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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

"Medo, ódio e megalomania nas primárias dos EUA"

Frustração e decepção com os oitos anos de Obama fazem muitos americanos se voltarem para aventureiros e políticos de respostas simples e definitivas, o que favorece Donald Trump, opina a correspondente Ines Pohl.
Todo político eleito desaponta seu eleitorado, pois durante a campanha despertam-se expectativas impossíveis de cumprir. É o que se pode chamar de "mentira calculada". Acrescente-se a isso a própria superestimação: muitos não têm noção de quanto serão efetivamente capazes de realizar, uma vez empossados.
Isso se aplica em especial ao presidente dos Estados Unidos. Em seu último grande discurso à nação, Barack Obama falou muito francamente sobre quão pouco de seus sonhos e esperanças conseguiu concretizar, no fim das contas, desde que se tornou parte do aparato.
Ele próprio não é o único a se decepcionar. Decepcionados estão os muitos milhões que acreditaram nele e em seu change and hope (mudança e esperança). Aqueles que, mesmo não tendo votado nele, torciam para que esse novato cheio de energia, esse presidente negro, esse forasteiro fosse capaz de reinventar o país; que ele romperia as estruturas corruptas do dinheiro grande, transformando os Estados Unidos naquilo de que a nação tanto se orgulha: numa democracia de verdade, na qual, com trabalho duro, quase todo sonho pode se tornar realidade.
Esse sonho fracassou. E muitos democratas decepcionados voltaram as costas, em aversão profunda, à política estabelecida. Quem ganha com isso são os aventureiros. Além disso, muitos adeptos do Partido Republicano não celebram a equiparação dos direitos dos homossexuais e uma lei de imigração mais humana como conquistas civilizatórias, mas como um atentado contra os bons velhos tempos. Não é raro que a rejeição deles ao responsável por isso, Obama, seja ódio racista declarado. Nesse pano de fundo, os pré-candidatos dos republicanos surgem quase como uma resposta cínica de confrontação.
Nesta segunda-feira (01/02) começam os jogos. Iowa é o primeiro de um total de 50 estados a decidir qual candidato ou candidata dos democratas e republicanos concorrerão à Casa Branca. E aí tudo é possível.
As eleições de 2016 transcorrem num país profundamente inseguro e dividido, onde, entre os extremos, pouco espaço sobra para argumentos ponderados. As velhas certezas da maioria branca pertencem definitivamente à história; grande parte da classe média tem medo de que seu declínio prossiga irrefreavelmente, enquanto os superricos vão acumulando cada vez mais dinheiro.
Entre as unidades residenciais mais abastadas, 10% detêm mais da metade de toda a renda do país. Na administração Obama, o abismo entre pobres e ricos não diminui: pelo contrário.
A retórica dos debates dos pré-candidatos é marcada por uma mistura de medo, ódio e megalomania. Ela conquista espaço num mundo que se torna cada vez mais imprevisível e complexo, em que os Estados Unidos não desempenham mais um papel claramente definido. Isso dói na autoestima.
Em tal situação de conflito, cresce a perigosa saudade das respostas simples e definitivas e dos líderes fortes, os quais, sem hesitação, coloquem em primeiro lugar os interesses nacionalistas do próprio país. Nesse ponto é legítimo traçarem-se paralelos com o que ocorre atualmente na Europa.
Tudo isso favorece o multibilionário Donald Trump. Aquilo em que, durante muito tempo, ninguém queria crer, pode agora se tornar realidade. É bem possível que, com as eleições primárias em Iowa e New Hampshire, o astro da reality TV lance as bases para sua indicação como candidato dos republicanos. E, a crer nas atuais pesquisas de opinião, tudo é possível. Até mesmo o ingresso na Casa Branca.
Os americanos conhecem o imbatível desejo de vencer de Trump, cujo egocentrismo é computado como seu ponto forte. Seus apoiadores não perguntam como ele ganhou seus bilhões: para eles, a dourada Trump Tower em Nova York é um símbolo de independência.
O establishment dos republicanos ainda não encontrou uma resposta para a ascensão contínua do empresário que, como ninguém, sabe dominar as manchetes. E pisotear os costumes do Partido Republicano da mesma forma como despreza outras regras de decoro, ofende as mulheres, faz comentários racistas sobre muçulmanos ou indianos. Toda a atenção estará voltada para o desempenho de Trump nesses jogos sem limites.
Para a pré-candidata favorita dos democratas, Hillary Clinton, o tiro de arrancada em Iowa é importante por constituir uma primeira confrontação com a realidade. Mas, mesmo que o outsider Bernie Sanders, o equivalente liberal de Trump, consiga se impor contra o império Clinton nesse primeiro escrutínio, a ex-primeira dama ainda tem a segunda eleição primária em New Hampshire, em 9 de fevereiro, para evitar um real mau começo. Trump também sabe disso. E por esse motivo, vai desfrutar ainda mais de toda a bizarra atenção.

Ines Pohl é correspondente da DW em Washington

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