Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso

Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso
Cons. Benjamin Duarte Monteiro, Nº 01, Ed. Marechal Rondon

Prefeitura Municipal de Tangará da Serra

Prefeitura Municipal de Tangará da Serra
Avenida Brasil, 2351 - N, Jardim Europa, 78.300-901 (65) 3311-4800

Deputado Estadual Drº. Eugênio de Paiva (PSB-40)

Deputado Estadual Drº. Eugênio de Paiva (PSB-40)
Agora como deputado estadual, Eugênio tem sido a voz do Araguaia, representa o #VALEDOARAGUAIA! 100% ARAGUAIA!🏆

Governo de Mato Grosso

Governo de Mato Grosso
Palácio Paiaguás - Rua Des. Carlos Avalone, s/n - Centro Político Administrativo

Prefeitura de Rondonópolis

Prefeitura de Rondonópolis
Endereço: Avenida Duque de Caxias, 1000, Vila Aurora, 78740-022 Telefone: (66) 3411 - 3500 WhatsApp (Ouvidoria): (66) 9 8438 - 0857

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

"A transparência é uma cura geral? A crise dos abusos e os riscos da revolução eclesial. Artigo de Massimo Faggioli"

praca_sao_pedro_foto_halfpaap_flickr_cc.jpg“Este é um tempo de desolação para a Igreja, como reconheceu o Papa Francisco em janeiro passado, quando estava em Santiago do Chile", escreve o historiador italiano Massimo Faggioli, professor de Teologia e Estudos Religiosos na Villanova University, nos Estados Unidos, em artigo publicado por Commonweal e no Caminho Político. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Segundo ele, "a solução certamente não está em manter o status quo. O problema é que o “iconoclasmo eclesiológico” produzido pelo escândalo dos abusos sexuais, junto com outros abusos de poder e escândalos financeiros, poderia acabar fazendo a Igreja funcionar mais como uma corporação. Essa é uma tentação particularmente poderosa para a Igreja nos países desenvolvidos, onde as corporações se tornaram o modelo para todos os outros tipos de instituições, incluindo o Estado".
Eis o texto.
A história da Igreja é uma história de santos e pecadores. Ultimamente, a parte pecadora certamente está mais visível do que a santa. No período que antecedeu o grande ano jubilar de 2000, João Paulo II pediu desculpas oficialmente pelos pecados da Igreja, e isso parece ter tido um impacto sobre a opinião pública. Mas tudo isso parece ser algo de muito tempo atrás agora (o mesmo vale para a série de beatificações e canonizações sob João Paulo II).
"Agora está claro para muitos que o escândalo do abuso sexual clerical é a crise mais séria que a Igreja já enfrentou desde a Reforma - Massimo Faggioli"
Este é um tempo de desolação para a Igreja, como reconheceu o Papa Francisco em janeiro passado, quando estava em Santiago do Chile. E isso foi antes de saber que a sua viagem ao Chile seria o começo do ano mais difícil de seu pontificado.
Em sua longa história, a Igreja Católica suportou muitos períodos em que a sua pecaminosidade tornou-se muito mais evidente que a sua santidade. Pecados cometidos por homens em posições de poder na Igreja – especialmente simonia, nepotismo e várias formas de corrupção – levaram a escândalos e a reformas.
Agora está claro para muitos que o escândalo do abuso sexual clerical é a crise mais séria que a Igreja já enfrentou desde a Reforma. Entre os católicos, a reputação de Roma, dos bispos e do sistema eclesiástico de governança está em seu nível mais baixo em séculos. A magnitude dessa crise deve ser entendida em termos de como ela perturbou não apenas as operações da Igreja institucional, mas também o modo como os católicos comuns pensam a Igreja.
O livro mais importante do século passado sobre a reforma da Igreja, “Verdadeira e falsa reforma”, de Yves Congar, pode nos ajudar a dar alguma perspectiva, até porque o próprio Papa Francisco parece ter uma eclesiologia muito congariana.
Congar assumiu – assim como muitos teólogos católicos do século XX – que a falta de santidade pessoal por parte do alto clero já não era um problema tão sério quanto nos séculos anteriores. O verdadeiro problema que a reforma da Igreja tinha que resolver, de acordo com Congar, era o que ele chamou de área de “erros sócio-históricos” – ideias e atitudes remanescentes da Cristandade que a Igreja tinha que abandonar.
“Não se trata de reformar abusos – dificilmente há algum a ser reformado. Trata-se, antes, de uma questão de renovar estruturas” Yves Congar, teólogo
Em 1950, Congar escreveu: “Não se trata de reformar abusos – dificilmente há algum a ser reformado. Trata-se, antes, de uma questão de renovar estruturas”.
As revelações de abusos sexuais clericais revelaram uma situação diferente, que questiona tanto a santidade pessoal do clero quanto a inadequação das atuais estruturas da Igreja. Como resultado, a conversa sobre a reforma da Igreja não é mais apenas sobre inércia institucional. É também sobre corrupção moral.
