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quarta-feira, 1 de agosto de 2018

"Francisco e a ''esquerda religiosa'': não será um jogo fácil. Artigo de Massimo Faggioli"

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É compreensível que os cristãos progressistas, incluindo os católicos do Papa Francisco, estejam tentando ressuscitar a “esquerda religiosa”. É difícil adivinhar para onde esse esforço está indo, mas não será tão fácil para a esquerda religiosa usar as intervenções do Papa Francisco quanto foi para a direita religiosa usar os dois pontificados anteriores para fazer avançar a sua agenda. A opinião é do historiador italiano Massimo Faggioli, professor de Teologia e Estudos Religiosos da Villanova University, nos Estados Unidos. O artigo foi publicado em Commonweal e Caminho Político. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
A vitória de Alexandria Ocasio-Cortez, uma latina católica do South Bronx, nas primárias democratas do 14º distrito congressional de Nova York, aumentou a empolgação crescente sobre um possível ressurgimento da “esquerda religiosa”. Alguns esperam que uma versão do século XXI do Evangelho Social salvará os Estados Unidos do trumpismo e o cristianismo estadunidense de uma velada teologia do etnonacionalismo.
Na verdade, existem algumas semelhanças surpreendentes entre a plataforma de Ocasio-Cortez e a mensagem do Papa Francisco (especialmente na Laudato si’ e nas suas mensagens oficiais aos participantes dos Encontros Mundiais dos Movimentos Populares) sobre os males sociais e econômicos do nosso sistema. Mas os “católicos do Papa Francisco” que querem criar uma conexão entre o atual pontificado e a “esquerda religiosa” devem lidar com alguns obstáculos sérios – além do óbvio fato de que esse pontificado pode não durar o suficiente para ajudar seu movimento político a decolar.
Nos últimos anos, nem a situação política nem o clima religioso dos Estados Unidos parecem ter sido muito influenciados pela mensagem do Papa Francisco. Como disse Dom McElroy em um recente fórum organizado pela Commonweal, “o contraste entre a bela visão da política que o Papa Francisco apresentou ao falar em uma sessão conjunta do Congresso dos Estados Unidos em 2015 e o estado político da nossa nação hoje é devastador”.
É difícil saber se a política do conservadorismo religioso estadunidense hoje é em parte uma reação à eleição do Papa Francisco ou se é apenas o próximo estágio de uma trajetória político-teológica preexistente muito diferente do catolicismo latino-americano de Jorge Mario Bergoglio.
Mas não há dúvida de que a perspectiva dos católicos em posições de poder nos Estados Unidos hoje difere mais da perspectiva do Vaticano do que em qualquer outra época desde a Segunda Guerra Mundial.
É tentador contrastar as dificuldades de Francisco com os católicos estadunidenses com a calorosa recepção que o Papa João Paulo II recebeu nesse país. Mas, mesmo durante os pontificados de João Paulo II e de seu sucessor, havia uma clara desconexão entre o Vaticano e Washington.
Tanto João Paulo II quanto Bento XVI advertiram os presidentes estadunidenses contra a ilusão de que poderiam remodelar o Oriente Médio por meio de uma guerra preventiva. Ainda, em muitas outras questões, João Paulo II e Bento XVI fizeram parte de uma aliança geopolítica transatlântica com os Estados Unidos em relação à qual Trump virou as costas.
O Papa Francisco não se conteve em seus esforços para levar a Igreja a uma nova dispensação global. Mas isso necessariamente não facilita as coisas para os católicos progressistas nos Estados Unidos, onde as lideranças da Igreja muitas vezes parecem resistentes às prioridades de Francisco.
A convergência entre a defesa dos refugiados por parte do papa e a mensagem dos bispos dos Estados Unidos sobre a imigração é a exceção que confirma a regra. Em outras questões importantes, ainda existem diferenças importantes entre muitos bispos estadunidenses e o Vaticano, como demonstrou a morna resposta à Amoris laetitia.
