, sobre o suprimento de
medicamentos. Apenas no setor exportador, o movimento grevista está
gerando custo adicional diário de R$ 10 milhões às empresas.
Diante
deste quadro desolador e bastante incômodo para a população, o que se
esperava do governo federal era firmeza e decisão. Mas o que se vê, até
agora, é enrolação. O Ministério do Planejamento promete alguma resposta
para os grevistas apenas na próxima semana. Enquanto isso, a população
continuará penando em filas, em congestionamentos, pagando mais caro por
produtos que começam a escassear...
Mas
pior papel faz a presidente. Diante das dificuldades, Dilma apelou ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na terça-feira, foi a ele pedir
socorro. "O governo concluiu que avaliou mal a força do movimento.
Dilma quer que Lula use seu prestígio para segurar os sindicalistas",
informa Ilimar Franco n'O Globo. "Lula deve atuar principalmente para atenuar a radicalização do movimento, que beira a ruptura", relata o Valor Econômico, em manchete.
Na
realidade, a presidente não está conseguindo administrar uma situação
que lhe foi legada, mas de cuja gênese ela foi partícipe e beneficiária -
seja como ministra da Casa Civil, seja posteriormente como candidata
vitoriosa ao Planalto. As benesses distribuídas ao funcionalismo por
Lula começam, muito antes do que se imaginava, a não caber no cobertor
curto do Orçamento, às voltas com queda de arrecadação e uma economia em
franca desaceleração.
Em
editoriais, os jornais hipotecam apoio ao Planalto e criticam os
grevistas. Mas a racionalidade que pregam no trato do movimento que
paralisa o serviço público não parece encontrar eco nem mesmo no
governo, que, a despeito de todas as limitações orçamentárias, foi capaz
até de criar duas novas estatais apenas nos dois últimos dias.
Além
da já esperada Etav, cuja atribuição é cuidar do trem-bala, teremos
agora também a inusitada Amazul, responsável pelo Programa Nuclear da
Marinha Brasileira, que inclui a construção do primeiro submarino à
propulsão atômica do país, como mostra O Globo. Trata-se da 126ª empresa sob controle do balofo Estado brasileiro.
As
recentes atitudes diante das reivindicações dos grevistas desnudam
contradições da presidente e, pior que isso, sua limitada capacidade de
decisão. Enfrentar paralisações de funcionários públicos é atribuição
indelegável do governante de turno. Bem gerir o Orçamento, estabelecendo
prioridades na aplicação de recursos que vão ficando mais escassos,
também. Entretanto, diante do desafio de arbitrar, Dilma Rousseff, mais
uma vez, apelou para o síndico. Parece que até mesmo a presidente da
República decretou greve.
Instituto Teotônio Vilela
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