Há poucos meses, vivenciamos uma trágica situação que envolveu um suposto cirurgião plástico e uma paciente que, posteriormente, se tornou vítima do médico. O caso do “Doutor Bumbum”, além de ter comprovado que a assiduidade nas redes sociais não é sinônimo de profissionalismo, suscitou o debate a respeito da ética profissional na sociedade civil.
Todas as profissões, formais ou não, seguem preceitos morais. Especificamente na área da saúde, as profissões voltadas ao cuidado do indivíduo e da sociedade trazem a ética como um de seus mais importantes pilares. Tomemos como exemplo a área da odontologia.
Segundo o Código de Ética Odontológica, cabe ao cirurgião-dentista manter atualizados os conhecimentos técnico-científicos e culturais para o pleno exercício da profissão, zelar pela saúde e pela dignidade do paciente e resguardar o sigilo profissional. Também cabe ao profissional manter um comportamento digno e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da odontologia, pelo prestígio e bom conceito da profissão.
O artigo ainda considera como infração o ato de fazer publicidade e propaganda enganosa, abusiva, inclusive expressões ou imagens de antes e depois, preços, gratuidade ou outras formas que impliquem a comercialização da odontologia. Para além do Código, a lei federal nº 5.081, que regula a profissão do cirurgião-dentista, proíbe expor em público os trabalhos odontológicos e usar os artifícios da propaganda como forma de granjear clientela.
Ainda assim, na mesma velocidade em que a foto de um resultado bonito viraliza nas redes sociais, cresce o número das vítimas de profissionais mal intencionados. A sociedade precisa compreender que nem sempre uma foto bonita é prova de que o trabalho está sendo corretamente desempenhado. Isto é, se um profissional da saúde divulgou a foto de um resultado, ele já está errado, por mais convincente que seja aquela imagem.
Em 2017, o Conselho Regional de Odontologia de Mato Grosso (CRO-MT) recebeu mais de 100 denúncias por publicidade irregular com imagens de “antes e depois”. Na constatação da irregularidade, foram abertos processos disciplinares ou assinados termos de ajustamento de conduta.
Com a missão de esclarecer não apenas a sociedade, mas também a classe profissional, o CRO-MT realiza a capacitação de acadêmicos de odontologia e cirurgiões-dentistas de todo o estado. A questão moral é, inclusive, amplamente discutida pelo presidente da Comissão de Ética e pelo assessor jurídico da autarquia.
Ao desempenhar a função de fiscalizar e esclarecer, o Conselho mune e blinda a população com informações fundamentais. Assim, esperamos que sociedade dê um menor peso à visibilidade digital e entenda que, antes de qualquer coisa, é preciso checar a formação, especialidade e regularidade dos profissionais. Mesmo numa era em que a popularidade nas redes é ovacionada, acreditem, likes não dizem muita coisa.
Luiz Evaristo Volpato é presidente do Conselho Regional de Odontologia de Mato Grosso (CRO-MT)
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