
Desmatamento
Temer também usou parte do discurso para tentar reverter a má imagem acumulada pelo Brasil no combate ao desmatamento da Amazônia, que rendeu ao próprio Temer um puxão de orelhas do governo norueguês durante uma visita do presidente ao país europeu em junho. O presidente também vem sendo acusado por organizações internacionais de ceder ao lobby da indústria agropecuária.
Segundo Temer, "o compromisso do Brasil com o desenvolvimento sustentável é de primeira hora”. "Meu país – e é com satisfação que o digo – está na vanguarda do movimento em direção a uma economia de baixo carbono. A energia limpa e renovável no Brasil representa mais de 40% da nossa matriz energética: três vezes a média mundial”, disse.A fala ocorreu três semanas após o governo ser criticado por vários organismos e veículos estrangeiros na esteira da extinção de uma reserva amazônica de 47 mil quilômetros quadrados conhecida como Renca (Reserva Nacional de Cobre e seus Associados), criada em 1984. Temer evitou qualquer menção ao fim da reserva e, em vez disso, preferiu celebrar um dado que aponta que o desmatamento na Amazônia legal sofreu queda de 21% entre agosto de 2016 e julho de 2017. "Retomamos o bom caminho e nesse caminho persistiremos”, disse Temer, sem detalhar que a queda ocorreu paralelamente a um aumento de 22% do desmatamento registrado em áreas de conservação e que, mesmo com o recuo no índice geral, a área destruída de floresta ainda alcançou 2.834 km² (o equivalente a quatro cidades de Salvador). O presidente também disse que o Brasil "seguirá empenhado na defesa do Acordo de Paris". "É matéria que não comporta adiamentos. Há que agir já", disse.
Protecionismo
Assim como ocorreu no último discurso de Dilma Rousseff na Assembleia Geral, em 2015, e à sua última fala em 2016, Temer criticou o protecionismo, ainda que sem apontar algum país. Historicamente o Brasil é um crítico das barreiras agrícolas impostas por países europeus. "Não acreditamos no protecionismo como saída para as dificuldades econômicas - dificuldades que demandam respostas efetivas para as causas profundas da exclusão social", disse Temer. Mais uma vez, no entanto, o presidente evitou se aprofundar no tema. No momento, o próprio Brasil é acusado de protecionismo pela indústria americana de etanol por causa de uma tarifa de 20% imposta em agosto sobre a importação do produto. Em julho, a Organização Mundial do Comércio (OMC) também determinou que o Brasil tem 90 dias para acabar com uma série de subsídios à indústria nacional que estariam rendendo uma vantagens que ferem o livre comércio.
Outros temas
Temer ainda comentou a crise que atinge a Venezuela e defendeu soluções democráticas, sem, no entanto, especificar como elas seriam aplicadas. "A situação dos direitos humanos na Venezuela continua a deteriorar-se. Estamos ao lado do povo venezuelano, a que nos ligam vínculos fraternais. Na América do Sul, já não há mais espaço para alternativas à democracia. É o que afirmamos no Mercosul, é o que seguiremos defendendo”, disse. O presidente também falou brevemente da questão dos refugiados, mas novamente sem se aprofundar no tema. "Temos, hoje, uma das leis de refugiados mais modernas do mundo. Acabamos de modernizar também nossa lei de migração, pautados pelo princípio da acolhida humanitária”, disse. Em 2016, durante sua última viagem para a Assembleia Geral, Temer foi criticado por ter exagerado o número de refugiados que haviam sido acolhidos no Brasil. Segundo o presidente, o país abrigava 95 mil, mas dados do próprio Ministério da Justiça apontavam que o total não passava de 9 mil. Temer falou por um total de 17 minutos. A abertura da Assembleia Geral pelo ocupante da Presidência do Brasil mantém uma tradição iniciada em 1947, quando o encontro foi presidido pelo chefe da delegação brasileira Oswaldo Aranha.
Autoria Jean-Philip Struck/cp
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