
Acusações de traição
Mas com a entrada no aparelho governativo, o padre Congo "trai" os ideais de Cabinda, afirmam antigos "companheiros de trincheira" como o advogado e ativista cabindês Arão Bula Tempo."Qual é a honra e a dignidade de quem lutou todos os dias, de quem foi um dos mentores desta luta, e hoje aceita uma função de secretário provincial da Educação?", questiona o ex-presidente do conselho provincial da Ordem dos Advogados de Angola (OAA), que chegou a ser detido e acusado de crimes contra a segurança de Estado, em 2015. "Lamentavelmente, hoje os quadros de Cabinda interessam-se mais pelas funções do que pela própria causa que assola o território de Cabinda, que empobrece o povo de Cabinda, que continua a assistir a perseguições e à própria degradação social", acrescenta Arão Bula Tempo.
"Só a História me poderá julgar"
Jorge Casimiro Congo diz, no entanto, que está preparado para ouvir todas as críticas dos intelectuais de Cabinda. O antigo pároco da Igreja Católica em Cabinda, expulso por Dom Filomeno Vieira Dias, então bispo da diocese, refere que já liderou conversações entre a sociedade civil cabindesa e os dois principais partidos na oposição, UNITA e Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), e desta vez, decidiu sentar-se à mesma mesa com o MPLA para tentar melhorar a situação política, econômica e social no enclave. "Para mim, é preciso sempre encontrar novas maneiras de abordar a questão de Cabinda e creio que posso discutir com o Presidente João Lourenço", diz Casimiro Congo. "Penso que este é o momento de dar a minha contribuição, sobretudo na educação, que se encontra num estado de degradação terrível." A nomeação do padre Congo pelo governador de Cabinda, o general Eugênio César Laborinho, foi discutida no "Kremlin", como também é conhecida a sede do MPLA em Luanda, através de contatos e reuniões ao mais alto nível entre o ativista cabindês e o secretário para as Relações Exteriores do partido, Julião Paulo "Dino Matross", e o secretário-geral, António Paulo Kassoma. Jorge Casimiro Congo garante que a sua entrada no Governo de Cabinda não dilui as suas convicções: "Não recebi dinheiro nenhum. Só a História me poderá julgar. É possível melhorar as condições de Cabinda a partir de dentro. Se eu falhar, não me vou frustrar, o importante é que tentei. Agora, já não tenho idade para estar sozinho, a gritar - não posso estar permanentemente a assumir um povo que não se quer libertar."
Nelson Francisco Sul (Luanda)cp
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