Na maior parte, essas diferenças foram expressadas de uma forma não conflituosa. Não houve debates pontuais como o que ocorreu entre o Vaticano e os bispos alemães sobre a possibilidade de permitir que os cônjuges não católicos recebam a comunhão. Mas Francisco tem recebido fortes críticas de católicos conservadores nos Estados Unidos desde o início de seu pontificado e não conseguiu conquistar muitos dos seus críticos.
De fato, muitos conservadores sociais nesse país parecem se sentir encorajados pela presidência Trump – e especialmente pela perspectiva de outro conservador da Suprema Corte após a aposentadoria do juiz Anthony Kennedy. Além da única questão da imigração, não há nenhuma unidade discernível na resposta católica a Trump, nem mesmo entre os bispos.
Compare-se, por exemplo, a firme afirmação deles sobre a imigração com a sua incapacidade de chegar a um consenso sobre a necessidade de atualizar de maneira significativa a Faithful Citizenship [declaração dos bispos dos Estados Unidos sobre questões sociais e políticas], agora com mais de 10 anos de idade.
É compreensível que os cristãos progressistas, incluindo os católicos do Papa Francisco, estejam tentando ressuscitar a “esquerda religiosa”. É difícil adivinhar para onde esse esforço está indo, mas não será tão fácil para a esquerda religiosa usar as intervenções do Papa Francisco quanto foi para a direita religiosa usar os dois pontificados anteriores para fazer avançar a sua agenda.
Isso se deve em parte ao fato de que a esquerda tende a ser mais secular do que a direita, mas também por causa das significativas diferenças entre o progressismo do Papa Francisco e o progressismo estadunidense contemporâneo.
Francisco pertence a uma corrente de pensamento católico latino-americano que aceita o vínculo teológico entre o sagrado e o político, mas também reconhece – ao contrário de alguns progressistas religiosos nos Estados Unidos – o caráter secular do Estado. Na teologia política de Francisco, o fundamento do Estado é a pessoa humana considerada como um ser social, e não como um portador de direitos individuais.
Isso significa que a questão do aborto, por exemplo, é entendida por Francisco não principalmente como uma colisão dos direitos individuais de uma pessoa com os de outra, mas sim como um sintoma de disfunção social que envolve toda a comunidade política. Uma das diferenças mais visíveis entre a perspectiva do Papa Francisco e a de muitos liberais religiosos nesse país tem a ver com a centralidade dos pobres na autocompreensão da Igreja. A opção preferencial pelos pobres, essencial para o pensamento católico latino-americano contemporâneo, ainda é uma ideia exótica – e pouco inteligível – para muitos católicos estadunidenses, e não apenas para os conservadores.
Um livro da teóloga e cientista política argentina Emilce Cuda, publicado na Argentina em 2016 e em italiano no início deste ano, se concentra no “povo pobre trabalhador” (pueblo-pobre-trabajador) como o tema mais importante no pensamento de Jorge Mario Bergoglio sobre política e sociedade. Para esse papa, qualquer política reconhecidamente cristã deve começar ouvindo e aprendendo com os pobres, porque você não pode realmente ficar do lado deles a menos que você esteja primeiro ao lado deles.
O Vaticano II foi uma fonte de inspiração não apenas para a esquerda religiosa, tanto aqui quanto na Europa, mas também para movimentos democráticos católicos em todo o mundo durante um período que Samuel Huntington chamou de “terceira onda” da democratização.
Os pontificados de João Paulo II e de Bento XVI redefiniram os fundamentos teológicos da adoção da democracia pelo Vaticano II, propondo uma alternativa para a compreensão do Concílio como o início de uma nova era progressista da teologia política católica. Sua contranarrativa, que enfatizava as continuidades entre a Igreja pré e pós-conciliar, ajudou a forjar uma aliança entre Roma e o conservadorismo estadunidense, que durou décadas. Tal aliança ainda não existe entre este pontificado e a esquerda estadunidense, apesar de algumas afinidades notáveis.
Se é que vai se desenvolver, a nova esquerda religiosa nos Estados Unidos terá que abordar as diferenças igualmente notáveis entre a sua ideia de progresso e a do papa.

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