A
desconexão entre as políticas monetária, fiscal e cambial causa um inestimável
custo para o País, que só será possível medir no médio e longo prazos. Suas
consequências influenciarão no tempo que a economia levará para retomar uma
trajetória de normalidade e crescimento.
Hoje,
temos forte desconfiança, expectativa de mais desemprego, juros com tendência
de alta, dólar rondando a barreira de R$ 4, destruição da imagem internacional
do Brasil a partir do rebaixamento, além de empresas vendo seu valor de mercado
evaporar nas bolsas de valores, aqui e lá fora.
O
dólar situado acima dessa barreira simbólica é o custo que o Brasil paga por
tolerar o aumento paulatino da inflação, os desequilíbrios fiscais ocasionados
por desonerações tributárias e mudanças contínuas em alíquotas e isenções, mais
a estratégia equivocada de camuflar gastos e adotar um rombo fiscal no
Orçamento de 2016.
Esse
conjunto da obra adicionou imprevisibilidade a uma economia até então
estabilizada e nos trouxe à atual situação das contas do setor público — governo
central, estados, municípios e estatais. Elas fecharam em agosto com déficit
nominal de R$ 339,4 bilhões, ou 8,87 % do PIB, e em 12 meses chegaram a 9,21%
do PIB (R$ 528,3 bilhões), pior resultado desde 2001.
Além
disso, desde 2014, quando o Banco Central dos Estados Unidos sinalizou que iria
aumentar a taxa de juros, até agosto de 2015, o BC brasileiro já gastou R$
111,66 bilhões no programa de swaps cambiais para compensar a depreciação do
real. Em setembro, a perda era de R$ 44,9 bilhões até o dia 25.
E
o que é pior, o dólar alto não favoreceu significativamente a produção
industrial. Nossos manufaturados obtiveram um crescimento de apenas 2,4 pontos
percentuais dentro do total das exportações de janeiro a setembro em comparação
ao mesmo período de 2014.
A
disparada do dólar remete às crises cambiais dos anos 1990, iniciadas no México
em 1994, da Ásia em 1997, Rússia em 1998, até chegar ao Brasil, em 1999. Essas
diziam respeito a fortes desvalorizações das moedas locais em razão da
incapacidade de honrar compromissos externos num sistema de câmbio fixo.
A
que o Brasil vive hoje não se origina dos mesmos fundamentos, mas das
incertezas sobre a capacidade política do governo de fazer o ajuste fiscal.
Decorrente do ambiente político, a insegurança destruiu a credibilidade do
poder central para sanar um descontrole fiscal que se agrava pelos swaps
cambiais e pelos mais altos juros do mundo.
A
história nos ensina que apenas a política cambial mantida pelo Banco Central,
realizando leilões e jogando nossas reservas internacionais no mercado interno,
não é capaz para estancar a paralisante volatilidade do dólar. Já vimos isso em
nosso passado recente.
É
preciso combinar políticas cambial, monetária e fiscal para obter resultados
efetivos e a economia voltar a se recuperar. É preciso ainda, restabelecer a
segurança de que haverá coordenação entre as políticas macroeconômicas e no
campo político.
Sem
isso, não vamos melhorar a gestão das contas públicas e o ambiente de negócios,
coordenando instrumentos macroeconômicos (políticas fiscal, monetária e
cambial) e de competitividade (políticas industrial, comercial e tecnológica),
e aperfeiçoando as estruturas de incentivo aos setores de infraestrutura e
logística. Continuaremos regredindo.
Moreira
Franco Presidente da Fundação Ulysses Guimarães
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