O sucesso de um governo vem de sua
capacidade de formular estratégias políticas coerentes e produtivas de longo
prazo, idealizadas a partir de análises rigorosas do leque de pressões e
demandas, às vezes contraditórias. Governantes quando não sabem para onde ir,
deixam de atender as aspirações da população e eliminam gradativamente as
alianças que o elegeram.
Nossas atuais
dificuldades têm elementos estruturais e fortes componentes de uma crise
política. A presença de elementos de crise estrutural é observável nos
evidentes sinais de esgotamento do modelo de desenvolvimento. Os desastrosos
indicadores econômicos divulgados nas últimas semanas são provas irrefutáveis
desses desarranjos. A repetição de iniciativas já aplicadas gera paralisia.
O Brasil, desde a
redemocratização, construiu um importante legado institucional, e a robustez de
nossas instituições republicanas garante a transição dos mais diversos cenários
críticos em ambiente de normalidade democrática e de respeito à ordem
instituída.
Por outro lado, a crise
econômica gera legítimos descontentamentos. E a falta de iniciativas para
resolvê-los enfraquece a capacidade do governo de persuadir a sociedade e de
dar sentido ao seu discurso. Aos olhos da população, a cada recuo, a cada
reviravolta em decisões, o governo se enfraquece.
O equilíbrio entre
legitimidade e poder exige consenso capaz de formar a maioria. Quando o
consenso se esvai, particularmente em épocas de crises política e econômica que
se entrelaçam, sabemos que só a política é capaz aglutinar a maioria para
salvar a economia.
A política deve promover
o encontro entre as demandas da sociedade de forma que recupere o
desenvolvimento econômico sustentado. É um erro acreditar que, largados à
própria sorte, os conflitos se reconciliam e as demandas se equilibram. A
velocidade imposta pela tecnologia moderna jogou por terra a máxima do passado:
deixa estar para ver como é que fica. Não fica, a economia se dissolve.
A missão do Congresso
Nacional consiste em traduzir e dar forma legal para a prioridade que temos
hoje de salvar a economia, consequentemente o emprego. Mesmo que o embate se dê
em clima muitas vezes contraditório e tenso, sabemos da importância do
entendimento entre os atores políticos acerca do atendimento a essas demandas.
E elas estão dadas:
resgatar a eficiência, a moralidade, a transparência, a responsabilidade e a
impessoalidade na administração de bens, valores, serviços e recursos
adquiridos com o suado dinheiro dos impostos pagos pelos trabalhadores. É
preciso uma verdadeira e completa reformulação na estrutura de gastos do setor
público, que redefina o tamanho e as atribuições do Estado.
Para realizar essas
tarefas, com as posições de poder e legitimidade equilibradas, os governos
devem ter a coragem e a ousadia de fazer o que deve ser feito,
independentemente dos impactos sobre a sua popularidade.
Acreditar que a verdade
é conspiratória é coisa de quem não aprendeu a conviver com as saudáveis
divergências da democracia e da liberdade de opinião, de quem vive nas trevas
de regimes autoritários.Em situações de crise não há espaço para exclusões e
passes de mágica ou de marketing, apenas para medidas eficientes que recuperem
a credibilidade do Estado, a harmonia dos poderes e a pacificação
nacional.
Moreira Franco Presidente da
Fundação Ulysses Guimarães
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