A burocracia como um sistema de administração de métodos surgiu na França no século 18 e espalhou-se pela Europa. Mas foi em Portugal, à época um pais muito atrasado em relação ao restante da Europa, que a burocracia encontrou o terreno fértil pro emburrecimento do país. Quando o Brasil foi descoberto veio a pior face da burocracia lusitana: a fiscalizadora e punitiva. Juntos vieram os malditos carimbos. Entre um carimbo e outro a vida da Colônia sofria meses de espera que depois se seguiram nas mesas dos burocratas republicanos.
Nos países onde a burocracia evoluiu, ela é um corpo especializado dentro do serviço público numa relação estreita com a sociedade pagadora de impostos. O poder decisão dentro da burocracia européia é grande. Uma simples consulta tem uma resposta simples e dispensa longas caminhadas de mesa em mesa e os malditos carimbos.
Ninguém nega a necessidade da burocracia. Ela formada por um corpo de técnicos que formam uma camada permanente de servidores qualificados, que resiste à passagem política e temporal dos governantes. Ela é uma garantia para a cidadania contra os desatinos eventuais dos governantes. A herança portuguesa bagunçou isso e a burocracia brasileira tornou-se exatamente o contrário do que deveria ser para os cidadãos. Tornou-se um deliberado fator de complicação nas relações da sociedade com o Estado. No meio de um pedido ou consulta um batalhão de burocratas escravos de normas, portarias, decretos e leis vê no cidadão um inimigo que precisa ser punido pela petulância de penetrar no território sagrado da burocracia pública.
Pouco a pouco a burocracia engoliu o Estado e misturou-se com a ganância dos políticos de passagem e tornou-se um chicote da política contra os cidadãos. O corporativismo, também nascido na Idade Média pra proteger interesses de categorias profissionais liberais, invadiu o serviço público brasileiro e deu-lhe a força pra criar uma série de benefícios e escudos de proteção. Exemplos: cargos vitalícios, direitos previdenciários diferenciados, aposentadoria diferenciada e garantias contra a demissão e a não cobrança por resultados de produtividade. Nesse ambiente refrigerado e cercado de garantias a burocracia navega em rio manso, diferente dos rios turbulentos em que navega a sociedade. Um dia, quem sabe, aconteça uma inundação de clarividência naquele rio manso...
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
ribeiro.onofre@gmail.com www.onofreribeiro.com.br
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