
Nos distintos níveis do Executivo português, entre entradas e saídas, passaram ou ainda estão no governo 27 pessoas unidas por vínculos familiares, envolvendo um total de 12 famílias, segundo o Jornal de Negócios. "Mérito ou nepotismo?”, pergunta o veículo.
Após mudanças recentes, o Conselho de Ministros de Costa tem entre seus membros um casal - o ministro de Administração Interna, Eduardo Cabrita, e ministra a do Mar, Ana Paula Vitorino - e um pai e uma filha.
Em fevereiro, Mariana Vieira da Silva tornou-se o braço-direito do primeiro-ministro, ocupando o cargo de ministra da Presidência. Com isso, ela adquiriu maior peso político que o seu pai, o ministro do Trabalho, José Vieira da Silva.
Além disso, a esposa do ministro de Infraestruturas é a nova chefe de Gabinete do secretário de Estado Adjunto, que tem como colaborador o filho de um reconhecido dirigente socialista.
A lista não termina: a mulher do ministro do Meio Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, foi chefe de Gabinete do secretário de Estado de conservação da Natureza até alguns meses atrás.
O marido da ministra da Justiça, Francisca van Dunem, preside uma comissão na cidade de Sines, que possui um porto chave para o país.
Uma assessora do primeiro-ministro é cunhada da número dois dos socialistas, Ana Catarina Mendes, que, por sua vez, é irmã do secretário de Estado de Assuntos Fiscais. Outro ex-assessor de Costa tem dois filhos em altos cargos técnicos.
"Um primo aqui, um irmão e a mulher acolá. Mesmo o Conselho de Ministros parece uma ceia de Natal", criticou Rui Rio, líder do Partido Social Democrata (PSD, de centro-direita), que chegou a pedir uma "sanção política" perante esta "avalanche".
A controvérsia chegou até o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa - também conservador - que, quando questionado pela imprensa, optou pela via diplomática: "A família do presidente não é presidente", disse. "Não é bom misturar família com política", completou, em entrevista ao jornal Expresso. "Não me apareçam com mais nomes", finalizou, dizendo, ao mesmo tempo, que "há sempre exceções à regra".
O presidente pediu cuidado com as próximas nomeações no governo. Rebelo de Sousa, filho de ministro e experiente na política, citou como exemplo a gestão de Aníbal Cavaco Silva (PSD), que tinha relações familiares com quatro membros de seu conselho.
Segundo Rebelo, Cavaco Silva “ponderou a qualidade das carreiras e o mérito para o exercício das funções" na ocasião. O presidente lembrou ainda o exemplo do ex-presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy, que nomeou o irmão como ministro da Justiça.
A Coordenadora Nacional do partido socialista Bloco de Esquerda e aliada de Costa, Catarina Martins, pediu uma "reflexão ao governo". Em reação, o líder parlamentar socialista, Carlos César, recomendou-lhe que olhe para as "abundantes e diretas" relações familiares no seu próprio partido, onde os sobrenomes em comum existem de sobra.
"É natural que, em determinadas famílias, onde a vocação se multiplica, as pessoas tenham um compromisso cívico similar", defende César, cuja família é um exemplo disso. O seu filho Francisco ocupa o mesmo cargo do pai, mas nos Açores.
Para os portugueses, famílias com "pedigree" político não são uma novidade. Assim como os nomes que cresceram com a democracia e continuam na ativa, como António Guterres ou o próprio Costa. Afinal, como reconheceu nesta semana a dirigente do Bloco de Esquerda, Portugal é um país pequeno.
Mas, como advertiu também Catarina Martins, "a democracia precisa de mais espaço para respirar".
PJ/efe/cp
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