
Sombras e medos que, em ocasiões, deixam lugar à esperança. A posição adotada por El Salvador é uma delas. Um país que, ainda que pequeno e em razão de suas dimensões não conta com a mesma problemática ambiental que outros países maiores da América Latina, deu as costas à mineração, promulgando uma lei que proíbe e que aposta em um desenvolvimento que não consuma ainda mais a Mãe Terra. “É um desafio forte para nossos países, que são maiores e têm uma relação maior com a mineração, ver como passar de um extrativismo saqueador e destrutivo à mineração essencial. Como reduzir para que a mineração responda unicamente às necessidades dos povos e não mais ao interesse financeiro de capital das grandes corporações?”, interroga Bossi, “contribuir para essa mudança é o nosso propósito”.
Trabalho em três dimensões
O trabalho da Rede Igrejas e Mineração se coloca em vários cenários. O primeiro deles é na articulação entre territórios e comunidades para que não se sintam ilhados. “Esse é o problema maior porque, frente às gigantes da mineração, muitas vezes aliadas ao Estado, uma comunidade pequena se sente impotente”, expõe o padre Bossi, “porém quando começa a entender que os mesmos danos, as mesmas reivindicações vêm de outras comunidades irmãs, isso a empodera, lhe dá inspiração e força”.
A segunda dimensão, ou âmbito, é a nível interno, nas próprias igrejas. Dialogar e falar com as hierarquias, os padres, os bispos, as ordens religiosas e demais atores. Nesse caso se trata, sobretudo, de assessorar “para que entendam como a Igreja pode ajudar uma comunidade afetada e como se relacionar com as empresas para não cair no erro de se fazer amigo de alguém que te promete somente alguns poucos benefícios em troca de impactos violentos sobre muita gente”.
Um terceiro cenário chave é o da incidência política sobre as empresas. Nisso o desafio é complexo de enfrentar e resolver, porque “como fazer para que essas empresas respeitem finalmente a vontade das comunidades, seus direitos e os da mãe natureza?”.
Articulação intercontinental
Ainda que a maior parte de sua atividade se centre na América Latina, onde surgiu depois o primeiro encontro desenvolvido em Lima, em novembro de 2013, a Rede Igrejas e Mineração, pouco a pouco, vai tecendo novas relações ao redor de todo o mundo. O crescimento é livre, intuitivo, não existe uma inscrição ou afiliação. “Articulamos em vários países da América Central, no Equador, Colômbia, Peru, Brasil, Argentina e Chile e temos também a necessidade de dialogar com a América do Norte, onde muitas empresas mineradoras têm sede, porém onde também existem muitos movimentos sensíveis e aliados, da mesma forma que falamos com a Europa”, explica Bossi. Inclusive, conta, no ano passado foi realizado um fórum social sobre a mineração na África do Sul, onde surpreendentemente se confirmou a semelhança em problemáticas que também são vividas nos países africanos e a necessidade de intercambiar experiências com as igrejas latino-americanas. A abertura, assegura o coordenador, é total.
A reportagem é de Mónica Villanueva e Beatriz Garcia, publicada por REPAM e Caminho Político. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
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