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domingo, 25 de fevereiro de 2018
"É PRECISO AMPLIAR E QUALIFICAR O DEBATE SOBRE SUSTENTABILIDADE NO AGRONEGÓCIO"
A imprensa e a sociedade, em geral, têm se manifestado sobre o agro brasileiro influenciadas por dois preconceitos principais. O primeiro é de que tudo no agro é resultado do uso indiscriminado de insumos sintéticos e sem respeito aos limites dos sistemas naturais. O segundo equívoco é confundir sustentabilidade com meio ambiente. A discussão sempre gira em torno do meio ambiente, quando deveria incluir as dimensões econômica e social, e demais pilares da sustentabilidade. É preciso qualificar essa discussão e aprofundar a cobertura jornalística, situando este debate no “antes” e “depois” dos novos paradigmas do desenvolvimento sustentável. Assim, sociedade e mercados passarão a cobrar mais responsabilidade das organizações, que, por sua vez, cobrarão dos produtores a efetiva inserção da sustentabilidade em suas práticas de produção. Isso já vem acontecendo como pode ser comprovado pela adoção de práticas como “pecuária sustentável”, “plantio direto na palha” e “integração lavoura, pecuária e floresta”. Isso tudo validado por certificação através de selos que atestam o atendimento desses preceitos, atendendo às crescentes exigências de grandes redes varejistas e de um consumidor cada vez mais exigente. O Brasil tem hoje 61% do seu território com vegetação nativa preservada. Um estudo divulgado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em 2017, mostra que outros 8% são ocupados pelas lavouras e florestas plantadas e 19,7%, por pastagens. E o uso da tecnologia tem elevado o aumento da produtividade, resultando em menor pressão pela abertura de novas áreas, no chamado efeito “poupa-terra”. Um exemplo significativo é que entre 1990 e 2015 a área de pastagens diminuiu em 12%, enquanto a produtivida de dos rebanhos cresceu 229%. Produz-se atualmente 240 milhões de toneladas de grãos, cerca de oito vezes mais que os 30 milhões colhidos há quarenta e cinco anos atrás. Mas a sustentabilidade vai muito além disso. O atual desafio é conectar a agricultura e pecuária com as áreas florestais dentro das propriedades que representam hoje 20% da superfície total do Brasil. As sementes estão sendo lançadas como nos mostram os sistemas agroflorestais a reunir, numa mesma área, agricultura, pecuária e produtos florestais no milagre da restauração ecológica de áreas degradadas para a produção de alimentos, fibra e energia. Para isso, será necessário superar a atual cisão entre floresta e agricultura, aumentada pelo novo Código Florestal, que diferenciou áreas de exploração de áreas de conservação, separando erroneamente os atos de produzir e conversar. Para que esse desafio seja superado é preciso ampliar o debate sobre o novo paradigma com informação técnica e livre de ideologia. É preciso garimpar, qualificar a informação disponível e não apenas reproduzir discursos prontos e abordagens requentadas.
José Carlos Pedreira de Freitas é engenheiro agrônomo, consultor em sustentabilidade no agronegócio e sócio-gerente da Hecta Desenvolvimento Empresarial nos Agronegócios.
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