A partir daí, sem exceção, todos os partidos políticos optaram por não enfrentar sozinhos as urnas. Dividiu-se o país em duas correntes: à direita e à esquerda, permitindo-se variações meramente nominais de centro à esquerda e centro à direita. Na realidade, não existem mais direita nem esquerda. Muito menos variações de centro.
Desde 1997, o PSDB reelegeu o presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-1998 e 1998-2002), em composição prioritária com o DEM e outros de menor importância. Em 2002 o PT elegeu o presidente Lula em composição com o PMDB, PL (hoje PR), PP e outros de menor importância. Justificativa para se fazer as coligações: alcançar a governabilidade.
Aqui a conversa sai do campo da política pro campo da picaretagem. Não querendo gastar muito dinheiro e nem expor-se nas urnas, os líderes partidários de todos os partidos juntaram-se em dois blocos: PSDB-DEM e PT-PMDB com seus afins. Elegem as cúpulas de cada partido e constroem o que chamaram de “governabilidade”. Traduzida, ela quer dizer: “ajudei a eleger, quero ajudar a governar”. Na cara dura, ocupar ministérios e postos-chaves nos governos federal, estaduais e municipais para manter o poder do partido e dos seus dirigentes. À semelhança da Rússia socialista, construiu-se uma “Nomenklatura” partidária brasileira ocupada pela elite governante no poder ou fora dele. A classe soviética era uma categoria especial de dirigentes do Partido Comunista, da administração do país, de atletas e de artistas engajados na linha do governo.
A “nomenklatura” brasileira, além das vantagens em todos os negócios públicos, ainda ganha todas as eleições e se posiciona muito bem quando derrotada. No fim, o objetivo é super claro: a governabilidade. Por sua vez, os governantes eleitos não querem enfrentar oposição de idéias e de propósitos. Preferem alimentar oposições fisiológicas que votam ou não votam o que desejam os governantes, dependendo do nível das negociações com o dinheiro público, cargos, negócios, negociações de todas as naturezas e proteção judiciária nas demandas arriscadas.
Portanto, governabilidade tornou-se sinônimo de pura picaretagem.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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