Católicos suspeitos em relação ao Vaticano II acreditam que a corrupção moral foi causada pelo aggiornamento teológico das últimas décadas: a Igreja se abriu ao mundo apenas para ser infectada pelos seus males. Isso mostra que qualquer interpretação da crise atual e de qualquer proposta de reforma estará enraizada em um entendimento particular das reformas conciliares – isto é, se a pessoa acredita que elas foram longe demais ou não foram longe o suficiente.
É irônico que os teólogos do Vaticano II sejam frequentemente acusados de serem otimistas demais quanto às possibilidades de reforma da Igreja; os verdadeiros otimistas, na verdade, eram aqueles que marginalizavam esses teólogos em favor de um status quo eclesiástico que protegia os abusadores.
Uma segunda lacuna entre Congar e as discussões de hoje sobre a reforma da Igreja tem a ver com o que poderíamos chamar de funcionalismo ou tecnocracia – a ideia de que há um conjunto “tamanho único” de “melhores práticas” que se aplica a todas as organizações, incluindo a Igreja. No século XX, a eclesiologia católica recuperou a dimensão mística, sacramental e invisível da Igreja que havia sido diminuída após o Concílio de Trento. Mas o Vaticano II também importou da cultura secular alguns elementos da tecnocracia, no que dizia respeito à governança da Igreja (por exemplo, o limite de idade para os bispos). Essa não foi uma questão liberais versus conservadores no Vaticano II, nem é hoje.
Mas Francisco é muito mais cético quanto ao funcionalismo eclesiológico do que muitos leigos, sejam liberais ou conservadores. É por isso que a sua eclesiologia congariana – e a eclesiologia episcopal do Vaticano II, mais em geral – são submetidas a um teste muito difícil pelo escândalo dos abusos sexuais. Sua concepção de reforma não é primordialmente processual, mas são precisamente novos procedimentos que muitos reformistas leigos estão exigindo atualmente.
"Reformas radicais certamente são urgentes e necessárias. Podemos estar caminhando rumo a uma revolução na eclesiologia católica: um novo período pós-Vaticano II - Massimo Faggioli"
Reformas radicais certamente são urgentes e necessárias. Podemos estar caminhando rumo a uma revolução na eclesiologia católica: um novo período pós-Vaticano II. É impressionante que a crise dos abusos parece estar levando os católicos conservadores estadunidenses a advogarem pela “descontinuidade e ruptura” em vez da “continuidade e reforma”. Apesar da própria disposição de Francisco, essa onda de escândalos pode trazer mais reformas tecnocráticas para tornar a governança da Igreja mais transparente e responsável. Existem alguns riscos que vale a pena mencionar aqui.
Se a crise deslegitima o episcopado, será que qualquer que seja o poder que os bispos perderam será ganho por poderes menos responsáveis do que eles – por exemplo, aqueles que deram muito dinheiro à Igreja? Realmente queremos que uma classe de doadores faça à Igreja o que fez com a política estadunidense? Mesmo que se assuma que a crise dos abusos sexuais demonstra a necessidade de mais democracia na Igreja, não se pode assumir que o que quer que torne os bispos menos poderosos tornará a Igreja mais democrática.
A solução certamente não está em manter o status quo. O problema é que o “iconoclasmo eclesiológico” produzido pelo escândalo dos abusos sexuais, junto com outros abusos de poder e escândalos financeiros, poderia acabar fazendo a Igreja funcionar mais como uma corporação. Essa é uma tentação particularmente poderosa para a Igreja nos países desenvolvidos, onde as corporações se tornaram o modelo para todos os outros tipos de instituições, incluindo o Estado.
"Mesmo que se assuma que a crise dos abusos sexuais demonstra a necessidade de mais democracia na Igreja, não se pode assumir que o que quer que torne os bispos menos poderosos tornará a Igreja mais democrática - Massimo Faggioli"
É um dos riscos da “sociedade da transparência” sobre a qual escreveu o filósofo alemão nascido na Coreia Byung-Chul Han. Tal sociedade, escreve ele, “abole todos os rituais e cerimônias porque não admite a operacionalização”. Mais fundamentalmente, nesse esforço urgente de reforma, os católicos devem desenvolver um novo senso de confiança para seguir em frente com novos sistemas de controle. Na ausência de confiança, o controle se torna opressivo, até mesmo totalitário. Além disso, a lógica da transparência total está em desacordo com o mistério e a interioridade da autêntica experiência religiosa.
A maioria dos católicos, incluindo aqueles que escrevem sobre a Igreja, estão agora experimentando algo como um esgotamento espiritual após as revelações sobre o cardeal Theodore McCarrick. A sujeira é desmoralizante. Obviamente, a Igreja ainda precisa ser reformada, e o poder administrativo precisa ser verificado.
Mesmo assim, eu temo que as demandas mais iconoclastas por transparência e responsabilização possam levar a um novo “desnudamento dos altares”. Como o Papa Francisco frequentemente nos lembra, a Igreja não é apenas uma ONG.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ame,cuide e respeite os idosos