Na entrevista à revista
CartaCapital desta semana, a presidenta Dilma Rousseff disse estranhar que só
pessoas ligadas a denúncias de corrupção no PT estejam condenadas e presas.
Também manifestou
preocupação com o fato de os vazamentos de informações sobre a operação Lava
Jato, alvo de delação premiada do ex-diretor da Petrobras, tenham sido
direcionados exclusivamente contra o Partido dos Trabalhadores.
Dilma citou o bicheiro
Carlinhos Cachoeira e o ex-senador Demóstenes Torres como dois notórios impunes
das denúncias de corrupção eleitoral que deveriam estar também presos. “Fora o
pessoal do PT, não tem ninguém na cadeia”, reclama a presidenta.
Indignada com a “seleção dos
vazamentos” pelo juiz do caso Petrobras, Sergio Moro, Dilma afirmou ser preciso
“fechar o cerco à corrupção”, sem distinção, para acabar com impunidade e
impedir que o caixa dois seja tratado como “mero crime eleitoral”.
Dilma defende a reforma
política como caminho para pôr fim ao financiamento privado de campanha para
que a prática deixe de ter conotação apenas eleitoral.
“Se continuar a existir
financiamento privado de campanha, não teremos uma ação eficaz contra a
corrupção”, sintetiza. A presidenta defende o enquadramento de servidores
públicos que não sejam capazes de comprovar a origem de bens. Para ela, a não
comprovação deve resultar na perda imediata de vantagens e do patrimônio não
comprovados.
Justiça mais ágil – “Defendo
ainda uma instância mais ágil nos tribunais superiores para julgar os casos de
foro privilegiado”, ressalta na entrevista. Ela lembra que esse mecanismo é uma
criação do governo Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002), época em que “uma
extensa lista de casos foi engavetada” pelo procurador-geral da república
nomeado na ocasião. A atuação o titular do cargo, na ocasião, acabou por
dar-lhe uma alcunha inesquecível: “engavetador-geral da República”.
A presidenta lembra que, no
governo Lula, a Controladoria geral da União (CGU) ganhou status de ministério,
o Portal da Transparência surgiu para disponibilizar em 24 horas todos os
gastos do governo na internet, e a Polícia Federal foi equipada e estruturada
para combater todo tipo de denúncia – num contraponto ao fato de, no governo
FHC, o diretor daquele departamento ter-se filiado abertamente ao partido do
presidente, o PSDB.
Gasolina e inflação – Dilma
rebateu a acusação de que usa o controle de preço da gasolina para manter os índices
inflacionários baixos e garantir o bom desempenho da economia. Para ela, a
exploração desse assunto serve a “outros propósitos”. “Durante o meu governo,
concedi reajustes de 31,5% para os combustíveis, acima do IPCA (inflação
oficial), que subiu perto de 26%”, afirma.
Dilma também relatou os
avanços na saúde com o Mais Médicos, um programa emergencial que garantiu o
atendimento a 50 milhões de brasileiros – necessidade surgida por conta de a
maioria dos profissionais da saúde não se disporem a deixar os centros urbanos.
Ela informou que vai dar prosseguimento ao aprimoramento da saúde com a criação
do Mais Especialidades, organizando uma rede com consultórios privados,
filantrópicos e públicos para atender a demanda por especialistas e exames
laboratoriais.
Dilma defendeu mudança na
Constituição para permitir à União atuar na segurança pública. “A União precisa
tornar-se parte responsável pela segurança pública, e não apenas transferidora
de recursos”.
No plano da educação, a
presidenta lembrou que o ensino médio precisa mudanças que combatam a
elevadíssima evasão escolar no país. “Já começamos as mudanças com o Pronatec,
mas não basta”, acentua.
Segundo ela, o governo
tucano nunca se preocupou em adotar programas inclusivos para a maioria da
população. “Eles gostam de programas que beneficiam 2%, um pouco mais, da
população”, criticou, ao esclarecer que somente a gratuidade e universalização
poderão dar escala à educação no país.
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