
Eis a entrevista
Professor, o senhor ama este papa, vê que ele é capaz de romper o equilíbrio mundial dominante, mas, nunca como neste tempo, a voz de Francisco parece perdida, desaparecida da cena.
O papa parece invisível. Efetivamente, ele pode parecer assim.
É como se a sua ação fosse ineficaz, as suas palavras, cobertas pelo ruído de um novo vocabulário que está conquistando o Ocidente.
É o medo que marca este tempo e é um sentimento que inunda as consciências, reduz a visibilidade da democracia e favorece aqueles que, em nome do medo, manipulam o seu sentido.
O senhor não parece entusiasmado com o governo da mudança (na Itália).
Mudança em quê? Eu me pergunto como se pode ser otimista, como não ver o retrocesso de todas as atitudes, até mesmo da mais ínfima, dentro do recinto de um medo que domina e confunde.
Os italianos erraram ao votar? Poderiam ter feito uma escolha melhor? O que perdemos?
Eu não sei o que perdemos, certamente não o Sol do futuro. Talvez, penso eu, a histeria racista teria se aplacado, e o fenômeno migratório teria sido governado com mais bom senso e raciocínio. Mas não é só um problema italiano. A natureza dessa nova dimensão é internacional e abrange as áreas mais avançadas da Europa, recolhe dos Estados Unidos o sentido da sua nova orientação. Hoje, é Trump quem guia os destinos.
Quanto durará este tempo que o senhor julga como tão mau?
Será equivalente ao tempo de uma legislatura. Mas não tenho uma convicção profunda e um pensamento claro que possam facilitar o olhar para o amanhã.
O senhor disse: este papa tirou a minha vergonha de ser católico.
É assim. Eu vejo nele uma personalidade capaz de promover a liberdade de um mundo ainda soterrado, oculto, irrelevante.
O papa telefonou para o senhor depois de ler seu último trabalho: Essere e dintorni [Ser e arredores].
A minha consideração por ele é absoluta.
Mas a Igreja, pelo menos a sua estrutura organizada, não parece ter sido alcançada pelo magistério do pontífice. São como dois mundos paralelos, que nunca se encontram.
A Igreja é um corpo grande, tem a sua burocracia, as suas misteriosas obstruções, os seus pecados. Mas o papa incide, eu espero que incida muito ainda.
Mas o papa, notamos antes, parece invisível, esmagado pelas palavras cruéis institucionalizadas, pelo novo vocabulário que governa a relação entre países e o cuidado com que se implementam as tentativas de sedar e defender a riqueza, o bem-estar, através de cercas e muros, locais de contenção. Nada mais está previsto.
Por isso, o meu profundo ceticismo sobre a mudança. Mas o que se quer mudar? Mas onde? Mas como?
A única esperança, portanto, vem do outro lado do oceano?
A única.
Mas é a luz fraca do desejo que o leva a imaginar finalmente que algo será subvertido.
A esperança continua sendo essa.
A felicidade desapareceu.
Você me pergunta se eu sou feliz? Eu deveria ser um tolo se lhe respondesse que sim.
O medo venceu, a revolução perdeu.
Realmente parece isso.
Resta a fé, a devoção.
A força das palavras deste papa.
Que agora, porém, parecem perdidas entre as ondas.
O meu sonho seria o de uma Internacional papista de esquerda.
A reportagem é de Antonello Caporale, publicada por Il Fatto Quotidiano e Caminho Político. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
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