
Esgotamento
O Planalto vem mesmo dando sinais de esgotamento em sua vontade de levar a proposta adiante se ela não for votada em fevereiro. Na quinta-feira, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, admitiu que o governo não deve insistir mais na PEC se ela não for aprovada logo. "Se passar de fevereiro nós entendemos que nós não poderemos ficar com essa pauta de forma indefinida”, disse. Mesmo com tudo isso contra si, o governo lançou nas últimas semanas uma ofensiva midiática para promover a reforma. Só em janeiro e fevereiro, o Planalto deve gastar 50 milhões de reais em campanhas publicitárias que defendem a necessidade de aprovação da PEC. Michel Temer também decidiu assumir pessoalmente parte da tarefa, concedendo entrevistas na TV e aparecendo até mesmo no Programa Sílvio Santos para defender as reformas. Entre os eleitores, no entanto, a PEC continua extremamente impopular. Uma pesquisa encomendada pelo próprio Planalto em janeiro apontou que só 14% dos brasileiros são a favor da reforma. Para Antônio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), mesmo com essa ofensiva de charme, o governo já sabe que a PEC vai ser enterrada. "O quadro está mais para jogar a toalha do que para aprovar. O Planalto apenas mantém o discurso para salvar um pouco da credibilidade. Algo como ‘tentei, mas as circunstâncias impediram'”, disse. Ainda segundo Antônio Queiroz, o tema vai ficar para o próximo governo. "Deve ressurgir em 2019, pode apostar. O novo governo vai ter que tirar de algumas áreas para custear a Previdência. Os afetados vão exigir que algo seja feito.” Ele também aponta que a natureza da proposta deve mudar até lá. "Pode até ser uma proposta que acabe sendo mais gradual, diluindo os efeitos sobre a atual geração”, disse. "O problema, por exemplo, não é a idade mínima, mas instituir isso para quem já está no sistema. Isso deveria ser para quem ainda vai ingressar. Em lugar nenhum do mundo reforma foi promovida do jeito que esse governo quis.” Issa, da Pulso Público, também aponta que o sucessor de Temer vai ter que lidar com o tema. "A realidade de que as contas não fecham não vai ser afastada com a não aprovação da PEC neste ano."
A PEC
Em novembro, o governo enxugou mais uma vez sua proposta original na esperança de que uma versão mais enxuta da PEC fosse digerível para os membros do Congresso. No final, a PEC passou a incluir quatro pontos principais: uma idade mínima de aposentadoria de 65 para homens e 62 para mulheres (para policiais e professores, 55 e 60 anos, respectivamente); o tempo de contribuição para aposentadoria no regime dos servidores subiria de 15 para 25 anos; para gozar do benefício integral seria necessário contribuir por pelo menos 40 anos e valores intermediários dependeriam dos anos de contribuição; as receitas da Previdência não seriam mais submetidas à Desvinculação de Receitas da União (DRU), que permite ao governo abocanhar 30% dos valores para custear outras áreas da máquina pública.
O buraco
Em 2017, a Previdência acumulou um rombo de 268,8 bilhões de reais, o maior da história, que foi agravado em parte pela estagnação econômica, que reduziu o número de empregos com carteira assinada. Em 2016, o rombo já era de 150 bilhões de reais. Entre os trabalhadores da iniciativa privada, que contribuem pelo INSS, o rombo foi de 182,45 bilhões, sendo que a maior parte foi relacionada com a Previdência Rural, que respondeu sozinha por um saldo negativo de 111,6 bilhões de reais. Entre os trabalhadores urbanos, o rombo foi de 72,31 bilhões. Em 2018, o governo já trabalha com a expectativa de um rombo de 192,84 bilhões apenas no INSS. Já entre os servidores da União, que têm um regime diferente, o déficit subiu de 77,15 bilhões no ano retrasado para 86,34 bilhões de reais em 2017.
Jean-Philip Struck/cp
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