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terça-feira, 12 de março de 2019

"Branquitude e Privilégio"

Resultado de imagem para Denise Carreira é mestre e doutora em educaçãoOs anos de 1990 marcaram a emergência dos estudos sobre branquitude nos Estados Unidos, constituindo um campo denominado critical whiteness studies (estudos críticos sobre branquitude), o que transformou o país no principal centro de pesquisas no mundo. Sobretudo a partir dos anos 2000, produções acadêmicas ganharam espaços em vários países, entre eles, a Inglaterra, a África do Sul, a Austrália e o Brasil. Entre os precursores dos estudos sobre branquitude, Lourenço Cardoso (2010) destaca o sociólogo negro estadunidense W.E.B Dubois (1868-1963), ao discutir a identidade racial branca em sua obra Black Reconstruction in the United States (Reconstrução Negra nos Estados Unidos), publicada em 1935. O filósofo e psiquiatra negro Franz Fanon (1925-1961), nascido na Martinica Francesa, foi um dos pioneiros na problematização da identidade racial branca, defendendo a necessidade da libertação dos brancos de sua branquitude e dos negros de sua negritude para que todas as pessoas possam gozar da plenitude da condição humana.6 O ativista negro sul africano, Stephen Bantu Biko (1946-1977), também é considerado um dos precursores da reflexão sobre a branquitude, abordando o lugar dos brancos na África do Sul durante o regime do apartheid (1948-1994).7
A obra Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador (1957), de Albert Memmi, pensador francês nascido na Tunísia, ao tratar da importância de problematizar o lugar do opressor nas relações coloniais, é considerado uma referência para a emergência dos estudos sobre branquitude.8 Na perspectiva desse processo de deslocamento da problematização dos oprimidos para os opressores, movimento que representa uma verdadeira virada epistemológica, ganha espaço nos anos de 1990 os estudos sobre masculinidades dentro de campo de estudos de gênero, promovido por pesquisadoras feministas e LGBTs. Um dos trabalhos inovadores é da teórica australiana Raewyn Connell, pesquisadora trans que propôs o conceito de masculinidades hegemônicas e contra-hegemônicas.
No Brasil, o sociólogo negro Guerreiro Ramos é considerado o precursor de estudos na década de 1950 sobre branquitude questionando o fato dos estudos sobre relações raciais no país até então se limitarem a investigar a população negra. Cardoso identifica no termo “brancura” utilizado por Guerreiro Ramos em seu ensaio “Patologia social do branco brasileiro” (1957) o significado contemporâneo dado ao conceito de branquitude, algo que ultrapassa os traços físicos.9 Para Ramos, a patologia social dos brancos brasileiros consistiria na negação: de pessoas com qualquer ascendência biológica ou cultural negra; da própria ascendência negra; e da influência da população negra na construção do país.
Em 1962, Gilberte Freyre utiliza pela primeira vez o termo branquitude no sentido de identidade racial branca, mas tendo como base o questionamento dos termos negritude e branquitude por considerar que eles estariam vinculados a uma lógica dual que não se aplicaria à realidade brasileira, caracterizada pelo o autor por uma democracia racial decorrente da mestiçagem.
Se por um lado, Florestan Fernandes, Otávio Ianni e outros intelectuais da escola paulista de sociologia questionaram o mito da democracia racial promovido por Freyre, explicitando a violência, as desigualdades e os inúmeros conflitos que caracterizam as relações raciais nada harmônicas no país e abordando a integração precária da população negra na sociedade de classes, por outro lado, estes intelectuais são criticados por não problematizarem o lugar dos brancos na construção e na manutenção do racismo no Brasil.
Segundo levantamento realizado pelo pesquisador Lourenço Cardoso10 da produção acadêmica brasileira sobre relações raciais entre 1957 e 2007, foi a partir dos anos 2000 que os estudos sobre branquitude no Brasil emergem e passam a construir um campo de estudos, tensionando a invisibilidade racial e o silenciamento histórico sobre o lugar dos brancos nas pesquisas sobre racismo no Brasil.
Em meu trabalho nos últimos catorze anos, o primeiro e mais importante aspecto que chama a atenção nos debates nas pesquisas, na implementação de programas institucionais de combate às desigualdades é o silêncio, a omissão ou a distorção que há em torno do lugar que o branco ocupou e ocupa, de fato, nas relações raciais brasileira. A falta de reflexão sobre o papel do branco nas desigualdades raciais é uma forma de reiterar persistentemente que as desigualdades raciais no Brasil constituem um problema exclusivamente do negro pois só ele é estudado, dissecado, problematizado.11
Entre as autoras e autores sobre branquitude no Brasil, destacam-se Edith Piza, Cesár Rossato e Verônica Gesser, Maria Aparecida da Silva Bento, Liv Sovik, Lúcio Otávio Alves Oliveira, Lourenço Cardoso, Lia Vainer Schucman, Ana Helena Passos, entre outras e outros. As investigações dessas autoras e autores negros e brancos abordam desde a constituição e a manutenção dos privilégios brancos na sociedade brasileira a como as pessoas brancas se constroem socialmente como brancas, ao mesmo tempo que não se reconhecem como grupo racializado no Brasil; do poder branco sobre os outros grupos racializados, seus efeitos e materialidades aos entrelaçamentos das dimensões subjetivas com as estruturas de poder social; de como são percebidas e vivenciadas as hierarquias raciais pelas pessoas brancas às diversidades, desigualdades, pactos, alianças e os conflitos internos ao grupo branco, entre outros aspectos e dimensões da branquitude. Ao longo dos últimos anos, as abordagens sobre branquitude vão se tornando mais complexas, diversas e contextuais.
Denise Carreira é mestre e doutora em educação pela Universidade de São Paulo. Integra o colegiado de organização da Ação Educativa e da Plataforma DHESCA. Feminista, foi coordenadora da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Relatora Nacional para o Direito Humano à Educação. A convite do Fundo Malala, integra a Rede Internacional Gulmakai, de defensoras do direito à educação de meninas e mulheres. Sobre a agenda racial, integrou o Grupo Interministerial que elaborou documento preliminar do Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação das Relações Étnico-Raciais e é coautora das publicações Indicadores da Qualidade na Educação: Relações Raciais na Escola, o Ministério Público e a Igualdade Étnico-Racial na Educação, entre outras.

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