
Desde logo, sabia-se que por lei, a nomeação de Bento Lobo só valeria após a ratificação do ato pela Assembleia Legislativa do Estado. Ocorre que o parlamento estadual estava em recesso, o que tornava impossível a ratificação da indicação de Bento Lobo e consequentemente a sua posse. Outro erro teria sido a de nomear um novo prefeito antes da publicação oficial da exoneração do desafeto do Governador. Por fim, era a Câmara quem dava posse ao prefeito, e ela era de maioria da Arena, partido do presidente Valdevino de Amorim, indisposto a aceitar a vontade do Governador.
O Presidente da Câmara não reconheceu como correta a nomeação de Bento Lobo. Disse que não se tratava de uma luta pelo poder, mas sim de cumprimento legal e respeito ao poder legislativo. Sendo assim, resolveu recorrer à Justiça. Temendo a demora e indefinição de uma sentença judicial, Valdevido de Amorim levou toda a sua bancada para aquela sessão extraordinária e expôs o transtorno político que adveio com a nomeação de um novo prefeito. Invocando os ditames legais, tomou posse como prefeito de Cuiabá. A cidade, a partir de então, passava a contar com dois prefeitos, um nomeado pelo Governador e o outro pelos vereadores arenistas, sob protestos da oposição (MDB), com certo clima de tensão, inclusive de possível intervenção de Brasília.
Valdevino de Amorim comunicou à imprensa, ao Governador e ao povo que ele era o novo prefeito municipal. Entretanto, não verificamos na pesquisa qualquer medida administrativa efetiva do autodenominado prefeito constitucional à frente do Executivo municipal. Da mesma forma, Bento Lobo não demonstrava um efetivo comando do Executivo, e por poucas vezes foi à sede da prefeitura. A indefinição preocupava a população, receosa do destino da cidade no ano do seu significativo aniversário.
As atenções voltaram-se para a Assembleia Legislativa. Ela só retornaria do recesso no dia 15 de março e o seu presidente não demonstrava a intenção de convocar os deputados antes dessa data. Enquanto isso, fervilhavam debates no meio político e popular. De um lado, a legalidade dava respaldo à atitude do vereador Valdevino de Amorim, de outro, a certeza de que Bento Lobo seria acreditado pela Assembleia, recomendava uma posse antecipada.
Reaberta a Assembleia Legislativa, a sua Comissão de Constituição e Justiça acolheu por 5 a 2 votos a indicação do Governador. Finalmente, no dia 24 de março, poucos dias antes do aniversário da capital, em meio a acalorados discursos e protestos nas galerias da Assembleia Legislativa, já no tardar da noite, os deputados estaduais referendaram Bento Lobo como o novo prefeito da capital.
Bento Machado Lobo foi até à Câmara no dia 27 de março para ser empossado. Já o vereador Valdevino de Amorim renunciou ao seu mandato de vereador no dia anterior, sentindo-se de certa forma traído pelos outros Edis, voltando a dedicar-se à advocacia.
Foi assim, de forma tumultuada, após uma atitude insensata e despótica do Governador, que os cuiabanos quase ficaram sem uma mão para cortar o bolo dos 250 anos da cidade.
Danilo Monlevade
Diretoria de Cultura, Resgate Histórico e Eventos
Fonte: Acervo da Câmara Municipal de Cuiabá
culturacmc@hotmail.com
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