A resposta à pergunta mais repetida desde o início do julgamento do
mensalão ainda é desconhecida no próprio STF (Supremo Tribunal Federal):
a corte vai condenar ou inocentar os principais réus do que o
Ministério Público Federal chama de "núcleo político" do escândalo?
Nenhum deles revelou sua convicção. Poucos sinalizaram como devem votar.
Mas, embora o clima seja de desconfiança e os magistrados evitem trocar
confidências, vários foram prolixos ao palpitar sobre o que imaginam
ser a posição dos colegas.
Pela média das opiniões, o placar estaria hoje indefinido --mas apertado
para os réus. Pelo menos cinco ministros estariam emitindo sinais de
que devem condenar protagonistas "políticos" do mensalão. Entre eles,
José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do governo Lula.
Quatro manteriam tal discrição que seria arriscado até mesmo especular
sobre seus votos. Dois são tidos como relativamente certos pela
absolvição de ao menos alguns.
EMOÇÃO
Joaquim Barbosa é rara unanimidade: todos os que opinaram afirmam que
ele condenará os principais réus. A avaliação coincide com a dos
advogados: nenhum tem esperança de voto favorável.
Em seu primeiro pronunciamento, na semana passada, Barbosa votou pela
condenação do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) nos três crimes dos
quais é acusado.
Relator do processo, Barbosa foi rigoroso com a defesa e se negou a
receber até mesmo o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, que representa um
ex-diretor do Banco Rural, sem o Ministério Público, que faz a acusação.
Em segundo no "ranking", pela condenação dos principais réus, está o presidente da corte, Carlos Ayres Britto.
O próprio Britto já se definiu a interlocutores como liberal em casos de
"ladrão de galinha", mas duro com crimes "de colarinho branco".
O ministro nega que já tenha o voto definido. "Não é bem assim. Tenho a
estrutura pronta. Mas o fecho, não. Senão, para que serviria essa fase
de oralidade [em que acusação e defesa falam]? Seria um teatro, uma
farsa."
Gilmar Mendes foi incluído entre os que podem condenar. O ministro não
esconde a indignação pelos "ataques" feitos a ele por setores do PT e
blogs financiados por estatais. Interlocutores de Mendes, no entanto,
dizem que ele "jamais" se deixaria "pilotar" pela emoção.
Tido como "garantista" e indiferente à pressão "das ruas", ele já deu
voto de absolvição em casos como o do ex-ministro Antonio Palocci,
acusado de quebrar sigilo de um caseiro. É esperança para advogados. Mas
o respaldo que tem dado a Barbosa indicaria voto pela condenação.
Cezar Peluso não trai seu ânimo nem em simples gestos no plenário. Mas é
tido como voto contra. Na aceitação da denúncia pelo STF, em 2007, foi
considerado "duro". E disse sobre Dirceu: "Há dificuldade em admitir que
não soubesse da desenvoltura do tesoureiro do PT [Delúbio Soares]" em
manipular "quantias vultosas" de dinheiro.
Editorial: Sem cartas marcadas
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MÔNICA BERGAMO
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