
Guaidó, que pertence ao partido Vontade Popular, do líder oposicionista Leopoldo López, foi interceptado por agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) na rodovia entre Caracas e La Guaira, onde participaria de um protesto contra o governo.
Um vídeo divulgado nas redes sociais mostrou vários agentes cercando o automóvel do parlamentar e o colocando à força dentro de um carro. Mais tarde, o próprio Guaidó enviou uma mensagem de celular a colaboradores e membros de seu partido informando que estava livre.
"Estão desesperados em Miraflores [sede do Executivo em Caracas], não sabem nem quem deu a ordem. Estes funcionários não sabiam o que faziam", declarou Guaidó após chegar com duas horas de atraso ao protesto.
Ele disse ter falado aos agentes que o detiveram sobre a lei de anistia que será debatida no parlamento para perdoar os crimes cometidos pelos dirigentes do regime que governa a Venezuela desde 1999, com a chegada do ex-líder Hugo Chávez ao poder. "Vocês, oficiais, sabem que Maduro não protege ninguém. O que protege é a lei de anistia da Assembleia Nacional, o que protege é o Estado de Direito."
Guidó renovou o apelo por uma "mudança efetiva de governo" e voltou a convocar a população a participar de uma manifestação no próximo dia 23 pelo não reconhecimento do novo mandato de Maduro, que assumiu sob protestos e condenações internacionais na última quinta-feira. "Eles não serão capazes de silenciar o grito da mudança", disse o parlamentar.
O ministro venezuelano de Comunicação e Informação, Jorge Rodríguez, negou que o governo tenha responsabilidade sobre a prisão do presidente da Assembleia Nacional e disse que os agentes que o detiveram agiram de forma independente. "Queremos informar a todo o povo da Venezuela que esses funcionários estão sendo destituídos e submetidos a um procedimento disciplinar mais estrito", disse o ministro.
Rodríguez explicou que os agentes "atuaram de maneira irregular" e que teriam participado de um "show midiático", utilizado pela oposição para atacar o governo. Também foram temporariamente detidos correspondentes das emissoras CNN e Caracol que haviam se dirigido à sede do Sebin para obter informações sobre o ocorrido.
Os países que compõem o Grupo de Lima, entre eles o Brasil, condenaram a prisão de Guaidó, rejeitando qualquer ato que afete a integridade física dos membros da Assembleia Nacional. Em nota divulgada pelo Ministério brasileiro das Relações Exteriores, as 13 nações condenaram a "detenção arbitrária" efetuada pelos serviços de inteligência da Venezuela.
Guaidó defende convocação de novas eleições
Na última sexta-feira, após Maduro tomar posse, Guaidó disse que estava pronto para assumir a presidência do país interinamente e convocar novas eleições. Ele pediu o apoio das Forças Armadas, da população e da comunidade internacional para que isso ocorra.
Maduro se reelegeu no ano passado em eleições amplamente criticadas. A legitimidade de seu segundo mandato foi questionada pela oposição venezuelana e por vários governos estrangeiros que não reconhecem o resultado do pleito.
A maioria da oposição venezuelana não participou das eleições, ou porque a considerava fraudulenta ou porque seus principais líderes estavam presos ou impossibilitados de concorrer. A presença de observadores internacionais não foi permitida.
Guaidó, de 35 anos, acusou Maduro de usurpar a presidência e afirmou que a Assembleia Nacional se baseará na Constituição para assumir o comando do país. Ele, porém, reconheceu as limitações da oposição para realizar uma mudança de governo na Venezuela.
Eleita em 2015 com maioria opositora, a Assembleia Nacional não tem conseguido exercer suas funções desde 2016. As decisões dos parlamentares não chegam a virar lei, e eles só se reúnem quando a Assembleia Nacional Constituinte – órgão plenipotenciário instalado por Maduro em 2017 e não reconhecido por potências estrangeiras – não está em sessão.
O Itamaraty declarou apoio às intenções do líder da oposição. "O governo brasileiro saúda a manifestação do presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, de estar disposto a assumir constitucionalmente a presidência da Venezuela, diante da ilegitimidade da posse de Nicolás Maduro no dia 10 de janeiro", afirmou a chancelaria brasileira após as declarações de Guaidó.
Maduro, por sua vez, disse que essas ações são uma tentativa de desestabilizar seu novo governo e que foram encabeçadas pelo mesmo grupo que promoveu os protestos de 2017, que deixaram mais de 100 mortos.
"Enquanto estamos trabalhando todo o tempo, há mentes loucas, mentes improvisadas, mentes imaturas que estão à frente da oposição, vendo o que inventar, desesperadas", afirmou Maduro, destacando que seguirá cumprindo as funções para as quais foi eleito.
A Venezuela passa por uma profunda crise social, política e econômica, com inflação de quase 1.700.000% ao ano, além da falta de alimentos e remédios e da fuga de 3 milhões de habitantes, a maioria para a Colômbia e o Brasil. Maduro acusa os Estados Unidos, países aliados de Washington e empresários venezuelanos de travarem uma "guerra econômica" contra o seu governo.
RC/dpa/lusa/efe/cp
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